No passado, o javali teve sua importação autorizada pelo Ibama, favorecendo sua criação em vários estados e se espalhando por quase todo o País antes de sua criação ser proibida. Ocorre que o javali ataca plantações, animais e seres humanos, o que o levou a ser classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza como uma das 10 piores espécies exóticas invasoras em todo o mundo. Como não são submetidos a vacinação, acabam contaminando as criações de porcos com doenças graves, condenando os rebanhos, que não podem mais ser comercializados e devem ser sacrificados, causando enormes prejuízos para os produtores rurais. A preocupação é tão antiga que o abate de pragas como o javali já era prevista pela Organização Mundial de Saúde Animal desde 1924.
Não bastasse o absurdo de haver permissão para a criação desta praga no Brasil, o Ibama também decidiu suspender o “controle populacional por meio da captura e do abate”, transformando o Brasil no único país a proteger oficialmente uma peste invasora. As consequências são as piores possíveis, e já há registro de pessoas atacadas, além do sacrifício, pela Agência Estadual de Defesa Sanitária, de vários porcos que contraíram a doença de Aujeszky. Assustados com a falta de uma estratégia de vigilância sanitária adequada e com a proliferação de doenças, países como a Rússia e a Argentina param de comprar nossa carne, causando prejuízos de milhões de reais por ano para a economia brasileira e levando o Rio Grande do Sul a lançar sua própria estratégia para controlar a peste. Porém, enquanto estados como o Rio Grande do Sul se esforçam para abater o maior número de javalis, os estados onde ainda não existem políticas de controle da praga se tornam verdadeiros oásis. Portanto, não há como falar em controle de javali no Brasil enquanto não for lançada uma norma nacional, que submeta todos os estados às mesmas regras, e atraindo novamente a confiança do mercado internacional sobre qualidade da carne produzida no Brasil.
Médico-veterinário, ex-diretor Superintendente do Zoológico/RS e ex-presidente da Fundação Zoobotânica/RS