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Cultura

- Publicada em 26 de Abril de 2018 às 09:05

Coprodução entre Brasil, Portugal e Argentina, filme aborda falta de segurança no RJ

Premiada no Festival do Rio, atriz Grace Passô estreia no cinema em Praça Paris

Premiada no Festival do Rio, atriz Grace Passô estreia no cinema em Praça Paris


TAIGA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Luiza Fritzen
A falta de segurança no Rio de Janeiro é o pano de fundo de Praça Paris, novo filme da diretora Lucia Murat (A memória que me contam, Quase dois irmãos). A coprodução entre Brasil, Portugal e Argentina aborda a violência psíquica a partir do conflito relacional entre uma psicanalista portuguesa, Camila, mestranda em psicologia aplicada no Centro de Terapia da Uerj, e sua paciente, Glória, ascensorista da universidade, que mora numa comunidade de um morro carioca.
A falta de segurança no Rio de Janeiro é o pano de fundo de Praça Paris, novo filme da diretora Lucia Murat (A memória que me contam, Quase dois irmãos). A coprodução entre Brasil, Portugal e Argentina aborda a violência psíquica a partir do conflito relacional entre uma psicanalista portuguesa, Camila, mestranda em psicologia aplicada no Centro de Terapia da Uerj, e sua paciente, Glória, ascensorista da universidade, que mora numa comunidade de um morro carioca.
O longa, 13º da carreira da cineasta, deu a Lucia o prêmio de melhor direção no Festival do Rio 2017. A ideia da narrativa, segundo conta, surgiu há pelo menos 10 anos, durante uma conversa com uma amiga psicanalista que, na época, coordenava um programa de terapia para pessoas carentes em uma universidade particular do Rio. "Ela me disse que as graduandas e mestrandas que atendiam essa população tinham problemas de contratransferência (projeção na relação terapêutica entre paciente e terapeuta), desenvolvendo paranoias a partir do contato verbal com a violência." Para escrever o roteiro, a diretora firmou parceria com Raphael Montes, escritor dos suspenses Suicidas e Dias perfeitos. "Eu queria fazer um thriller. Li o livro do Raphael Montes e vi que ele tinha o que eu precisava", relata.
Para Lucia, o longa busca discutir a violência indireta, ou seja, o medo que é internalizado e a sensação de insegurança criados a partir do relato de outros, da midiatização, das manchetes sangrentas - o que se desenvolve através das sessões de terapia entre Camila e Glória. 
Com um passado difícil, a ascensorista foi violentada pelo pai durante a adolescência e tem como figura protetora seu irmão, Jonas, traficante do morro, que cumpre pena em uma prisão local. Quanto mais a paciente se abre e revela detalhes do sua trajetória, mais perturbada fica a terapeuta, o que se reflete no aumento do consumo de cigarros e álcool e com as paranoias ao andar na rua. 
O medo da terapeuta surge no imaginário, não com base em acontecimentos que lhe aconteceram diretamente, aqui construído com fragilidade pela atriz portuguesa Joana de Verona. Sua preocupação se dá a partir do que ela pensa que o irmão ou a própria paciente podem fazer com base em preconceitos sobre a violência que formou ambos.
Oriundas de realidades opostas, Camila representa a classe média branca universitária, enquanto Glória simboliza a resistência de quem sobrevive aos assédios da polícia, ao racismo e à violência doméstica. Optar por uma psicóloga estrangeira funcionou, segundo a cineasta, para acelerar dramaticamente a situação da diferença de classes. 
Ao escolher contar a história a partir do ponto de vista da terapeuta, o longa reforça alguns estereótipos sobre negros e violência. O que, como explica a diretora, foi intencional: "Eu achei importante que o homem negro fosse visto da maneira como a sociedade o vê, com racismo, preconceito".
Conhecida por suas atuações no teatro, o longa marca a estreia de Grace Passô no cinema, o que a levou a ganhar o prêmio, merecido, de melhor atriz no Festival do Rio 2017. Militante presa durante a ditadura militar, Lucia conheceu Grace enquanto realizava uma palestra para um grupo de teatro que desenvolvia um projeto sobre a guerra do Araguaia, posteriormente chamado Guerrilheiras ou para a terra não há desaparecidos, cuja dramaturgia é de autoria da atriz. "A Grace dá dimensão e complexidade ao personagem que está muito além do roteiro, ela permite que o personagem não seja apenas visto como uma vítima", enfatiza.
A escolha pelo título do filme também mostra a força do caráter colonizador ainda presente na sociedade brasileira. Localizada no bairro da Glória, no Rio Janeiro, a Praça Paris foi construída em 1926 com o intuito de reproduzir um jardim parisiense da época, o que para Lucia é muito simbólico, afinal, tem uma jardinagem que não combina com as altas temperaturas brasileiras. "Para mim, é uma metáfora muito sútil sobre o Rio, que é uma cidade que a gente está sempre tentando transformar em uma coisa que não ela mesma", afirma.
Embora penda demais para a visão do estrangeiro sobre a realidade brasileira, Praça Paris é carregado pela concisa atuação de Grace Passô, que com um olhar é capaz de assombrar e comover com sua tristeza e solidão. Além disso, o filme de Lucia tem seus méritos ao trazer à tona um tema tão atual e que atinge não apenas a população carioca como de todo o Brasil. 
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