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INOVAÇÃO

- Publicada em 25 de Setembro de 2012 às 00:00

Rio Grande do Sul terá dados sobre economia da cultura


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
A inserção da economia da cultura nos indicadores da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e a decisão da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) de financiar uma pesquisa sobre o tema, colocam o Rio Grande do Sul à frente de uma diretriz do governo federal. Até o final do ano, será apresentado o primeiro estudo mostrando o impacto da economia criativa e cultural na economia local e a ligação dessas atividades com os setores tradicionais, como a indústria de transformação e o comércio.
A inserção da economia da cultura nos indicadores da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e a decisão da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) de financiar uma pesquisa sobre o tema, colocam o Rio Grande do Sul à frente de uma diretriz do governo federal. Até o final do ano, será apresentado o primeiro estudo mostrando o impacto da economia criativa e cultural na economia local e a ligação dessas atividades com os setores tradicionais, como a indústria de transformação e o comércio.
A iniciativa corresponde ao que a União pedirá aos estados no próximo mês. Em outubro, o Ministério da Cultura deve lançar um edital para a implantação de observatórios estaduais da economia criativa. Segundo Luiz Antônio de Oliveira, diretor de Desenvolvimento e Monitoramento da Secretaria Economia Criativa (SEC), a proposta é fomentar parcerias entre os governos estaduais e as universidades públicas para mapear os setores criativos. Esses trabalhos serão, posteriormente, conectados ao Observatório Brasileiro da Economia Criativa (Obec), criado em junho pela SEC.
Oliveira destacou que o governo federal irá investir R$ 13,5 milhões para a implantação dos observatórios (verba que deverá ser dividida entre todos os estados) e, a partir de 2014, terá mais recursos para a continuidade das pesquisas. Ele estima que cada unidade da federação irá receber entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. Nesse primeiro levantamento gaúcho, financiado pela AGDI, foram aplicados R$ 150 mil.
Leandro Valiati explica que, nessa fase inicial, o ponto central é definir a metodologia para que o número do Rio Grande do Sul possa ser comparado aos levantamentos já feitos por outras entidades, como a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Ele pondera que há uma dificuldade generalizada em definir o que é ou não economia da cultura ou economia criativa. “Podemos ampliar o entendimento e chegar à conclusão de que toda a economia é criativa, quando inclui a inovação, por exemplo, ou dizer que só faz parte da economia da cultura aquilo que é relacionado ao núcleo de valor simbólico e cultural. Nesse momento, o esforço é para calibrar modelo e garantir que o número seja eficiente e comparável.”
Como parte desse trabalho, a FEE promoveu ontem um ciclo de debates com a participação dos economistas Pau Raussel-Köster e Raul Abeledo, ambos da Universidade de Valência (Espanha) e considerados referências mundiais no tema. Eles mostraram como a economia cultural é vista atualmente na Europa e quais os caminhos que estão sendo tomados naquele continente para criar modelos econômicos de desenvolvimento a partir da economia criativa.
Segundo Köster, um dos grandes riscos da cultura é o que em italiano se chama buonismo, o preconceito de que tudo o que é relacionado à cultura seja entendido preconceituosamente como bom. Com isso, ele afirma que aumentam os riscos de tomadas de decisões menos técnicas e menos democráticas e se perpetuam ações ineficazes. “Na Espanha, quando é empossado um ministro da Cultura, se celebra com uma festa para a qual são convidados agentes culturais, como atores e diretores. Se isso fosse feito na área da habitação, se o ministro celebrasse sua posse com uma festa para construtores e empreiteiros, seria escandaloso”, exemplificou, ao lembrar que toda política de fomento cultural deve ser voltada para o público final.
Segundo o pesquisador valenciano, na Espanha, a cultura e a indústria criativa representam hoje 2,85% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média europeia é de 3,7% (com destaque para o Reino Unido, onde as atividades estão presentes em 5,72% da riqueza gerada). Mas o fundamental, disse ele, é que apesar de as pesquisas ainda não explicarem se há relação de causa e efeito, é possível verificar que as regiões que lidam melhor com a crise são aquelas onde há mais gente trabalhando com cultura.
“Observamos que a variação de 1% no número de ocupados no setor determina o incremento de mil a 1,6 mil euros na renda por habitante da região”, detalhou ele ao lembrar que normalmente os empregados na área cultural não são os que ganham mais, mas ainda assim apresentam um alto nível de satisfação com o trabalho.

País deve planejar e investir paralelamente, afirma especialista

O economista e professor da Universidade de Valência Pau Raussel-Köster defendeu que o trabalho de planejamento estratégico e definição das melhores práticas, por tentativa e erro, devem ser feitos em paralelo. Para ele, planejar e ter responsabilidade com os efeitos finais das políticas públicas devem substituir a visão antiga de que tudo o que é relacionado com cultura é bom.
Jornal do Comércio - Que erros a Espanha cometeu, na indústria cultural, e o que se pode recomendar para que o Brasil não os repita?
Pau Raussel-Köster - Basicamente, a aproximação aos processos de investimento foram absolutamente ‘ocorrenciais’, o que ocorria a alguém em algum momento, era feito. É um modelo contrário ao que nós defendemos, que requer um planejamento com definição de objetivos e, no caso espanhol, foi incapaz de se conectar com o território. Incluiu intervenções com um nível de investimento estratosférico. Em Valência, o investimento na Cidade das Artes e das Ciências foi superior a € 1,3 bilhão. Uma absoluta barbaridade, sem nenhuma percepção local de porque fazer isso ou a quem beneficiaria. Foi ‘ocorrencial’, ‘iluminado’. Uma espécie de bebedeira difícil de entender. Estivemos muitos anos pedindo informação, gerando informação e dizendo que isso não serviria para nada e efetivamente não serve.
JC - Antes, os setores culturais eram mais bem definidos: cinema, teatro e literatura. Agora, aparentemente tudo pode ser entendido como um bem cultural. Será possível que tenhamos um conceito mais claro?
Köster - Sim, chegará o momento. É necessário um processo de decantação e consolidação, imagino que algumas coisas que consideramos hoje, não serão consideradas no futuro e outras, que não consideramos agora, serão incluídas. É um processo natural e existem também as modas, algumas persistem e outras desaparecem. Estamos nesse processo, que avançou muito desde meados dos anos 1990.
JC - O acesso à internet é, de fato, o que pode significar um avanço na economia da cultura?
Köster - É uma condição necessária, mas não suficiente. O acesso à internet permitiu um processo de democratização da criação cultural. Agora você não precisa de uma gravadora que te diga se você pode ou não editar um disco. Se você tem talento e conhecimento, você pode fazer. Portanto, a internet proporcionou uma verdadeira revolução, nós a comparamos com a revolução do transporte para a aparição do capitalismo industrial e comercial.
JC - Qual a influência da questão dos direitos autorais e da pirataria sobre a indústria criativa e cultural?
Köster - A apropriação do valor econômico da criação também é uma questão que teremos de resolver. Até agora, estamos gerando pouco valor econômico com a produção cultural. Temos um sistema de distribuição baseado nos direitos de autor tradicionais que mais ou menos nos serviu pelos últimos 300 anos. Mas agora o bolo ficou maior e tem sentido que pugnemos pela distribuição. Quem tem direito de se apropriar do valor econômico da produção simbólica? Isso tem uma dificuldade, no âmbito da produção física já havíamos resolvido a quem atribuir o direito à propriedade: ao proprietário dos meios de produção e logo ao mercado de intercâmbio. Agora é preciso definir quem gera valor do processo de criação e distribuição e é uma questão complexa, porque é um processo de construção social. Tão importante é o criador quanto é a audiência. O valor de uma música aumenta com o número de pessoas que a escutaram. Portanto, definir como distribuir é mais complicado e essa questão não foi resolvida. Estamos em plena discussão. Isso se decantará na próxima década, mas não me atrevo a dizer como.
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