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Economia

- Publicada em 01 de Abril de 2018 às 21:25

Desestímulo deve reduzir área plantada com trigo no Rio Grande do Sul

Lavoura do cereal de inverno pode ser a menor desde 2001 no Estado

Lavoura do cereal de inverno pode ser a menor desde 2001 no Estado


/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
Guilherme Daroit
Vindos de uma sequência de anos ruins no trigo - seja pela quebra de produção, seja pelo desabamento dos preços -, os agricultores gaúchos estão longe de nutrir otimismo em 2018. Os prejuízos passados, somados à dificuldade de comercialização, justificam o sentimento entre os triticultores de que a área cultivada no Rio Grande do Sul deve encolher pelo quarto ano consecutivo.
Vindos de uma sequência de anos ruins no trigo - seja pela quebra de produção, seja pelo desabamento dos preços -, os agricultores gaúchos estão longe de nutrir otimismo em 2018. Os prejuízos passados, somados à dificuldade de comercialização, justificam o sentimento entre os triticultores de que a área cultivada no Rio Grande do Sul deve encolher pelo quarto ano consecutivo.
Há quem diga que, sem mudanças no cenário, o terreno do trigo no Estado pode ser o menor do século. "O desestímulo é muito grande. Não estimo a área plantada em mais de 600 mil hectares, e isso com muita boa vontade", diz Hamilton Jardim, coordenador da Comissão do Trigo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), que classifica a situação, caso se confirme, como "o fundo do poço" em termos de área cultivada. O Rio Grande do Sul não tem uma lavoura de trigo tão pequena desde 2001, quando foram cultivados 615 mil hectares, segundo o IBGE.
A previsão significaria praticamente a metade do que foi plantado há quatro anos, quando a lavoura de trigo beirou 1,2 milhão de hectares, graças às boas expectativas trazidas pela grande safra colhida em 2013. Desde lá, porém, o processo de redução não parou. Primeiro, em 2014 e 2015, porque a colheita foi frustrada em qualidade, obrigando os produtores a buscarem mercados alternativos (e menos remuneradores) ao cereal. Depois, em 2016, a qualidade reapareceu, mas os preços não responderam. Por fim, em 2017, o descompasso das chuvas com as fases de crescimento das plantas derrubou a produção, mas, mesmo assim, os valores pagos pelas sacas continuaram em queda.
"O produtor está cansado de investir e não colher, e, quando consegue colher, não encontra preço", diz Jardim. No ano passado, mesmo o trigo de boa qualidade, cujo preço mínimo da saca havia sido estabelecido em R$ 37,26, chegou a ser vendido a R$ 29,00, segundo Cláudio Dóro, engenheiro agrônomo da Emater. Mesmo hoje, quase meio ano depois da colheita, os produtores não estariam conseguindo vendas acima de R$ 34,00. Jardim acrescenta que, com os valores atuais, apenas para empatar os custos, seria necessário produzir 60 sacos por hectare. No ano passado, para efeito de comparação, o rendimento médio ficou em torno de 29 sacos por hectare.
"O trigo não dá a segurança que existe, por exemplo, na soja, de que você vai recuperar o investimento. É uma lavoura de alto risco", complementa Dóro, lembrando que também há um desafio de liquidez. Isso porque, em algumas situações, mesmo com a cotação baixa, os produtores não encontram compradores. O agrônomo afirma que a real situação do plantio do trigo se cristalizará após o fim da colheita da safra de verão. Caso os produtores não tirem o rendimento esperado de culturas como soja e milho, há a possibilidade de que sejam impulsionados a apostar mais no grão de inverno.
Há um relativo consenso entre as entidades do setor, entretanto, que o cenário só será alterado caso haja políticas públicas específicas ao trigo. Para Hamilton Jardim, da Farsul, além da discrepância de custo de produção em comparação com os triticultores argentinos, outro problema é o fato de o seguro agrícola não ser condizente ao risco da cultura, por não cobrir, por exemplo, as perdas por conta da qualidade do cereal.
Já a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado (Fetag-RS) acrescenta, no caso dos pequenos produtores, a necessidade de redução da alíquota do Proagro Mais, espécie de seguro agrícola às famílias. Hoje em 6,5% do valor tomado em financiamentos, a entidade pleiteia o corte para 4%, em linha com outras culturas de menor risco, além de programas de aquisição. "O que se pede são políticas que já existem no País, mas que sejam estendidas para o trigo", diz o assessor de política agrícola da entidade, Kaliton Prestes.
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