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- Publicada em 12 de Março de 2018 às 00:39

Prender não é solução exclusiva, diz Dal'Lago

Dal'Lago aposta que mais efetivo e investimento em viaturas e armamentos melhorem atuação

Dal'Lago aposta que mais efetivo e investimento em viaturas e armamentos melhorem atuação


CLAITON DORNELLES /JC
Suzy Scarton
No comando da Brigada Militar há um ano, o coronel Andreis Silvio Dal'Lago antecipa um ano positivo. Destacando o forte investimento em gestão e planejamento, o comandante espera que o acréscimo de efetivo - após concurso que permitirá o ingresso de 4,1 mil policiais militares - e o investimento em viaturas e armamentos ampliem o poder de atuação da corporação nas ruas. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o coronel fez um balanço do primeiro ano e comentou questões polêmicas, como as fortes críticas tecidas à Brigada Militar na atuação durante manifestações.
No comando da Brigada Militar há um ano, o coronel Andreis Silvio Dal'Lago antecipa um ano positivo. Destacando o forte investimento em gestão e planejamento, o comandante espera que o acréscimo de efetivo - após concurso que permitirá o ingresso de 4,1 mil policiais militares - e o investimento em viaturas e armamentos ampliem o poder de atuação da corporação nas ruas. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o coronel fez um balanço do primeiro ano e comentou questões polêmicas, como as fortes críticas tecidas à Brigada Militar na atuação durante manifestações.
Jornal do Comércio - No último ano, o governador José Ivo Sartori anunciou a construção de uma série de presídios e a ampliação de vagas prisionais. Essa é uma solução para a violência ou um paliativo?
Andreis Silvio Dal'Lago - Não há dúvida de que o sistema de segurança pública está em uma situação difícil, e o sistema prisional, caótico e falido. Um dos motivos para isso é a ausência de vagas - inclusive perdemos mais de mil vagas em uma galeria do Presídio Central de Porto Alegre, que foi demolida. E não defendo um Estado penal, pois prender não é solução exclusiva. Essas prisões sem foco não atendem à necessidade, não ressocializam, não devolvem ninguém recuperado e não permitem a entrada de novos presos. No ano passado, passamos por uma situação muito difícil ao mantermos presos em viaturas. Esse é o objetivo do governador ao construir presídios. Em um curto espaço de tempo, chegaremos a falência do sistema se não houver vagas. O Estado se encolheu nas últimas décadas, e se encolheu em uma área em que não poderia ter encolhido, na defesa social. Encolheu nos eixos de aporte de recursos humanos e de logística, e em atitude. E como o Estado se encolheu, a delinquência tomou conta. Hoje, você percebe um jovem de 16, 17 anos, com um fuzil, atirando contra um policial sem o mínimo receio. Os delitos estão acontecendo, temos de prender, mas se não tem onde colocar, não dá certo. A opção do governador José Ivo Sartori, de atuar de forma sistemática na segurança pública, dará ao Estado um novo patamar em termos de efetividade, no combate à violência e à criminalidade. A solução imediata é a construção de presídios. A medida em que a corporação começar a receber efetivo, equipamento, conseguiremos cumprir nossas três funções: atendimento pelo 190, repressão qualificada e prevenção. E, hoje, não consigo investir nem 5% do potencial em prevenção, algo que eu gostaria de ampliar, mas, para isso, preciso que o sistema funcione.
JC - Outra medida anunciada pelo governador foi o chamamento de concursados. Esse acréscimo de efetivo mitiga o déficit de pessoal?
Dal'Lago - Desde o ano passado, o governador tem chamado todos os concursados. Os últimos se formaram em abril, em torno de 500 policiais. Isso deu um grande fôlego e melhorou bastante a atuação no eixo Porto Alegre/Caxias do Sul. Alguns indicadores mostraram queda, como, por exemplo, em latrocínio e homicídio. Em julho, foi anunciado concurso público para 4,1 mil vagas de soldado e 200 de oficiais, além de vagas para o Corpo de Bombeiros e para a Polícia Civil. Eles estarão aptos para o primeiro ingresso em meados de julho deste ano, e o governador deve autorizar a nomeação do maior número possível de policiais. Nosso déficit é de cerca de 45%. Com esse aporte, vamos começar a mudar a curva dos últimos 20 anos, quando saem mais policiais do que entram por ano. Outra ação do governo diz respeito ao aumento do valor da gratificação de permanência dos policiais. A intenção é que o policial fique mais tempo ativo, dentro do espaço razoável. Estancando as aposentadorias e aumentando o ingresso de policiais, vamos reverter esse quadro.
JC - Embora o incremento seja perceptível nas ruas, a sensação de insegurança ainda é algo que assusta os gaúchos como um todo. Os indicadores de homicídio e latrocínio mostram redução, mas os furtos e os roubos seguem crescendo. Como explicar isso?
Dal'Algo - Reduzimos alguns indicadores, como homicídio, latrocínio e roubo a transporte coletivo. Estamos tentando reduzir o roubo a pedestre. Convocamos uma operação Avante, policiais à paisana, operações com o BOE, mas esse tipo de roubo é comportamental. Há pessoas que passam os dias à espreita, esperando um descuido da vítima para agir. Além disso, alguns são presos muitas vezes e, quando chega na hora de ingressar no sistema prisional, aquele que cometeu um crime mais grave do que o roubo de algum objeto pessoal será encaminhado ao presídio, e o ladrão, solto. Esperamos que com o acréscimo de viaturas, de equipamento e de efetivo, consigamos amenizar esse tipo de crime em 2018. Nosso sistema precisa ser reavaliado. A Justiça cumpre o papel dela e, se solta, é porque a lei possibilita. Para nós, profissionais, é descabido responsabilizar qualquer instituição ou autoridade pela soltura de presos. Se tivermos de prender várias vezes, faremos isso, é nossa função. Mas temos de atuar em todo o sistema. Que ele precisa ser reavaliado, não há dúvidas.
JC - A atuação da Brigada Militar durante manifestações e protestos é sempre alvo de críticas. Como o senhor avalia a atuação do efetivo nesses casos?
Dal'Lago - A corporação vem atuando com força nas manifestações. Casos de desvio de conduta ou de excessos foram insignificantes considerando que ano passado tínhamos cerca de cinco manifestações diárias no Centro da Capital, envolvendo milhares de pessoas, e os problemas foram poucos. Acompanhei algumas pessoalmente, e a dificuldade raramente envolve os manifestantes. Eles tinham um objetivo, suas bandeiras, seus carros de som, e quando a manifestação acabava, iam para casa. Nessa hora, no entanto, ficavam os delinquentes, anarquistas, grupos radicais sem vínculo com os protestos, que estavam ali pela depredação. Atiravam pedras, tacavam fogo em contêineres, e aí começavam os embates, a atuação com armamento não letal e gases. Tenho percebido que quem organiza as manifestações - sindicatos ou partidos políticos, por exemplo - está conversando conosco, temos dialogado bastante. E eles também nos ajudam a identificar os infiltrados. Nossa função é proteger o manifestante, mas dentro do limite da lei. Acho que todos crescemos nesse processo. Os manifestantes entenderam que estamos aqui para ajudar. Mas nossa lógica é a proteção do manifestante e a atuação com força naqueles que infringirem a lei.
JC - O senhor está no comando da corporação há pouco mais de um ano. Quais foram os acertos e quais as dificuldades?
Dal'Lago - Definimos três eixos de atuação. O ano de 2015 foi difícil, com a saída de muitos brigadianos, e 2016 foi marcado por manifestações. Buscamos, então, aprimorar a gestão operacional. Elaboramos o sistema Avante, uma ferramenta disponível a todos os comandos, em todos os municípios, de busca de dados quantitativos e qualitativos da situação de violência nos locais, bem como a produtividade dos policiais, e estabelecemos grupos criminais de atuação - homicídio, roubo de veículo, roubo a pedestre e roubo a transporte coletivo. Isso desenvolveu, na corporação, uma cultura de gestão. Todos os oficiais estão a par do sistema, conhecem a ferramenta, e isso profissionaliza a corporação. Também temos otimizado a patrulha envolvendo cavalos e cães, leiloando animais que não estão em plenas condições de atuação. Outro ponto em que investimos é a política de integração com países vizinhos, como Argentina e Uruguai. Estabelecemos uma relação muito boa, com operações integradas. Conseguimos, também, apesar da crise, adquirir armamento, coletes balísticos e viaturas. Um segundo eixo foi a área de ensino. Precisamos de um efetivo educado e treinado. Alteramos o currículo militar - os cursos de carreira, hoje, são de graduação, tecnólogos, e os cursos de aperfeiçoamento, para os oficiais, são de mestrado e de doutorado. Estamos oferecendo, também, educação continuada, que retira o policial das ruas por algumas semanas e repassa algum conteúdo. E, por fim, o terceiro eixo foi o de investimento na saúde da tropa. A atividade policial é uma das mais estressantes e nosso hospital vinha sem investimentos. Apresentamos um projeto de recuperação do hospital e, hoje, atendemos, além das famílias brigadianas, todos os servidores do Instituto de Previdência do Rio Grande do Sul. Foi algo complexo, mas aumentou 500% o atendimento a civis. Saímos de um patamar de 1,9 mil consultas/mês para 10 mil/mês, e também contratamos 25 médicos. E, em dezembro, aprovamos a contratação de policial temporário de saúde. Hoje, trabalhamos com terceirizados, o que amplia o custo. Se for um policial temporário, haverá uma economia. Também tivemos de investir na saúde mental do policial, considerando, a questão do parcelamento. Estamos fazendo um trabalho interno para identificar sintomas de depressão no policial, um programa de prevenção ao suicídio. Resumindo, vejo 2018 como positivo. Como estamos, desde 2015, focando bastante na gestão, no planejamento, priorizando o que é importante, estamos avançando. 
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