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Publicada em 24 de Abril de 2024 às 19:38

Brasil, Portugal e a reparação de injustiças históricas

Editorial

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ARTE/JC
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A chegada dos portugueses ao Brasil há 524 anos ainda é ensinada nas escolas daqueles país de forma romântica, como se eles tivessem desembarcado no território de forma a cumprir uma missão civilizatória. O reconhecimento pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, na terça-feira, de que a história não se deu realmente dessa forma é apenas um primeiro passo para reparar injustiças históricas.
A chegada dos portugueses ao Brasil há 524 anos ainda é ensinada nas escolas daqueles país de forma romântica, como se eles tivessem desembarcado no território de forma a cumprir uma missão civilizatória. O reconhecimento pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, na terça-feira, de que a história não se deu realmente dessa forma é apenas um primeiro passo para reparar injustiças históricas.
O desembarque dos portugueses por aqui não ocorreu de forma pacífica, muito menos com o objetivo de apenas explorar o território comercialmente e expandir o cristianismo. Apenas lembrando um pouco de como a colonização realmente ocorreu, eles tomaram posse das terras, exterminaram indígenas por meio de conflitos e doenças, fomentaram o tráfico de escravos da África para cá e contrabandearam, conforme estimativas de historiadores, 800 toneladas de ouro entre outras incontáveis riquezas naturais.
O Brasil nunca pode pedir uma reparação com base no Direito Internacional, uma vez que os portugueses eram os soberanos do território, eles exerciam o poder por aqui. Para fechar com chave de ouro, o Brasil concordou em indenizar Portugal pela independência em 1822, mesmo depois de um valor incalculável em riquezas terem sido levados do País.
Portugal, que já comandou impérios de 14 colônias em quatro continentes, foi o maior traficante no comércio transatlântico de pessoas escravizadas - quase 6 milhões de pessoas. Até a abolição, em 1888, ao menos 4,9 milhões de africanos - principalmente de Gana - foram traficados para o Brasil. Ao menos 600 mil deles morreram no caminho.
Agora, ao afirmar que Portugal tem de pagar os custos pela colonização, incluindo massacres coloniais e bens saqueados, o presidente português abre uma brecha para que a história seja revista. A fala ocorre justamente em um momento em que o número de brasileiros vivendo no país europeu é recorde, assim como os casos de xenofobia.
Desde 2016, o número de legalmente estabelecidos aumentou 386%. São, agora, em torno de 400 mil brasileiros que formam uma colônia por lá, mas o número pode ser maior, já que muitos vivem ilegalmente na nação. Paralelamente a isso, Portugal registrou em 2023 um aumento de 833% de queixas de xenofobia em relação a 2017, que vão de agressões verbais à físicas. Grande parte dos ataques tem como retórica o fato de os brasileiros estarem "invadindo" o país, uma incoerência se for colocado na mesa a extensão do processo histórico colonial.
 

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