Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Investimentos

- Publicada em 06 de Agosto de 2012 às 00:00

Até quando o Brasil será o país do futuro?


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Jornal do Comércio
Em 2022, quando completará o bicentenário de Independência, o Brasil deverá estar entre as cinco economias mais importantes. Terá também uma das maiores reservas de energia do planeta. O Produto Interno Bruto (PIB) saltará dos US$ 2,4 trilhões do ano passado para cerca de US$ 3,5 trilhões, avançando no caminho de chegar aos US$ 5 trilhões em 2030. Daqui a dez anos, os quase 210 milhões de brasileiros, dos quais 70% em idade produtiva - recorde de todos os tempos -, serão um mercado consumidor de fazer inveja a grandes nações e permitirão ao País começar a próxima década com a missão de deixar de ser, para realizar, a velha promessa de futuro.
Em 2022, quando completará o bicentenário de Independência, o Brasil deverá estar entre as cinco economias mais importantes. Terá também uma das maiores reservas de energia do planeta. O Produto Interno Bruto (PIB) saltará dos US$ 2,4 trilhões do ano passado para cerca de US$ 3,5 trilhões, avançando no caminho de chegar aos US$ 5 trilhões em 2030. Daqui a dez anos, os quase 210 milhões de brasileiros, dos quais 70% em idade produtiva - recorde de todos os tempos -, serão um mercado consumidor de fazer inveja a grandes nações e permitirão ao País começar a próxima década com a missão de deixar de ser, para realizar, a velha promessa de futuro.
No Executivo, não há um plano de voo oficial que vá muito além de dez anos com metas claras. Em geral, os planejamentos são do tamanho dos mandatos políticos. “A União, por exemplo, teve dificuldade de fazer parcerias com a China na área de preservação de biodiversidade, durante a Rio+20, pois só temos projetos no setor para dez anos, enquanto os asiáticos planejam as próximas três décadas”, contou a ministra Izabella Teixeira.
Integrantes da equipe da presidente Dilma Rousseff dizem que um dos grandes desafios é conciliar as políticas voltadas para a ampliação do mercado interno, com mais renda e acesso a crédito, às estratégias de sustentabilidade do País. Esta será cada vez mais a realidade brasileira nas próximas décadas. As ações do Ministério da Fazenda que consideram práticas sustentáveis ainda são residuais. Para a iniciativa privada, os maiores esforços devem estar concentrados na educação, investimentos e reformas tributária e administrativa.
“O meio ambiente está na agenda da economia, em projetos isolados, mas crescendo: o Minha Casa Minha Vida, por exemplo, amplia o número de habitações, mas já exige materiais verdes. Vantagens tributárias para automóveis mais eficientes, que estão sendo discutidas agora, será outra novidade”, diz uma fonte do governo.
Cada um dos 24 ministérios e 13 órgãos com status de ministério espalhados pela Esplanada tem um planejamento específico, que, muitas vezes, não se comunica com o dos vizinhos. A própria presidente, segundo assessores próximos, tem uma visão muito particular. O economista João Paulo dos Reis Velloso, que foi ministro do Planejamento nos governos Médici e Geisel, é sarcástico ao falar da estratégia oficial de longo prazo: “Se você souber de uma, me avise”, ironizou. “O PAC não tem nada de ruim, mas é apenas um programa. Foi depois que o planejamento virou ministério que começaram os voos de galinha”, alfinetou o economista, responsável pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), de 1975-79.
Vanessa Petrelli Corrêa, a nova presidente do Ipea, diz que, para falar do futuro, é necessário estudar o passado recente do País. O crescimento médio brasileiro nas últimas duas décadas do século passado, de 2,2%, praticamente dobraram no período entre 2004 e 2011. “Neste período, os investimentos subiram, aumentou o consumo, aproveitamos o bom momento das commodities, o governo fez uma forte política social de distribuição de renda e os bancos públicos ampliaram o crédito. O crescimento reduziu desigualdade entre as regiões, o que deve ser intensificado nas próximas duas décadas.”
O petróleo está na agenda do País com a exploração na camada do pré-sal. Esta é uma das grandes apostas do governo, que espera que o Brasil seja alçado nos próximos 20 anos ao ranking das cinco grandes reservas do planeta, que podem atrair mais de R$ 350 bilhões em investimentos até lá. Embora ainda não tenha conseguido a aprovação do projeto que distribui os recursos deste petróleo que será retirado de profundezas, até bem pouco tempo inimagináveis, governo e iniciativa privada se preparam para o futuro. O governo trabalha para que esta riqueza seja usada como uma poupança, a partir da criação do Fundo Social, que pode sair até o final do ano.
Para o economista Sergio Besserman, os recursos do petróleo têm que ser o provedor de recursos financeiros para a transição para a economia do futuro, que estará baseada na sustentabilidade.

História de planos

Primeiros passos
O marco do planejamento no País foi o Plano Quinquenal de Obras e Reaparelhamento da Defesa Nacional, de Getúlio Vargas. Seu maior resultado foi a criação da CSN.
Plano Salte e Bnde
Em 1950, o governo Dutra lançou o Plano Salte para modernizar setores considerados prioritários, mas foi logo interrompido por falta de recursos. Na mesma década, seria criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico — Bnde, ainda sem o “s” de social que sustenta hoje.
Plano de Metas
Sob o slogan “50 anos em 5”, o Plano de Metas, de 1956, consistiu de 30 metas para 5 setores da economia até 1961. A construção de Brasília foi incluída de última hora. O PIB avançou, em média, 8,2% ao ano no período. Mas o plano deixou como herança inflação de 51,9% e dívida externa de US$ 3,8 bilhões.
Plano Trienal
Em 1963, o Plano Trienal tentou restaurar o crescimento, reduzir a inflação e promover reformas de base, como a agrária. Mas o plano fracassou no conturbado ambiente político do governo Jango.
Paeg
O 1º plano do governo militar foi o Paeg, que criou uma nova fórmula salarial e favoreceu as exportações. Ele conseguiu baixar a inflação mas não restaurou o crescimento.
Plano Decenal
Em 1967, o governo Castelo Branco lançou o Plano Decenal, que estabelecia diretrizes para o crescimento até 1976. Seu objetivo maior era estimular o mercado interno. Apesar de sua visão de longo prazo, o plano acabou engavetado quando Costa e Silva assumiu a presidência.
PED
O novo governo militar lançou o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), em 1967, para estimular o crescimento até 1970 com o fortalecimento do capital privado e da consolidação da infraestrutura, como grandes estradas como a Transamazônica. As suas mudanças possibilitaram o período de forte crescimento conhecido como “milagre econômico”
Milagre
Os dois Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND) (1972-79) promoveram investimento em infraestrutura, como o petróleo. O resultado foi a continuação do “milagre econômico”, com taxas de crescimento acima de 10% ao ano. Mas a herança dos planos foi inflação e dívida incontroláveis.

Planos são de longo prazo

O “Brasil 2022”, compêndio com mais de 100 páginas elaboradas pela Secretaria de Assuntos estratégicos (SAE) da Presidência da República à época em que ainda era comandada pelo então ministro Samuel Pinheiro Guimarães, é o documento oficial que mais se aproxima de uma visão estratégica de longo prazo. Criado em 2010, ainda durante o governo Lula, o relatório vê um País ainda mais soberano, que participará em igualdades de condições de fóruns internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU e o G-20, com uma sociedade mais justa e progressista até 2022.
Ali, estão relacionados 180 sonhos, alguns vagos, outros mais precisos, mas sem os respectivos meios de torná-los realidade. A lista dos desejos que estão sendo chamados de “Metas do Centenário” inclui desde crescer a mais de 7% ao ano, reduzir pela metade o número de homicídios, dobrar o número de municípios atendidos por serviços aéreos, passando por zerar o déficit habitacional brasileiro, assegurar 100% de acesso a saneamento à população e atingir cinco livros per capita como índice de leitura nacional. Neste momento, a SAE está ampliando o que teria sido esta primeira tentativa de criar diretrizes de mais longo prazo para o Brasil. O ministro Wellington Moreira Franco conta que está sendo feito o Plano 2022 + 10. As metas devem ser conhecidas em 2013.
Somado ao enorme crescimento do mercado consumidor, que deve receber quase 20 milhões de brasileiros até 2022, os investimentos e esta projeção recorde do governo para a população economicamente ativa (70%), devem levar o País para a lista das cinco principais nações, passando Alemanha e França. No entanto, o Brasil seria ultrapassado pela Índia e ficaria em quinto. A colocação exata, contudo, dependerá do resto do mundo. Se todos crescerem, as chances de subir no ranking são menores. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, estima que o Brasil poderá ter, em 2030, um PIB entre US$ 4,497 trilhões e US$ 5,226 trilhões, dependendo se a média do crescimento do País ficar em 3,3% ao ano - primeiro cenário - ou os 3,9% de média na segunda estimativa. Os quatro primeiros do ranking serão, segundo a entidade, China, EUA, Japão e Índia.
José Augusto Coelho Fernandes, diretor de Política e Estratégia da CNI, crê que o futuro do País está nas mãos dos brasileiros. “Acredito que 70% da agenda do futuro do País estão nas mãos dos brasileiros. É claro que é melhor um ambiente de crescimento global, mas parte das nossas soluções independem disso. Precisamos de mais educação, mais inovação, de uma reforma tributária, regras trabalhistas mais modernas e mais investimentos em infraestrutura, independentemente da piora ou não da crise da Europa, da recuperação dos Estados Unidos ou do crescimento chinês”, explica.

Aposta na educação para as próximas décadas

Se há 20 anos a palavra de ordem para o futuro do País era a estabilização financeira, que veio com o Plano Real, o que ocorrerá nas próximas duas décadas no Brasil poderá ser determinado pela educação. Economistas, autoridades e pesquisadores acreditam que o tema será a chave para ter um salto de qualidade social e econômica, assegurando de vez um papel relevante no cenário mundial e garantindo uma sociedade mais justa.
“Acredito que 30% da queda do desemprego e 60% da redução da informalidade da economia nos últimos anos se justificam com o avanço da educação. Nas últimas duas décadas o País avançou na universalização do Ensino Fundamental, agora os desafios são melhorar a qualidade desse ensino e universalizar o Ensino Médio”, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), que acredita que, com os avanços do setor, outros, econômicos e sociais, virão a reboque.
Erik Camarano, presidente do Movimento Brasil Competitivo, disse que os desafios do futuro para o Brasil estão concentrados em quatro áreas: Educação, Infraestrutura, Tributária e Trabalhista. Para ele, o País ainda pode mudar sua realidade em 20 ou 30 anos, desde que decida fazer isso. “Estamos com uma das nossas melhores oportunidades históricas, com uma situação demográfica que nos dá condições muito boas. Claro que acreditamos que as mudanças poderiam ser mais rápidas e mais profundas, mas pelo menos nos alegramos em saber que o debate sobre o longo prazo no Brasil voltou a entrar na agenda da sociedade. Basta agora os governantes assumirem isso, o que seria uma forma histórica de reaproximação dos políticos com a população”, diz Camarano, que defende que as eleições sejam coincidentes, para evitar que a nação pare a cada dois anos.
A educação mais universal e de qualidade leva à inovação e poderá melhorar toda a sociedade. Na agricultura, técnicas mais modernas serão fundamentais para o grande salto de produção que é esperado pela Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ela estima que a produção de grãos saltará dos atuais 161 milhões de toneladas para 400 milhões de toneladas em 2020. “A evolução virá com boas práticas ecológicas, com muita inovação e ganhos de produtividade”, afirma Rosemeire Cristina dos Santos, da CNA.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também espera uma revolução com uma nova tecnologia, agroecológica, para mudar a lógica do setor - hoje baseado na exportação -, voltando-se para a fixação do homem na terra. Diego Moreira, integrante da direção nacional do MST, lembra que o País cada vez mais importa arroz e feijão, e exporta soja.

Nação quer transformar conhecimento em valor tangível

O Brasil é o 13º maior produtor de conhecimento científico do mundo, segundo a base de dados Scopus; teve 48.515 artigos publicados em 2011, o que representa 2,39% do que é produzido no mundo. Em patentes registradas no Departamento de Patentes dos EUA (Uspto, na sigla em inglês), no entanto, o Brasil está em 30º lugar, com 2.831 registros desde 1965. Para que o País atinja, nos próximos 20 anos, uma posição compatível com a quinta ou sexta maior economia do mundo, dizem representantes das principais instituições do setor, é preciso aprovar a destinação de parte do Fundo Social do pré-sal para ciência e tecnologia.
Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix acredita - enfatizando que é uma avaliação pessoal - que o País poderá dobrar o volume de artigos científicos, além de diversificar a produção, atualmente concentrada nas ciências agrárias. Nos últimos dez anos, a produção mais do que triplicou; era de 13.376 em 2000. “A nanotecnologia e a optrônica (que mistura eletrônica e fibras óticas) são os principais campos a serem estimulados”, afirma Arbix.
A próxima etapa na produção de artigos deve ser dar um salto em qualidade, diz o geneticista Sérgio Danilo Pena. “Somos apenas o 24º em citações bibliográficas. Infelizmente o futuro da ciência aqui ainda depende de quem é o ministro da pasta e a sua capacidade de convencer a presidência da República de que ciência, tecnologia e inovação são os principais elementos de competitividade econômica no cenário mundial.” Para alcançar a meta do governo de multiplicar por dez o número de patentes, diz o vice-diretor da Coppe-UFRJ, Aquilino Senra, o Brasil deverá demorar vinte anos.
A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, pede redução da burocracia na compra de equipamentos e insumos. “Não há como ser competitivo em tecnologia se o pesquisador precisa esperar meses para conseguir um reagente que em outros países se consegue em poucas horas, com um telefonema.”
O País tem condições de aumentar o número de pesquisadores dos atuais 138,6 mil, segundo dados do IBGE, para 450 mil em 2022, diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Jacob Palis. E, se forem criados incentivos para as empresas, ele também vê a possibilidade de ampliar o investimento público e privado em ciência e tecnologia para 3% do PIB em 2032. Hoje, é 1,1%.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO