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Publicada em 19 de Abril de 2024 às 17:15

Bares e restaurantes evitam repassar inflação sobre insumos aos cardápios

Para evitar aumento de preços, proprietário da Komka foca na estruturação do cardápio

Para evitar aumento de preços, proprietário da Komka foca na estruturação do cardápio

TÂNIA MEINERZ/JC
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Miguel Campana
Os preços da alimentação dentro e fora de casa no Rio Grande do Sul não têm aumentado na mesma proporção. Isso porque, nesses primeiros meses do ano, empreendedores de bares e restaurantes não estão repassando para os consumidores a inflação do preço dos insumos, sentida no bolso dos gaúchos em qualquer ida à feira ou supermercado.
Os preços da alimentação dentro e fora de casa no Rio Grande do Sul não têm aumentado na mesma proporção. Isso porque, nesses primeiros meses do ano, empreendedores de bares e restaurantes não estão repassando para os consumidores a inflação do preço dos insumos, sentida no bolso dos gaúchos em qualquer ida à feira ou supermercado.
A medida foi adotada para evitar a perda de clientes. No entanto, acaba criando um problema para a saúde financeira dos estabelecimentos, que já vinha operando no prejuízo.
Segundo uma pesquisa recente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Estado, 45% dos empreendedores não conseguiram aumentar os preços nos últimos 12 meses. E como o valor recebido na comercialização dos produtos não compensou o custo inflacionado dos insumos, as empresas amargam perdas de caixa.
A percepção geral é de que o dinheiro tem circulado menos no caixa dos bares e restaurantes gaúchos nos primeiros meses do ano. Para o presidente da Abrasel, João Melo, diante disso, é normal que os estabelecimentos tenham mais dificuldade nesta época, marcada por férias, por exemplo. “Durante as férias, as pessoas vão para o Litoral, para a Serra ou para outros lugares. Na prática, o mês de fevereiro passa a ter apenas 15 dias úteis”, explica Melo.
Apesar desse cenário, ele acredita que um aumento hipotético nos preços nos bares e restaurantes afastaria ainda mais o consumidor dos estabelecimentos, acarretando em mais prejuízos.
A Abrasel também revelou, em um estudo, que 34% dos bares e restaurantes acumulam dívidas em atraso. De acordo com Melo, isso é um legado da pandemia de Covid-19.
“No período de incerteza sobre o funcionamento desses lugares, os donos acumularam prejuízos. Para não demitir funcionários, tiveram que fazer empréstimos ou renegociar aluguéis. Essas dívidas estão sendo pagas até hoje, e ainda vão demorar para serem quitadas no Rio Grande do Sul”, comenta.
O desafio para resgatar o movimento dos empreendimentos da área de gastronomia é grande. Para Melo, o primeiro passo seria não majorar impostos do setor. “Hoje em dia, se houver atraso no pagamento de impostos, a pessoa não consegue tirar a Certidão Negativa de Débitos. Por consequência, fica impossibilitada de pegar um empréstimo para melhorar o seu negócio, que precisa de capital de giro para crescer”, explica o presidente da Abrasel. 

Reestruturação do cardápio é uma alternativa 

Edésio Komka, o Deko, é responsável pela Churrascaria Komka desde 2000. Ele herdou dos pais o restaurante, que já soma 57 anos de funcionamento. Embora seja ponto tradicional e reconhecido em Porto Alegre, o estabelecimento também não passa ileso às alterações no preço dos insumos.
“Quando montamos o cardápio, nós fazemos a estruturação dos preços. Qualquer aumento faz com que a gente tenha uma perda. Nós somos vulneráveis à sazonalidade, às mudanças de temperatura e ao regime de chuvas. Se chover demais, por exemplo, o preço dos insumos de hortifruti fica inflacionado. Mas nós decidimos não aumentar valores no cardápio, porque às vezes são momentos isolados”, conta Deko.
Para ele, diante da proximidade da votação do projeto de lei que aumentará o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) no Estado, prevista para maio, uma alternativa seria o governo adotar uma cobrança tributária mais justa aos empreendedores, e que possibilite às empresas conseguir ter uma vida financeira mais estável e evitar prejuízos ainda maiores.
O dono da churrascaria acredita que o governo erra em cobrar impostos muito altos dos estabelecimentos. “Muitos empreendedores precisam fechar seus negócios por não conseguirem quitar a folha de pagamento e os impostos devidos”, explica. 

Plano de resgate deve ser solução, defende entidade

Em nível nacional, o setor também tem se esforçado para segurar os preços dos cardápios, apesar dos problemas econômicos enfrentados. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, divulgado pelo IBGE, a inflação atinge 3,56% dentro de casa, enquanto nos bares e restaurantes está em 1,09%.
O presidente-executivo da Abrasel nacional, Paulo Solmucci, destaca o difícil momento vivido pelas empresas e alerta para a urgência de uma solução. "Precisamos de um plano para resgate de quem está nesta situação, sem ter para onde correr. Por isso, já encomendamos à Fundação Getulio Vargas um estudo para poder mapear as soluções possíveis o quanto antes", finaliza.

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