O presidente Michel Temer assinará um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) nos próximos dias que, na prática, forçará o Tesouro Nacional a aceitar recursos de fundos de participação de estados e municípios como garantia para empréstimos em bancos públicos.
A medida é uma resposta de Temer ao conselho de administração da Caixa, que suspendeu os empréstimos do banco a entes federativos devido a dúvidas jurídicas sobre a legalidade dessas garantias.
Diante do impasse, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, recorreu a Temer e ao Tribunal de Contas da União (TCU), onde tramita um processo questionando a legalidade de garantias com recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e de Municípios (FPM). Para o Ministério Público de Contas junto ao TCU, essas operações são inconstitucionais, porque vinculam receitas de impostos.
Temer pediu que a AGU resolvesse o impasse, que ocorre no momento em que ele reúne seu capital político para tentar a reeleição. Occhi é do Partido Progressista (PP), importante aliado do presidente. Com a suspensão dos empréstimos, cerca de R$ 19 bilhões em empréstimos foram congelados. Esses recursos iriam para projetos em redutos eleitorais da base aliada.
O estoque de empréstimos da Caixa para estados e municípios é de R$ 60 bilhões, dos quais R$ 42 bilhões foram concedidos com recursos dos fundos de participação como garantia.
Para a AGU, Occhi disse que a Caixa é um banco 100% público e, sem essas operações, obras e projetos do governo ficariam comprometidas no momento em que a economia dá sinais de recuperação. Apresentou ainda uma circular do Banco Central em que, segundo ele, seria permitido o uso dos recursos dos fundos de participação como "mitigador para fins de requerimento de capital".
A partir do próximo ano, a Caixa precisará de mais capital próprio para manter os níveis de empréstimos. Diante das dúvidas sobre o uso dos fundos de participação, o conselho de administração suspendeu novos empréstimos.