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Cinema

- Publicada em 22 de Abril de 2018 às 18:45

A missão

Hélio Nascimento
Quando realizou, em 2002, seu primeiro longa-metragem, o diretor José Padilha enriqueceu o documentário e o cinema brasileiro com o notável Ônibus 174, no qual já abordava um sequestro, o relacionamento de um sequestrador com os reféns, as tentativas de uma solução do caso por autoridades envolvidas e o final marcado pela morte de uma inocente e também do responsável pelo ataque. Utilizando material de diversas fontes, o cineasta não se limitou a reconstituir fatos, indo em busca de suas causas, percorrendo, assim, um caminho que o afastava dos que, aproximando-se de efeitos, pensam eliminar o processo. Ressaltava que o sequestrador, em sua infância, havia sido um sobrevivente do chamado massacre da Candelária. E, numa evidência de que não estávamos apenas diante de um servo da burocracia cinematográfica, terreno no qual proliferam demagogos e cultores do maniqueísmo, descobriu um registro em imagens no qual havia a presença do sequestrador integrando o coro de seu colégio. A transformação de tal criança em uma ameaça revelava o funcionamento de uma engrenagem que vai, aos poucos, dizimando valores e instalando caos. Agora, com este 7 dias em Entebbe, já transformado em cineasta de carreira internacional, Padilha reafirma sua competência de narrador, algo que seu primeiro longa de ficção, Tropa de elite, havia plenamente confirmado. Filme vencedor do Festival de Berlim, por decisão de um júri presidido por Costa-Gavras, não era apenas um relato contundente sobre a violência que tem tumultuado a sociedade brasileira, pois procurava flagrar toda uma engrenagem por ela responsável e quase sempre ausente dos que costumam, em busca do aplauso, apelar para a superficialidade.
Quando realizou, em 2002, seu primeiro longa-metragem, o diretor José Padilha enriqueceu o documentário e o cinema brasileiro com o notável Ônibus 174, no qual já abordava um sequestro, o relacionamento de um sequestrador com os reféns, as tentativas de uma solução do caso por autoridades envolvidas e o final marcado pela morte de uma inocente e também do responsável pelo ataque. Utilizando material de diversas fontes, o cineasta não se limitou a reconstituir fatos, indo em busca de suas causas, percorrendo, assim, um caminho que o afastava dos que, aproximando-se de efeitos, pensam eliminar o processo. Ressaltava que o sequestrador, em sua infância, havia sido um sobrevivente do chamado massacre da Candelária. E, numa evidência de que não estávamos apenas diante de um servo da burocracia cinematográfica, terreno no qual proliferam demagogos e cultores do maniqueísmo, descobriu um registro em imagens no qual havia a presença do sequestrador integrando o coro de seu colégio. A transformação de tal criança em uma ameaça revelava o funcionamento de uma engrenagem que vai, aos poucos, dizimando valores e instalando caos. Agora, com este 7 dias em Entebbe, já transformado em cineasta de carreira internacional, Padilha reafirma sua competência de narrador, algo que seu primeiro longa de ficção, Tropa de elite, havia plenamente confirmado. Filme vencedor do Festival de Berlim, por decisão de um júri presidido por Costa-Gavras, não era apenas um relato contundente sobre a violência que tem tumultuado a sociedade brasileira, pois procurava flagrar toda uma engrenagem por ela responsável e quase sempre ausente dos que costumam, em busca do aplauso, apelar para a superficialidade.
O novo filme de Padilha se aproxima do documentário já lembrado por reconstituir, em alguns momentos utilizando cenas reais da época, o drama gerado pelo sequestro de um avião francês por alemães e palestinos. É, portanto, um filme que se aproxima do documentário, na medida em que procura reconstituir fatos realmente ocorridos. Mas não se limita a essa tentativa. Como em seus filmes anteriores, também agora o relato procura mostrar que o ato de violência é apenas o ponto que permite uma reflexão sobre o que está acontecendo. A violência sempre será a expressão máxima de que a civilização está sofrendo uma derrota. Tal afirmativa fica expressa na fala do primeiro-ministro depois da libertação da quase totalidade dos reféns. Mas não apenas através de palavras tal ideia é colocada. O movimento de câmera que mostra os corpos dos alemães depois da ação dos comandos de Israel deixa isso bem claro, até porque, antes, o cineasta havia mostrado que o humanismo não havia sido devidamente derrotado pelo extremismo. Primeiro quando o jovem fica sensibilizado pelo que seria o drama de uma passageira e também pela bela cena do falso telefonema. Em outro expressivo momento da narrativa, quando um dos técnicos do avião conserta o encanamento, o diálogo entre o sequestrador e uma das vítimas não é apenas uma aproximação: é também a evidência de que certas atitudes, embora o impacto que possam causar, terminam sendo ações vazias.
7 dias em Entebbe é bem superior à refilmagem de Robocop, o filme anterior de Padilha, que também era um relato sobre o conflito entre sociedade e violência. E ele deve bastante ao montador, Daniel Rezende, e também a outro colaborador, o fotógrafo Lula Carvalho, que o estão acompanhando em sua trajetória fora do Brasil e cujo talento é visível em todas as cenas. Mas o diretor também deve muito ao grande coreógrafo israelense Ohad Naharin, cuja arte capta com precisão, através do gesto agressivo e sempre surpreendente a agressividade contida e de repente libertada. Os indivíduos parecem calmos e em ordem em suas cadeiras, quando, de repente, é como se um pedido de socorro fosse encenado, um tumulto a perturbar a ordem e a calma. É o tema central do filme, expresso também nos créditos finais, enquanto, ao fundo, a humanidade corre em busca de uma solução ainda não encontrada.
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