Apesar das manifestações ruidosas do lado de fora da Cúpula das Américas, com atos de oposicionistas falando até em pegar em armas contra o regime de Nicolás Maduro, a crise humanitária no país não deve constar na declaração final do encontro de líderes. A expectativa de alguma menção mais enfática contra Caracas no texto de encerramento está praticamente descartada, devido à não unanimidade dos países participantes sobre o tema.
Nas duas últimas cúpulas, não houve declaração, porque esse tema sempre foi objeto de controvérsia. Desta vez, optou-se por haver apenas um compromisso final sobre o combate contra a corrupção, tema em que é mais fácil atingir-se um consenso, apesar de estar embutida aí uma ironia. O Peru, sede do evento, acaba de trocar de presidente devido à renúncia de Pedro Pablo Kuczynski por corrupção. Além disso, vários dos países convidados estão envolvidos no escândalo da Odebrecht.
Fontes diplomáticas afirmam, porém, que a Venezuela será o assunto central da conversa reservada entre os participantes e estará presente em algumas das declarações no painel de sábado. Líderes como o vice-presidente Mike Pence, dos EUA, e o presidente Mauricio Macri, da Argentina, vêm subindo o tom em relação à necessidade de fazer pressão sobre Caracas.
Há, ainda, um movimento do Brasil de tentar voltar às vias de diálogo por meio da OEA (Organização dos Estados Americanos), e não apenas via Grupo de Lima ou outros prováveis fóruns paralelos, o que pode configurar um retrocesso, uma vez que aquele fórum não conseguiu avançar em pressões contra Maduro nos últimos anos.