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Empresas & Negócios

- Publicada em 22 de Abril de 2018 às 22:37

O DNA cervejeiro da Dado Bier


LUIZA PRADO/JC
Guilherme Daroit
Criada em 1995 como a pioneira das cervejarias independentes, setor que viveria seu auge duas décadas depois com o boom das cervejas artesanais, a Dado Bier agora aposta na simplificação do consumo. Competindo nas gôndolas com pouquíssimas supercompanhias globais e, ao mesmo tempo, com uma infinidade de rótulos incipientes, a empresa de Porto Alegre que responde por 17 produtos e quatro restaurantes decidiu concentrar seus esforços em três latas.
Criada em 1995 como a pioneira das cervejarias independentes, setor que viveria seu auge duas décadas depois com o boom das cervejas artesanais, a Dado Bier agora aposta na simplificação do consumo. Competindo nas gôndolas com pouquíssimas supercompanhias globais e, ao mesmo tempo, com uma infinidade de rótulos incipientes, a empresa de Porto Alegre que responde por 17 produtos e quatro restaurantes decidiu concentrar seus esforços em três latas.
"Fermentado" no comércio desde os 14 anos, quando passou a importar e vender artigos de surfe e skate, Eduardo Bier, o Dado, fundador e presidente da empresa que carrega seu nome, afirma que, nesse jogo, não haverá espaço para todo mundo. Para vencer no mercado brasileiro, defende, é preciso qualidade e preço acessível, que só poderiam andar juntos com a produção em escala.
Bier, cujo próprio sobrenome (cerveja, em alemão) deu origem ao interesse pelo negócio, rejeita classificar a empresa para algo além de uma cervejaria. "Quando nos comparam com as grandes, somos vistos como pequenos. Quando comparados aos pequenos, somos vistos como grandes. Para nós, faz muito mais sentido pensar em cerveja, sem essa segmentação", defende.
Empresas & Negócios - Como a Dado Bier pretende se posicionar no mercado?
Eduardo Bier - Olhando o mundo e analisando o mercado brasileiro, vemos belíssimas cervejarias. E é esse o nosso trabalho. Para dar um exemplo, a Heineken, que é a segunda maior do mundo, é uma belíssima cervejaria. O DNA dela é de cerveja, que nem todas as companhias têm. Temos inúmeros exemplos. Mas como atuar em um país como o Brasil, com renda média pequena? Nós não pretendemos fazer cerveja para a elite. Nós pretendemos fazer excelentes cervejas, e quanto mais acessíveis elas puderem ser, melhor. Aí está a força do mercado brasileiro. Se tivéssemos uma vinícola, talvez fizesse sentido produzir algo extremamente sofisticado, para uma pequena elite. Mas não tem nada a ver com o nosso trabalho, nem com o nosso País.
Empresas & Negócios - Como avalia o mercado artesanal?
Bier - Acho que há um entendimento muito equivocado entre qualidade de cerveja e um conceito de cerveja artesanal que não tem definição. É uma barbaridade o que tem de cerveja ruim chamada de artesanal no mercado, sem controle algum de qualidade. Existem belíssimas cervejas (artesanais), mas existe muita coisa ruim. E o preço da artesanal gira, em média, em pelo menos três vezes o preço das mais vendidas. Para mim, aí está um ponto que restringe barbaramente o crescimento das artesanais. Quando você combina isso com a renda do brasileiro, temos uma matriz que nos leva a crer que esse mercado não será grande.
Empresas & Negócios - Qual é a estratégia por trás dos últimos lançamentos?
Bier - O mundo contemporâneo está muito complexo. A oferta de produtos é tão grande que torna a decisão cada vez mais complicada. Há 25 anos, tínhamos oito rótulos de cerveja, e basicamente era a garrafa de 600 ml, e as primeiras latas. Hoje, temos registrados no Ministério da Agricultura oito mil rótulos. Essa proporção é muito inadequada. Oito é pouco, oito mil é um absurdo. Quanta energia e quanto tempo a pessoa vai colocar nesse negócio para decidir o que vai tomar? Era assim com o vinho, e deixou de ser. O cliente cansou. Há excesso, na minha opinião, de estilos, de variedades, de marcas, de rótulos. Nós temos 17 rótulos, mas temos dado foco a três cervejas nossas, tentando fazer uma proposição aos clientes de um caminho mais acessível. Um número de cervejas menor, de altíssima qualidade, em uma embalagem bacana. Temos uma admiração pela embalagem lata, pelo aspecto ambiental, já que as latas são 98% recicladas no Brasil, além de ser conveniente, por ser leve e gelar muito rápido. Essa foi a proposta do lançamento dessas três novas cervejas, que vêm tendo muito êxito. É simplificar a vida das pessoas.
Empresas & Negócios - A cerveja é um dos mercados mais concentrados do País. Como chegar no grande varejo?
Bier - Acreditamos muito na oportunidade, e estamos tendo um belo desempenho. Os pontos de venda e os consumidores também não querem tanta concentração. Nem oito, nem oito mil. Nem 700 cervejarias, nem três cervejarias. Algo mais equilibrado. Temos encontrado muita receptividade, principalmente na Região Sul, em razão da nossa proposta e de termos um trabalho de 23 anos. Não acordamos anteontem e dissemos "vamos surfar nessa onda de cerveja artesanal que é legal". Nós iniciamos esse processo no Brasil. Iniciamos uma cervejaria, que nós definimos o nome que teria, chamávamos de especial no início, junto aos parceiros da época, Colorado, Eisenbahn, Baden Baden, hoje todas partes de grandes conglomerados. Nós somos independentes e continuaremos sendo. E eu sempre achei melhor chamar de cerveja. É vinho artesanal, vinho especial ou é vinho? Por que existe esse negócio na cerveja? Vinho em alta escala existe no Brasil e muito, o grande volume também está em poucas companhias, e não tem isso.
Empresas & Negócios - Como se consegue escala sendo independente?
Bier - Estamos há muito tempo no mercado, e como escolhemos esse caminho de ser uma bela cervejaria, independentemente de classificação, estamos trabalhando nesse sentido. O nosso volume hoje nos permite ter custo. Não é possível ser competitivo em baixíssima escala. O custo dos insumos é muito elevado, e os custos de produção em pequena escala se tornam muito elevados. Os impostos são altos também, mas são assim no mundo inteiro. E o Brasil é um país de dimensões continentais, a distribuição é outro custo muito elevado. O produto chega na ponta muito caro. Nós conseguimos atingir um volume que nos permite oferecer qualidade e preço, e isso é o que chamamos de um círculo virtuoso. Não haverá espaço para essas 700 cervejarias do Brasil. Não existe isso nem nos Estados Unidos, que é incomparável com o mercado brasileiro. Mesmo lá existe um pequeno grupo de empresas que ganham dinheiro, que pode ser subdividido regionalmente, mas está no campo da meia dúzia em cada região. Não há espaço para todo mundo.
Empresas & Negócios - Vocês entraram no varejo em parceria com a Ambev. De que forma é feita a produção hoje?
Bier - Iniciamos a produzir cerveja para o varejo em 2000, por uma oferta pública da Ambev. Veio do termo de compromisso da época da fusão (entre Brahma e Antarctica), voltada a cervejarias com menos de 5% do mercado. Isso acabou em 2004, e desde lá estamos fazendo em um modelo híbrido, com pessoas e equipamentos próprios, mas também em fábricas de terceiros. É o modelo que acreditamos, principalmente porque há uma sazonalidade. Atuamos basicamente na Região Sul, onde há uma sazonalidade muito grande. Temos capacidade própria de produzir o volume do vale, e buscamos produção extramuros nos picos.
Empresas & Negócios - Qual a situação dos restaurantes?
Bier - Aguardamos para ver como o Brasil ficará a partir de agora, saindo de uma crise violenta e longa. Conseguimos crescer muito na crise, principalmente na cerveja, mas estamos aguardando o entendimento de como ficará o mercado para pensar em novos restaurantes. Mas não serão fora do estado do Rio Grande do Sul. Nos restaurantes, sofremos com a crise como todos, mas no final do ano passado já houve uma recuperação interessante, e 2018 arrancou bem. Mas é um ano de eleições, precisamos aguardar para ver.
Empresas & Negócios - Cogita voltar aos mercados paulista e carioca?
Bier - Continuamos com o foco na Região Sul. Acreditamos nessa oportunidade, no caminho da regionalização. É possível subir um pouco mais, voltando a atuar no Sudeste, mas por um tempo, que não sei quanto será, vamos nos manter focados na Região Sul. Temos muita oportunidade aqui, muito ainda por fazer. Só quando entendermos que nosso trabalho está concluído é que daremos um passo mais acima.
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