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- Publicada em 01 de Março de 2018 às 17:49

Foco na produção de alimentos e na renda do produtor familiar

Alan Bojanic comentou os investimentos na área

Alan Bojanic comentou os investimentos na área


/AG. RIGUARDARE/DIVULGAÇÃO/JC
Thiago Copetti
Chefe do escritório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil desde 2013, o engenheiro agrônomo boliviano Alan Bojanic acredita que o Brasil continuará sendo o grande celeiro do mundo, com perspectiva de aumentar cada vez mais a oferta de alimentos. Bojanic conversou com o Jornal do Comércio sobre o papel da organização no Brasil, o avanço da soja, o recuo na área plantada de milho e outros temas do agronegócio, antes de cancelar sua agenda na Expodireto por problemas particulares.
Chefe do escritório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no Brasil desde 2013, o engenheiro agrônomo boliviano Alan Bojanic acredita que o Brasil continuará sendo o grande celeiro do mundo, com perspectiva de aumentar cada vez mais a oferta de alimentos. Bojanic conversou com o Jornal do Comércio sobre o papel da organização no Brasil, o avanço da soja, o recuo na área plantada de milho e outros temas do agronegócio, antes de cancelar sua agenda na Expodireto por problemas particulares.
Jornal do Comércio - Qual é o papel da FAO no Brasil e como ela se relaciona com o agronegócio?
Alan Bojanic - A FAO enxerga o Brasil como o grande celeiro de hoje e do futuro. O Brasil produz muitos grãos, e a perspectiva é que, em 2050, alcance 300 milhões de toneladas, o que é fundamental para o futuro da alimentação do mundo. Portanto é importante apoiarmos ações de aumento da produtividade, aumento da produção não só de grãos, mas de tudo que tenha a ver com alimentos: carnes, peixes... Nosso foco também é a agricultura familiar. Vemos a agricultura familiar e o agronegócio como uma unidade, não como duas faces de uma mesma moeda. Toda a produção de alimentos, a segurança alimentar, a erradicação da pobreza rural, o empoderamento das mulheres são setores de nossa competência.
JC - Que tipo de apoio a FAO pode dar para um produtor familiar?
Bojanic - A FAO no Brasil e nos países da América Latina é uma organização pequena, não podemos atender 4,5 milhões de agricultores familiares, portanto o nosso trabalho é fundamentalmente através dos governos, sejam estaduais, municipais ou federal. Nossa orientação é de apoio a políticas de implementação de projetos em nível macro. O Brasil tem boa capacidade de pesquisa, de assistência técnica e também tentamos aprender as boas práticas que o Brasil tem desenvolvido para levar a outros países. Nossa função é mais trabalhar em nível dos ministérios, mais do que o trabalho direto com o produtor.
JC - Em que o Brasil já avançou na questão de ter uma visão mais social da produção de alimentos e em que precisamos avançar?
Bojanic - O Brasil é pioneiro em termos de políticas sociais no campo, programas de transferências de renda por meio de compras de agricultores familiares, como alimentação escolar. Mas é preciso aprimorar, focar ainda mais os grupos vulneráveis. O Brasil tem políticas para grupos vulneráveis, mas é uma área complicada. A extrema pobreza é muito dura, muito difícil de trabalhar, portanto precisamos, cada vez mais, ter instrumentos para chegar nesses grupos de uma maneira efetiva, que mude a vida dessas pessoas.
JC - Nesse contexto de reduzir a fome no mundo por meio do aumento da produtividade, qual é a posição da FAO sobre os transgênicos?
Bojanic - A FAO é como um clube de 196 países. Alguns adotam o transgênico como política, e têm outros que não querem os transgênicos no território deles. Então, como administradora desse clube, não temos posição a favor nem contra e respeitamos a posição de cada um dos países. Há soberania de cada país em decidir sobre transgênicos.
JC - A soja no Brasil avança muito e há muitos anos, e ocupa longas faixas de terra que poderiam ser usadas para produzir outros tipos de alimentos de consumo direto pelo ser humano. Isso é um problema?
Bojanic - Não vejo nisso um problema. A soja é um alimento de alta qualidade, é um grão que tem muita proteína, fácil para produzir e que pode ser industrializado ou não. No Japão e na China, fazem muito queijo de soja, o tofu, que é um grande alimento. Vai depender do uso que se faz desse grão, mas também é importante por ser um produto que gera muita renda, o que é bom para dinamizar a agricultura, para ter inovação. Mas o ideal é que se consiga alternar com outras culturas. Só a soja complica a conservação de solo; mas, com uma boa rotação de soja com milho e outros grãos, é muito favorável. A soja não é um vilão. Vai depender do uso que você faz desse grão, como vai produzir, se de forma sustentável, com rotação, com práticas de conservação de solo, plantio direto.
JC - Mas pode-se dizer que o Brasil ainda aproveita muito pouco a soja para o consumo humano, não?
Bojanic - Sim, é verdade. Tem um amplo espaço para ainda aproveitá-la. É um grão fantástico, que tem muitas propriedades nutricionais. Poderiam ter mais receitas com a soja. Acho que temos aí um desafio pela frente: fazer melhor uso desse grão, mesmo das folhas. Tudo pode ser aproveitado. Precisamos incentivar os chefs de cozinha a mostrar outras receitas. A grande vantagem que a soja tem é que o grão é barato, pode solucionar muitos problemas de fome, com boas receitas, com uma melhor arte de cozinha. O ideal é que não seja vista apenas como uma commodity apenas para exportação.
JC - No Rio Grande do Sul e em boa parte do Brasil, o milho segue caminho inverso ao da soja. A produção tem baixado bastante, o produtor tem abandonado a cultura do milho, ocupando áreas com soja. Que riscos há neste caso?
Bojanic - Temos que continuar incentivando a cultura do milho, que é fundamental para alimentação humana e dos animais. Também é uma questão cultural. No México, por exemplo, é impensável não comer pão de milho, a chamada tortilla. Também aqui podemos pensar em uma alternativa para fazer um melhor uso do milho e suas propriedades nutricionais. É uma cultura fácil, produz em pouco tempo, com muita produtividade. Se conseguem colher 10, 12 toneladas de milho por hectare, o que é muito difícil de fazer com outros grãos. Essa altíssima produtividade é boa para segurança alimentar; mas, para isso, precisamos trabalhar a promoção dessa cultura, a rentabilidade. Conheço bem a problemática do milho no Sul e de preços em queda. Se conseguirmos aumentar a demanda, teremos melhores preços para os produtores. Não é uma coisa fácil. São políticas de longo prazo, políticas de Estado para incentivar a produção de milho.
JC - Também chama a atenção o problema do setor lácteo, em função dos baixos preços e do leite que entra do Mercosul. Como encontrar um equilíbrio entre os países pensando tanto no produtor quanto no livre comércio?
Bojanic - O Mercosul é um espaço para o diálogo político. Temos que pensar em complementações, e não em competições. O caso do leite, desde já, é de grande preocupação. Então, nesse diálogo político com Uruguai e Argentina, temos de ver se tem ou não triangulação e se há como formular cotas, como a União Europeia fez pra manter os produtores no mercado. Às vezes, não é possível deixar só o produtor lidando com os mercados, que nem sempre têm um bom funcionamento para fixar preços e rentabilidades. Esses conflitos não são fáceis de resolver. É difícil quando se entra em uma guerra comercial, e é isso que temos que evitar, criando pontes, diálogos e insistindo em negociações de longo prazo e de caráter permanente. Não é uma solução fácil. Precisa de muito tempo e paciência para encontrar fórmulas de benefícios recíprocos para os países que entram em concorrência.
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