A China intensificou seus ataques contra o governo dos Estados Unidos ontem devido a bilhões de dólares em ameaças de tarifas, dizendo que Washington seria o culpado pelos atritos comerciais e repetindo que é impossível negociar sob as circunstâncias atuais.
As declarações foram dadas depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, previu, no domingo, que a China deve retirar suas barreiras comerciais, e expressou otimismo de que ambos os lados podem resolver a questão através de negociações.
Pesquisadores estatais chineses e a mídia minimizaram o possível impacto das medidas comerciais dos EUA sobre a segunda maior economia do mundo e descreveram a postura do governo norte-americano sobre o comércio como o produto de um "distúrbio de ansiedade". "Sob as atuais circunstâncias, ambos os lados não podem ter negociações sobre essas questões", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, a repórteres.
"Os Estados Unidos, por um lado, têm a ameaça de sanções e, ao mesmo tempo, dizem que estão dispostos a conversar. Não tenho certeza sobre para quem os Estados Unidos estão fazendo esse número", disse Geng. Os atritos comerciais devem-se "inteiramente à provocação dos EUA", completou.
Ontem, Trump afirmou que a relação comercial entre EUA e China é estúpida. "Quando um carro é enviado para os Estados Unidos da China, há uma tarifa a ser paga de 2,5%. Quando um carro é enviado para a China dos Estados Unidos, há uma tarifa a ser paga de 25%. Isso soa como comércio livre ou justo? Não, parece comércio estúpido - acontecendo há anos!", disse em uma postagem no Twitter.
"Pequim não queria disputar uma guerra comercial, mas não tem medo de uma", afirmou o vice-ministro de Comércio, Qian Keming, no Fórum Boao para Ásia.
A ação dos EUA de ameaçar a China com tarifas sobre bens chineses visava forçar Pequim a lidar com o que Washington diz ser roubo de propriedade intelectual e transferência forçada de tecnologia de empresas dos EUA para concorrentes chineses.
Pequim alega que Washington é o agressor e está estimulando o protecionismo global, embora os parceiros comerciais da China reclamem há anos que o país abusa das regras da OMC (Organização Mundial do Comércio) e pratica políticas industriais injustas que bloqueiam empresas estrangeiras de setores cruciais com a intenção de criar gigantes nacionais.
Depois de repetidas promessas feitas por Pequim de abrir setores como o de serviços financeiros terem mostrado pouco progresso, Trump tem dito que os EUA não vão mais permitir que a China se aproveite do país com o comércio.
O secret�rio de Assuntos Internacionais do Minist�rio da Fazenda, Marcello Estev�o, disse ontem que a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China poder� beneficiar o Brasil e, por extens�o, o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Estev�o disse que a disputa comercial entre duas das maiores economias do mundo, pelo menos at� o momento, est� sendo positiva para o Brasil.
"� claro que uma guerra comercial entre duas economias do tamanho da norte-americana e da chinesa n�o � boa para ningu�m, e todos t�m a perder. Mas, pontualmente, o que eu tenho visto � que ela est� nos ajudando. Na quest�o da soja, por exemplo, a decis�o da China de impor tarifa sobre a exporta��o do produto dos Estados Unidos ajuda os produtores de soja do Brasil", disse.
Na avalia��o do secret�rio, "se realmente a China fizer um boicote ou aumentar a tarifa para bens de commodities que os Estados Unidos exportam muito, o Brasil se beneficiar�, porque � um pa�s exportador de commoditie".
Para Estev�o, a disputa comercial entre a China e os Estados Unidos ajuda o Brasil, porque os pa�ses que querem fazer acordos e ampliar as rela��es comerciais v�o faz�-lo com o Brasil e com o Mercosul.