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Publicada em 17 de Abril de 2024 às 18:30

Peça 'A Força da Arte - O Heptameron' cumpre temporada no Teatro Oficina Olga Reverbel

Comédia dirigida por Zé Adão Barbosa, a encenação A Força da Arte - O Heptameron cumpre temporada no Teatro Oficina Olga Reverbel até o próximo domingo

Comédia dirigida por Zé Adão Barbosa, a encenação A Força da Arte - O Heptameron cumpre temporada no Teatro Oficina Olga Reverbel até o próximo domingo

TOM PERES/DIVULGAÇÃO/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
O universo paralelo vivido por pessoas incultas, alienadas e milionárias é uma realidade avassaladora que se revela sempre atual e segue servindo de inspiração para escritores como Gilberto Schwartsmann. Assim como entre os anos de 1348 a 1353 Giovanni Boccaccio escreveu seu clássico Decameron, após o advento da Peste Negra, o autor gaúcho decidiu retratar uma sociedade cujo poder socioeconômico dissociado de cultura leva à crença da "imunidade às catástrofes", a exemplo do que se viu acontecer durante a pandemia de Covid-19. 
O universo paralelo vivido por pessoas incultas, alienadas e milionárias é uma realidade avassaladora que se revela sempre atual e segue servindo de inspiração para escritores como Gilberto Schwartsmann. Assim como entre os anos de 1348 a 1353 Giovanni Boccaccio escreveu seu clássico Decameron, após o advento da Peste Negra, o autor gaúcho decidiu retratar uma sociedade cujo poder socioeconômico dissociado de cultura leva à crença da "imunidade às catástrofes", a exemplo do que se viu acontecer durante a pandemia de Covid-19
A adaptação do texto para o teatro pode ser conferida no espetáculo A força da Arte - o Heptameron que, desde o último dia 11, cumpre temporada no Teatro Oficina Olga Reverbel (Praça Mal. Deodoro, s/n). As últimas sessões acontecem de hoje (18) até domingo (21), sempre às 19h. Os ingressos custam R$ 35,00 (meia-entrada) e R$ 70,00 (inteira), e podem ser adquiridos antecipadamente pelo site do Theatro São Pedro.
Schwartsmann afirma que sua peça – recentemente lançada em livro pela editora Sulina - se assemelha em alguns aspectos à história dos contos de Boccaccio, onde um grupo de sete jovens mulheres e três rapazes de Florença se isola em um castelo no campo para fugir da peste que atingiu o continente europeu em meados do século XIV. Para se distraírem, eles contam histórias uns aos outros.
Da mesma forma, A força da Arte - o Heptameron descreve o confinamento de três casais da nova elite econômica emergente, em uma mansão na Serra, durante a pandemia do novo coronavírus. "Eles vão para lá viver da luxúria, do hedonismo, do consumo de vinhos maravilhosos, tostatinhas de salmão, patê de foie gras", e, assim, se manter alheios à tragédia que assola o mundo, conta o autor. 
"Nessa montagem, a história se passa em uma mansão de 1.200 m², mas todas as ações acontecem na cozinha provençal do casarão (cenário assinado pela artista plástica Zoravia Bettiol), onde os personagens bebem e comem de forma farta, e falam 'horrores' -  são arquétipos de muitas pessoas que agiram assim na pandemia", comenta o diretor do espetáculo Zé Adão Barbosa. "É uma peça realista na estética, mas surreal no texto, pois o que eles dizem é um absurdo." 
Se dividindo em duas tarefas, Barbosa ainda está em cena, ao lado da atriz Arlete Cunha, sua parceira em outras peças recentes (O gabinete de curiosidades, montagem assinada por Luciano Alabarse, cujo texto também é de Schwartsmann; e Pequeno trabalho para velhos palhaços, de autoria do dramaturgo romeno/francês Matei Visnièc; dirigida por Adriane Mottola - e onde Sandra Dani também atuou).
O elenco de A força da Arte... se completa com Adriana Collares, Ana Kerwaldt, Zé Passos, Anderson Leal e Juliano Passini. "Em cena, eles vivenciam momentos de muito riso, mas também de melancolia e questionamento sobre a vida", destaca Schwartsmann. De acordo com o autor, a aparente tranquilidade do grupo é quebrada após a chegada de uma sétima personagem, que introduz um elemento de efeito disruptivo naquelas pessoas. "Um dos convidados pelos donos da mansão leva com ele um amigo, que é professor de Letras, e, em determinado momento ele começa a falar no telefone com uma aluna que está fazendo uma dissertação sobre o livro A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói", adianta. 
É a partir que os demais personagens – que, segundo o diretor do espetáculo, "são reacionários e acham que cultura é um desperdício" – recebem um "balde de água fria", em meio à festa que estão promovendo por dias seguidos. "A peça mostra o impacto que um livro (ou a cultura em geral) pode causar nas pessoas, uma vez que começam a fazer uma crítica sobre a vida que levavam", destaca Schwartsmann. "A história do espetáculo lida com valores permanentes. A humanidade viveu situações muito parecidas, em diversos momentos de sua trajetória; no entanto, percebemos que nada muda, o ser humano é muito previsível, aprende pouco" com os acontecimentos, mesmo os mais trágicos, avalia. 
 

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