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educação

- Publicada em 24 de Setembro de 2012 às 00:00

Esquenta a briga pela clientela de Ensino Superior


FREDY VIEIRA/JC
Jornal do Comércio
Grupos nacionais e internacionais que ingressaram no mercado de Ensino Superior privado gaúcho nos últimos anos garantem medir forças em pé de igualdade com operadores locais, o que inclui a promessa de entregar qualidade. O confronto neste segmento está ancorado na aposta de que cada vez mais jovens entre 18 e 24 anos, principalmente os de renda mais baixa, desejarão cursar uma faculdade para elevar a empregabilidade e, claro, a remuneração. Nesta faixa, menos de 30% da população local está fazendo uma graduação.
Grupos nacionais e internacionais que ingressaram no mercado de Ensino Superior privado gaúcho nos últimos anos garantem medir forças em pé de igualdade com operadores locais, o que inclui a promessa de entregar qualidade. O confronto neste segmento está ancorado na aposta de que cada vez mais jovens entre 18 e 24 anos, principalmente os de renda mais baixa, desejarão cursar uma faculdade para elevar a empregabilidade e, claro, a remuneração. Nesta faixa, menos de 30% da população local está fazendo uma graduação.
Para acirrar a disputa, o setor não deve repetir a expansão que marcou a metade da década passada, quando cresceu a taxas médias no Brasil de dois dígitos (até 25% ao ano). Uma das principais consultorias em ensino no País, a Hoper, projeta elevação entre 3% a 7% ao ano.
Para alcançar o patamar de 10%, o boletim de análise da consultoria aponta como crucial o empurrão do governo federal para reduzir a ociosidade na ocupação de vagas. Os números de ingressos de 2010 no Brasil (último Censo da Educação) mostram que apenas quatro de cada dez vagas presenciais das instituições particulares estavam preenchidas. No Estado, o retrospecto é “menos pior”, com 50% da oferta ocupada. O ramo particular responde por 80% das matrículas do Ensino Superior local, que chegaram a 353,6 mil.
“Com mais renda, cresce a busca pela formação. E o governo tem interesse em melhorar a educação, por isso deve investir mais”, opina o engenheiro Rodrigo Ximenes Sécca, do Departamento de Operações Sociais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). A injeção federal deve vir por meio do aumento do crédito via Fies. O impulso pode fazer diferença no ensaio de bater em 10 milhões de matrículas até 2020 entre presenciais e de ensino a distância (EAD). Em estudo sobre o setor, Sécca lembra que players da bolsa de valores ostentam boas avaliações pelo Ministério da Educação (MEC) e que o momento é de consolidar espaço e medir competência.
Os grupos de fora pretendem se apropriar da qualidade do ensino gaúcho, que tem fama nacional, para se firmar na vitrine. Não é por nada que o mercado do Estado ostenta a maior média (R$ 776,53) de mensalidade em 2012, segundo a Hoper. “O crescimento passa pela qualidade acadêmica. Quem quiser competir tem de estar preocupado com isso”, atesta Eduardo Mendonça, CEO da Uniritter, arrematada em 2010 pela Rede Laureate Brasil, pertencente a fundos americanos.
Dois anos antes, em 2008, o grupo havia comprado a Esade, agora Faculdade de Desenvolvimento Rio-grandense (Fadergs). A Uniritter dobrou de tamanho em número de cursos, e as duas marcas continuarão a abrir vagas. Um dos focos será a área da saúde, e um dos cursos, o de Medicina. “Os nossos investimentos apontam taxa de crescimento acima da média. Se isso se confirmar, vamos ganhar mais fatia do mercado”, projeta Mendonça.
“Estudamos muito o mercado gaúcho, que tem peculiaridades e é muito exigente”, revela a diretora-executiva de ensino da Estácio, Paula Caleffi, gaúcha, formada pela Pontifícia Universidade Católica do RS (Pucrs) e que foi gestora da Unisinos antes de trocar Porto Alegre pelo Rio de Janeiro, sede da companhia, terceira do ranking do segmento que visa ao lucro. Para calibrar a entrada após comprar as Faculdades Rio-grandenses (Fargs), em agosto, por R$ 9,3 milhões, Paula adianta que a adoção da plataforma única nacional, uma das marcas do modelo Estácio e da concorrente Anhanguera, segunda do ranking, pode demorar um pouco mais. “Não vamos entrar com o pé na porta”, justifica a diretora. Quadruplicar o número de alunos da Fargs em três anos, comprar mais escolas – regiões de Caxias do Sul e Santa Cruz do Sul estão no radar – e abrir cursos de EAD integram o plano da grife. “Olhamos instituições menores, com qualidade e que estão estagnadas”, adianta a gaúcha.

Poder do ensino privado

Lucrativas
Rede Laureate Brasil
Quem é: integra a Laureate Universities, pertencente a fundos de investimento.
Estado: comprou a Esade em 2008 (agora Fadergs) e Uniritter em 2010.
Tamanho: dez mil alunos no RS, e 125 mil em oito estados. 
Planos: transformar a Uniritter em universidade e a Fadergs em centro universitário, abrir cursos EAD até 2014, ampliar graduações (saúde e tecnologia) e implantar novas unidades na Capital e em Canoas.
Anhanguera
Quem é: grupo brasileiro de capital aberto desde 2007.
Estado: entrou em 2007, soma 24 unidades.
Tamanho: Não divulga números locais. No País, são 500 polos e 358 mil alunos.
Planos: colocar em operação em 2013 o primeiro campus gaúcho, situado na zona Sul da Capital e que dependia de credenciamento do MEC.
Estácio
Quem é: grupo brasileiro de capital aberto desde 2007.
Estado: entrou em 2012, comprando a Fargs (Faculdades Rio-grandenses), por R$ 9,3 milhões.
Tamanho: 1,1 mil alunos na Fargs. No País, 260,8 mil alunos em 38 instituições em 19 estados.
Planos: abrir mais cursos (foco na área da saúde), chegar a 6 mil alunos em três a quatro anos e implantar EAD. 
Sem fins lucrativos - Comunitárias e confessionais
Comung: integram o Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas Feevale, IPA, Pucrs, Católica de Pelotas, UCS, Unicruz, Unifra, Unijuí, Unisc, Unisinos, Unilassalle, Univates, UPF, Urcamp e URI. Tem 205 mil alunos e 1,4 mil cursos. Orçamento de R$ 2,2 bilhões. Atuam independentemente.
Ulbra: 19 mil alunos em 15 unidades no País; fechou 47 cursos desde 2009, após estouro de crise e dívida tributária de R$ 2 bilhões. De um déficit de R$ 95 milhões há três anos, espera superávit de R$ 33 milhões em 2012. Quer abater passivo aderindo ao programa federal que troca vagas de Prouni por dívida.
Fórum de Faculdades Comunitárias: chamado de Comunguinho, foi criado este ano, reúne 12 faculdades em todo o Estado. Foco: troca de experiências e busca de parcerias locais com prefeituras e entidades setoriais.
ESPM-Sul: sede em São Paulo. Dos 12 mil alunos, 3 mil estão na unidade em Porto Alegre. Demais em São Paulo e Belo Horizonte. Planos: investir R$ 25 milhões até 2015 e montar incubadora de indústria criativa.

Bairrismo testa poder de fogo de grupos locais e estreantes

Grifes de mercado já sacaram que na batalha farrapa do Ensino Superior privado ignorar a cultura local pode ser imperdoável, leia-se, risco de insucesso. “Pode não saber o hino rio-grandense, mas precisa ser aceito”, previne o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do Estado (Sinepe), Osvino Toillier. Talvez por isso, a Estácio tenha adotado atenção redobrada na largada da operação com a Fargs. “O preconceito em relação a alguns grupos contamina quem é sério”, refuta Paula Caleffi, da Estácio. O diretor de integração da companhia, Ruy Chaves, que faz a transição ao lado de um dos ex-donos e diretor-geral Marcelo Mantelli, deixam claro que a meta é unir o que cada um tem de melhor. Até a troca de nome é minimizada. “Nosso foco são as pessoas.”
No outro lado da disputa, as universidades comunitárias gaúchas, que somam mais de 205 mil alunos na graduação e pós-graduação, e possuem orçamento anual de R$ 2 bilhões, planejam crescimento, seja elevando a eficiência do que já está em operação ou espraiando unidades na vizinhança. O presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung) e reitor da Feevale, Ramon Fernando da Cunha, aponta desafios para o setor como solução para o endividamento, mudanças nas regras do Prouni, maior índice de crédito por aluno e gestão mais enxuta. “Buscar receitas alternativas para aliviar a dependência de mensalidades é a saída”, indica Cunha. A Unisinos, entre as dez melhores privadas do País em ranking recém-lançado, olha menos colocações e pontuações e mais o futuro. Com mais de 32 mil alunos, a universidade combina impulso a segmentos de formação em tecnologia (com parque de empresas no setor) e a internacionalização, dois mantras do reitor, o padre Marcelo Fernandes de Aquino.
“Muitos ficam preocupados com os novos grupos. Não vamos disputar preços, se não teríamos de decapitar pesquisa e qualidade”, avisa o reitor, que registra R$ 100 milhões em investimentos nos últimos cinco anos. Mas avançar sobre a Capital está permitido, e desde 2005 a marca ocupa espaço no Colégio Anchieta. Até 2015, a instituição erguerá um prédio na avenida Nilo Peçanha, para suportar entre 8 mil e 10 mil alunos, com aporte de R$ 50 milhões. “A próxima onda de concorrência não será com a Anhanguera e sim com a americana Harvard, que abriu EAD de graça na internet”, previne Aquino. “Teremos de ter musculatura de gestão e inovação para fazer frente a isso.”
As endividadas terão novo suporte clínico com o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies), aprovado no Congresso e cuja troca de passivo por bolsa para alunos poderá envolver abatimento de R$ 20 bilhões no País. No Estado, a Ulbra, que já foi a maior do ramo privado local até 2009, formulou um plano que projeta aniquilar R$ 2 bilhões de débitos tributários superpovoando as salas com estudantes do Prouni. O reitor Marcos Ziemer trocou o fundo do poço da conta bancária corrente no vermelho em quase R$ 100 milhões no fim de 2009 por superávit de R$ 15 milhões até junho deste ano, e meta de R$ 33 milhões até dezembro. “Se o plano for aprovado pela Fazenda Nacional, temos tudo para voltar com força”, promete o reitor, que assumiu o posto quando a casa estava mais que ruindo, sob a tempestade de denúncias de irregularidades e excessos da família do antecessor Ruben Becker.
A volta da Ulbra não será no mesmo grau e estilo do passado. O gigante de quatro anos atrás cortou na carne, reduziu de 140 mil (maior parte era de EAD) para 60 mil alunos, extinguiu cursos, e foi proibida pelo MEC de abrir novas modalidades. Ziemer diz que as lições foram assimiladas e, neste ano, o grupo pôde retomar a vida na modalidade a distância. Enquanto espera a palavra sobre o plano de reconversão via compensação tributária, aguardada para fevereiro, o reitor antecipa que lançará em outubro nova campanha institucional. Entre as maiores comunitárias gaúchas, a Pucrs disse que não conseguiria responder aos questionamentos da reportagem no prazo de uma semana.

Anhanguera chega ao Estado e enfrenta estigma gaúcho

MARCELO G. RIBEIRO/JC
Garcia sente falta de maior contato com os professores do curso
Duas noites por semana o estudante Guilherme França Garcia deixa a casa onde reside com a avó, em Viamão, para assistir a sessões de aulas em vídeo e fazer trabalhos na turma com 60 alunos de Administração da Anhanguera, em um prédio locado na zona Norte de Porto Alegre. O sistema não era bem o que o jovem de 18 anos aspirava ao chegar ao Ensino Superior, mas é o que pode pagar – R$ 230,00 mensais. Ele foi aprovado no vestibular da Uniritter, mas o valor mais do que dobraria. “Falta mais contato com professores”, ressente-se Garcia. “É tão diferente que não sei dizer se é bom.” O jovem, que está desempregado, cogita trancar a matrícula em dezembro e fazer um curso técnico. “Será mais fácil para arranjar outro emprego. Depois volto à faculdade.”
A reação do rapaz, cujo perfil é o mais cobiçado pela Anhanguera, pode ser explicada em parte pelo conceito e nível de exigência da clientela gaúcha, sugere o dono da CM Consultoria, Carlos Monteiro. “O aluno não compra só preço”, observa o consultor. A companhia promete qualificar a operação na Capital com a estreia do campus na zona Sul. O prédio às margens da avenida Cavalhada, todo cercado e cuja construção segue o modelo de blocos usados nas moradias de baixa renda, fica vazio durante o dia. À noite, o fluxo é de inscritos para provas de EAD. Ao pisar no Estado em 2007, comprando operações, abrindo polos em diversos municípios e se associando a outras instituições, a Anhanguera foi alvo de ressalvas sobre a qualidade. Uma das suas marcas é usar o mesmo tipo de ensino nos 500 polos pelo País.
“A plataforma padronizada é crucial para grupos como Anhanguera e Estácio assegurarem escala”, justifica Monteiro. Com quantidade, é possível baixar preços, traduz Rodrigo Sécca, do Bndes. “Eles não atuam no nicho de ensino e pesquisa das públicas e grandes privadas. Atendem à demanda de mercado que mais cresce”, ressalva Sécca. O dono da CM acredita que a briga no Estado será com estabelecimentos menores, a maioria situada no Interior. No caso da Anhanguera, a tese se confirma. São mais de duas dezenas de unidades espalhadas por todo o Estado. O número de matrículas gaúchas não é revelado, pois companhias abertas não liberam dados regionais.
O vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Anhanguera, José Augusto Teixeira, afirmou, em nota, que a estreia do campus da zona Sul da Capital deve ampliar os cursos e alunos, até agora restritos ao ensino a distância. Fontes ligadas ao ensino privado no Estado apontam que, após as instituições de regiões como Pelotas e Passo Fundo terem perdido estudantes para o concorrente, muitos acabaram retornando frustrados pela formação. Teixeira negou que haja resistência à metodologia do grupo ou perda de matrículas. “Seguimos a missão de contribuir para o projeto de vida do jovem profissional, oferecendo acesso ao ensino com qualidade e conveniência.”

Instituições de ensino gaúchas vão às compras e se unem para ficar no mercado

Se os grandes se armam para manter ou expandir posições, instituições de Ensino Superior privadas de pequeno e médio porte não ficam paradas. Longe do campo minado da Região Metropolitana, o Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai (Ideau), com sede em Getúlio Vargas, cresce de forma acelerada e reproduz a receita das companhias nacionais. Para aumentar de tamanho, compra outras escolas. Foi o que fez em agosto ao arrematar quatro unidades da marca Anglo-americano em Bagé, Passo Fundo, Caxias do Sul e Chapecó, no estado vizinho. O diretor-presidente da instituição, Flávio Carlos Barro, confirma que a intenção é chegar de 3,5 mil a 5 mil matrículas no Ensino Superior em poucos anos. Hoje tem quase 2 mil. Com mensalidades entre R$ 500,00 e R$ 600,00, os donos alegam que o desafio não é preço, mas boa gestão do negócio.
“Os grupos grandes estão tomando conta e fica difícil se manter quando se é pequeno”, sugere Barro, que não revela cifras da operação e não descarta buscar parceiros fora do Estado para crescer mais. Ao escalar posições a partir de Getúlio Vargas, município de base agrícola com 16 mil habitantes, o Ideau atiçou a fome alheia. “Não interessa quem fez oferta para comprar. É como mulher que gosta de ouvir elogio, ficamos contentes, mas nos meus planos não está sair do ramo da educação”, avisa. Barro e a família, que financia a expansão, só angariaram cara feia ao comprar uma escola tradicional de uma congregação religiosa em Getúlio Vargas. “Eliminamos a ociosidade e o resultado melhorou”, confortou. O segredo para crescer e multiplicar está em fisgar jovens das redondezas, que representam 80% das matrículas. Outro trunfo é aliar a formação com jornada de trabalho, amplia Barro.
Sem o viés de negócio que visa ao lucro como o do Ideau, faculdades comunitárias com menor número de matrículas e que não pensam em aumentar de tamanho acabam de se unir. No Estado, 47, quase a metade das IES privadas, têm até 500 alunos. Se for considerada a faixa de até 3 mil matrículas, o grupo responde por 80% do segmento. Vinte delas criaram este ano o Fórum de Faculdades Comunitárias para trocar inteligência e pavimentar a sobrevivência. No setor, o time foi apelidado de Comunguinho, em alusão ao Comung, das universidades comunitárias. O coordenador do fórum, o diretor-geral das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), Delmar Backes, diz que não há intenção de unificar atuação, mas de trocar experiências.
A saída para o setor, que principalmente na Capital enfrenta a baixa ocupação de vagas em licenciaturas e está frequentemente na mira dos players de fora, é colar em segmentos que poderão demandar serviços de formação. A Faccat é a maior da família e exemplo de estratégia que estaria dando certo. A implantação do campus há 12 anos sustenta a estrutura com 19 cursos e 4 mil alunos. “Não nos preocupamos em crescer, mas em ser referência de qualidade e para o desenvolvimento regional”, resume Backes.
Cria da Unisinos, a Faccat recusou abrir unidades fora da atual cobertura e radicaliza na simbiose com prefeituras, organizações setoriais e empresas. “Estamos adaptados à realidade dos trabalhadores-alunos, mais de 50% têm algum auxílio e levarão mais tempo para se formar.” O presidente do Sinepe, Osvino Toillier, lembra que é preciso pesar o custo para manter porte maior. “Para a sustentabilidade, talvez seja preferível ficar pequeno”, sugere Toillier. “Os anos de ouro do Ensino Superior passaram. Não é mais abrir faculdade e ganhar dinheiro.”
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