Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Economia

- Publicada em 19 de Abril de 2018 às 19:33

PF diz que investigação sobre fundos não envolve obra do Cais Mauá

Bollis frisou que operação busca fluxos de recursos entre fundos de investimento e gestores

Bollis frisou que operação busca fluxos de recursos entre fundos de investimento e gestores


FREDY VIEIRA/JC
Patrícia Comunello
Atualizada às 18h de 20/04/2018.
Atualizada às 18h de 20/04/2018.
Depois de deflagrada a operação que atinge uma ex-gestora do fundo de investimento que compõe o consórcio da revitalização do Cais Mauá em Porto Alegre, a Polícia Federal (PF) afirmou que a investigação não atinge a obra e as licenças do complexo. O delegado que coordenada a Operação Gatekeepers pela Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros, Eduardo Bollis, fez questão de fazer o esclarecimento ao abrir a entrevista coletiva, na sede da Superintendência Regional da PF, que explicaria as origens e o que se busca averiguar em movimentações financeiras envolvendo empresas e pessoas físicas. 
"Esta operação está centrada em crimes financeiros, não diz respeito a obras e nem a licenças, não tem nenhuma situação envolvendo servidores públicos e políticos. Falo isso para evitar interpretação equivocada", destacou Bollis, frisando que não há nada que ligue com o projeto. "Não há nenhum elemento que aponte que os fatos investigados tiveram desdobramentos na obra. Não descarto qualquer hipótese", acautelou-se ele. O delegado não identificou o nome da empresa, mas mostrou conexão entre uma das gestoras investigadas e a administração do fundo para investir na revitalização. Tudo indica que o alvo é a gestora Icla Trust, que não está mais à frente do consórcio. 
Em fevereiro, houve troca na administração do Fundo de Investimento em Participações Cais Mauá do Brasil Infraestrutura (FIPI), saindo a Icla Trust (ex-NSG Capital) para entrada da Reag Investimentos. A Reag também assumiu em março a gestão da revitalização. A atual gestora do FIPI informou, em nota, que assumiu a administração e gestão do fundo "em 26 de fevereiro de 2018 e a administração da empresa Cais Mauá a partir de 20 de março de 2018". "Os fatos que estão sendo investigados pelas autoridades são anteriores a esse período e não têm nenhuma relação com a atual gestão do fundo." A Reag diz "que está analisando as medidas que poderão ser tomadas em relação ao projeto".
O Jornal do Comércio tentou contato com a Icla Trust, na sede no Rio, nessa quinta-feira, mas não localizou nenhum representante para falar no telefone informado no site da gestora. Uma recepcionista disse que não tinha ninguém que poderia falar e que nenhum diretor estava no escritório. No começo da tarde desta sexta-feira (20), a assessoria de imprensa da gestora enviou, por meio e-mail, uma nota que diz: "A respeito da Operação Gatekeepers, deflagrada quinta-feira (19) pela Polícia Federal, seguindo mandados expedidos pela 7ª Vara Federal de Porto Alegre, a Icla Trust esclarece que seus advogados ainda não puderam analisar os autos, portanto, não podem se pronunciar, por ora. Porém, a empresa ressalta que está colaborando com as investigações".
{'nm_midia_inter_thumb1':'https://www.jornaldocomercio.com/_midias/jpg/2018/04/19/206x137/1_fv190418cais020-1793256.jpg', 'id_midia_tipo':'2', 'id_tetag_galer':'', 'id_midia':'5ad8b533a77e2', 'cd_midia':1793256, 'ds_midia_link': 'https://www.jornaldocomercio.com/_midias/jpg/2018/04/19/fv190418cais020-1793256.jpg', 'ds_midia': 'Sede do consórcio foi alvo de busca e apreensão nesta quinta-feira, mas, a princípio, nada foi confiscado', 'ds_midia_credi': 'FREDY VIEIRA/JC', 'ds_midia_titlo': 'Sede do consórcio foi alvo de busca e apreensão nesta quinta-feira, mas, a princípio, nada foi confiscado', 'cd_tetag': '1', 'cd_midia_w': '800', 'cd_midia_h': '533', 'align': 'Left'}
Cais Mauá teve busca e apreensão de documentos e mídias. Foto: Fredy Vieira/JC 
No começo da manhã, equipes da PF em Porto Alegre e no Rio de Janeiro fizeram buscas e apreensões em nove locais, um deles os escritórios da Porto Cais Mauá do Brasil, nome do consórcio responsável pela revitalização, situados na antiga sede da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH). Documentos e mídias digitais foram levados. Também teve busca em um escritório na rua Olavo Barreto Vianna, que não teve nome divulgado. No local, operariam outros integrantes com conexão a gestoras de fundos. No Rio, houve apreensão de valores em moeda brasileira e em dólar. A PF chegou a divulgar fotos com joias na hora da busca, mas que não foram apreendidas por não serem alvos da busca.
As origens da investigação são de 2013, disse o delegado. A PF na Capital recebeu denúncia de integrantes do "maior fundo de pensão do Estado" - o nome não foi revelado -, sobre decisões de diretores autorizando a instituição a adquirir cédulas de crédito imobiliário para investimento na construção de uma termoelétrica que estavam sendo oferecidos por uma gestora privada de recursos com sede no Rio Grande do Sul. 
Segundo o delegado, já havia indícios de que o projeto energético não sairia e envolvia elevados riscos. O projeto mais tarde seria suspenso pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula do setor. Bollis diz que as empresas para fazer o empreendimento não se têm paradeiro. Segundo o delegado, já se indicava que havia riscos nos investimentos. Neste caso, a investigação pode apontar a gestão temerária dos recursos do fundo de pensão. "Passado isso, viemos a seguir o caminho do dinheiro no desdobramento de recursos e se chegou ao fundo de investimento em participação (Cais Mauá) que movimentava quantia elevada de recurso", descreve o coordenador da operação. Segundo Bollis, o que chamou a atenção foi o volume de dinheiro envolvido - a PF não falou em cifras durante a entrevista sobre a operação - e como foi o fluxo com os recursos, incluindo repasse a sócios de gestora de fundo. 
"Grande parte (dinheiro) saiu para empresas contratadas pela administração. Estas empresas fizeram repasses a outras e foram para sócios. Estamos investigando este ciclo dos recursos", explicou o delegado. A investigação apura se houve crime de lavagem de dinheiro nesse trânsito de recursos e o que chama a atenção é o fato de o dinheiro ter saído de fundos, para passar por empresas e pessoas físicas ligadas a gestores do fundo. 
Entre as questões a serem apuradas, estão a razão desse "ciclo" desenhado pelos recursos e porque estas empresas administradoras estavam captando do fundo. Sobre estas transações com os recursos, Bollis não revelou nomes e extensão das operações. "Não detalhamos para não atrapalhar a investigação." O delegado ponderou que só o fato de haver transferência de recurso de uma empresa para outra não significa necessariamente desvio. "Estamos investigando porque uma quantidade tão grande de dinheiro foi movimentada e fez este ciclo", ampliou o coordenador da operação. 
As movimentações de valores foram entre 2013 e 2016 e ocorreu entre dois fundos de investimento, segundo a PF. Bollis informou que uma das empresas administradoras de um dos fundos fica em Porto Alegre e "recebeu muito dinheiro". Neste caso, a relação é com o projeto da termelétrica. "Houve pessoas ligadas à administração do fundo que estiveram ligadas à gestão da empresa." Agora a operação entra em uma nova fase de investigação com análise de grande volume de documentos e fluxo do dinheiro. "Já deixo bem claro que é dinheiro transferido de uma empresa para outra, o que não quer dizer que tenha sido desviado. Temos de apurar as condições que levaram a uma quantidade tão grande de dinheiro sair do fundo e fazer este ciclo". 
O fato de ter havido a busca ao escritório do consórcio provocou reações de movimentos que são críticos do modelo que venceu a concessão, que terá torres comerciais e um shopping center. O investimento até completar o projeto é estimado em mais de R$ 500 milhões. "Essas irregularidades que a PF está investigando, nós apontamos há muito tempo, tanto juridicamente quanto através da imprensa", disse Katia Suman, comunicadora que integra a Associação Amigos do Cais Mauá (Amacais). "Parte da mídia preferiu nos criticar, nos chamando de ‘caranguejos’, ‘os do contra’, tentando nos ridicularizar perante a opinião pública", lamentou Katia.
"Agora, como cidadã, fico pensando em como organizar uma grande força tarefa para recuperar esses armazéns e devolvê-los à cidade. É uma obra mais barata do que a revitalização da Orla, por exemplo. Mais barata que um viaduto. Estou falando da recuperação dos armazéns e seu uso para comércio, lazer e cultura."
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO