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Cinema

- Publicada em 03 de Maio de 2018 às 22:25

O desafio

Hélio Nascimento
O diretor James Marsh, o cineasta que assinou o documentário O equilibrista, sobre Philippe Petit, é também o realizador de A teoria de tudo, filme no qual narrava os principais acontecimentos da vida de Stephen Hawking, o físico britânico falecido este ano. Com o primeiro filme citado ele recebeu o Oscar de melhor do gênero, enquanto o segundo permitiu que o ator Eddie Redmayne recebesse tal prêmio na categoria interpretação. Agora, com este Somente o mar sabe, ele reafirma seu interesse por histórias verdadeiras e figuras humanas que se destacam por não permanecer paralisadas diante de dificuldades e desafios. O documentário citado registrava a façanha do francês que uniu as Torres Gêmeas com seu equilíbrio e sua coragem, e o filme encenado de certa maneira era o contrário, pois focalizava a jornada de um homem desprovido de movimentos, mas cuja mente poderosa não era cerceada pela imobilidade. Em seu novo trabalho, Marsch não se repete ao voltar ao tema, transformando os elementos exteriores e vendo no protagonista uma extensão dos personagens anteriores. Donald Crowhurst, empresário e inventor, não consegue o sucesso esperado, algo que as cenas iniciais deixam claro, e por isso, a fim de dar segurança material à sua família, resolve participar de uma competição das mais arriscadas.
O diretor James Marsh, o cineasta que assinou o documentário O equilibrista, sobre Philippe Petit, é também o realizador de A teoria de tudo, filme no qual narrava os principais acontecimentos da vida de Stephen Hawking, o físico britânico falecido este ano. Com o primeiro filme citado ele recebeu o Oscar de melhor do gênero, enquanto o segundo permitiu que o ator Eddie Redmayne recebesse tal prêmio na categoria interpretação. Agora, com este Somente o mar sabe, ele reafirma seu interesse por histórias verdadeiras e figuras humanas que se destacam por não permanecer paralisadas diante de dificuldades e desafios. O documentário citado registrava a façanha do francês que uniu as Torres Gêmeas com seu equilíbrio e sua coragem, e o filme encenado de certa maneira era o contrário, pois focalizava a jornada de um homem desprovido de movimentos, mas cuja mente poderosa não era cerceada pela imobilidade. Em seu novo trabalho, Marsch não se repete ao voltar ao tema, transformando os elementos exteriores e vendo no protagonista uma extensão dos personagens anteriores. Donald Crowhurst, empresário e inventor, não consegue o sucesso esperado, algo que as cenas iniciais deixam claro, e por isso, a fim de dar segurança material à sua família, resolve participar de uma competição das mais arriscadas.
Marsch resolveu, em primeiro lugar, não correr riscos e se afastou do caminho de J.C. Chandor que no filme Até o fim, com Robert Redford no papel principal, optou por uma narrativa povoada por apenas por um personagem em cena. Talvez ele tenha pensado em Billy Wilder que ao realizar Água solitária, tendo James Stewart vivendo o papel de Charles Lindbergh, o primeiro a voar diretamente de Nova Iorque até Paris, registrou o voo pioneiro na maior parte do tempo e também reconstituiu acontecimentos anteriores e utilizou a memória do personagem para coloca-los em cena. É o que Marsch faz agora, realizando de certa forma um filme sobre uma tentativa de sobrevivência não apenas no mar, porque tudo se relaciona a uma missão mais ampla -a de preservar a família humana diante das tempestades e dos infortúnios. A alegoria é clara e fica exposta com a utilização de filmes domésticos e com tentativas cada vez mais difíceis de manter contato com o ponto de partida, o cenário a ser preservado.
Ao mesmo tempo, o filme também registra as atividades da base de operação, povoada por figuras que parecem referências a deuses modernos, não muito interessados num Ulisses enfrentando o mar e buscando uma forma de encontrar o caminho de sua ilha natal. É possível afirmar que o diretor Marsch perdeu a oportunidade de realizar um grande e belo filme sobre tal tema, como John Ford, por exemplo, sabia fazer com perfeição: adaptar ao cotidiano a matriz de todas as narrativas. Há momentos não devidamente clarificados, o que provavelmente é resultado de precariedades na produção e muitas situações ficam apenas na sugestão, ao não se transformarem em algo capaz de causar impacto. O acontecimento narrado foge da rotina, mas o filme que o recupera não se afasta do previsível e do convencional. Porém, algumas sugestões merecem registro. A desordem encontrada pelo personagem em seu barco é um bom exemplo de como o cenário pode ser utilizado como elemento definidor da crise que domina uma sociedade. O ferimento na mão, por sua vez, é a antecipação do que aguarda o protagonista. Mas na maior parte do tempo, o filme se mantém num ritmo que não empolga e se expressa através de imagens desprovidas daquele poder capaz de manter o espectador atento. Nem o mar é devidamente explorado e tudo se resume a utilização de velhos truques na faixa sonora. Por vezes, alguns diretores se beneficiam dos temas escolhidos e passam a ser nomes destacados. Mas basta serem colocados diante de certas complexidades para que suas limitações sejam duramente expostas. Parece ser o caso de Marsch, que agora nos oferece frágeis variações sobre um tema nobre e sempre atual.
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