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Mercado de Capitais

- Publicada em 18 de Março de 2018 às 19:31

Pequeno aplicador de fundo de renda fixa perde 36% do lucro com taxas

Em dois anos, rentabilidade das maiores categorias caiu de 13% para 9%

Em dois anos, rentabilidade das maiores categorias caiu de 13% para 9%


/MARCOS SANTOS/USP IMAGENS/IMAGENS P/DIVULGAÇÃO/JC
O declínio da taxa básica de juros (Selic) nos últimos dois anos e meio derrubou a rentabilidade dos fundos de renda fixa. Apesar disso, as taxas de administração cobradas nesses produtos permaneceram praticamente inalteradas, sobretudo para quem tem pouco dinheiro para aplicar. Em 2016, para o pequeno investidor, as taxas corroíam R$ 2,00 a cada R$ 10,00 de lucro. Já em 2017, apesar de terem baixado, abocanharam mais de um terço dos ganhos (R$ 3,60 a cada R$ 10,00) - tornando até a poupança mais vantajosa.
O declínio da taxa básica de juros (Selic) nos últimos dois anos e meio derrubou a rentabilidade dos fundos de renda fixa. Apesar disso, as taxas de administração cobradas nesses produtos permaneceram praticamente inalteradas, sobretudo para quem tem pouco dinheiro para aplicar. Em 2016, para o pequeno investidor, as taxas corroíam R$ 2,00 a cada R$ 10,00 de lucro. Já em 2017, apesar de terem baixado, abocanharam mais de um terço dos ganhos (R$ 3,60 a cada R$ 10,00) - tornando até a poupança mais vantajosa.
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a taxa média de administração dos fundos de renda fixa de dezembro de 2016 a dezembro de 2017 ficou praticamente estável - recuou de 1,02% para 1,01% ao ano, embora a Selic, que baliza esses investimentos, tenha caído praticamente à metade no período, de 13,75% para 7% ao ano.
Já sob a perspectiva do pequeno investidor, com tíquete de entrada de até R$ 1 mil, as taxas desses fundos recuaram de 2,68% para 2,55% ao ano. Mas o que parece boa notícia esconde um grande achatamento. Segundo cálculos da pesquisadora do Ibre-FGV e planejadora financeira Myrian Lund, em 2016, a taxa de 2,68% ao ano corroía, em média, 19,49% da rentabilidade dos fundos. Já no ano passado, apesar de ter diminuído, ela passou a corroer, em média, 36,43% dos ganhos das aplicações.
"É muita coisa. As taxas de administração não caíram na mesma proporção que a Selic, e quem paga essa conta é o pequeno investidor", afirma Myrian. "Ele só consegue taxas altas. E taxas de administração acima de 1%, na renda fixa, não valem a pena", observa.
Assim, os fundos de renda fixa agora pagam ao pequeno aplicador, em média, menos do que a própria caderneta de poupança. Ainda segundo cálculos da planejadora, com a Selic atual, de 6,75% ao ano, um fundo com taxa de 2,55% ao ano rende ao investidor 62,22% do CDI (taxa que anda de mãos dadas com a Selic). Caso aplicasse os mesmos recursos na caderneta de poupança, o investidor teria um retorno de 82,40% do CDI.
O diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, acredita que, nesse cenário, as instituições financeiras terão de se movimentar. "Os bancos terão de reduzir as taxas, com o risco de perderem clientes se não o fizerem", diz.
A queda da rentabilidade, porém, ainda não foi suficiente para chacoalhar o mercado e espantar o investidor. Segundo a Anbima, de 2015 para 2017, o patrimônio líquido dos fundos de renda fixa cresceu 26%, embora a rentabilidade média das maiores categorias desses produtos tenham recuado de mais de 13% ao ano para um patamar inferior a 9%. "Há um movimento de resgates desses fundos, mas ainda é muito pequeno. Boa parte das pessoas fica na zona de conforto e não repara que seus ganhos estão diminuindo", diz Myrian.
Segundo especialistas, a alternativa do pequeno investidor nesse cenário é procurar fundos e títulos de bancos menores, distribuídos por corretoras independentes - que praticam taxas mais baratas. "Mas é preciso prestar atenção no caso da reserva de emergência, que deve estar em aplicações que tenham liquidez - ou seja, recursos que possam ser resgatados a qualquer momento", diz a pesquisadora da FGV. "Para isso, uma opção é o Tesouro Selic."
Os grandes bancos, aos poucos, começam a adotar medidas nessa direção, embora ainda muito concentradas no segmento de alta renda. Gilberto Abreu, diretor de Investimentos do Santander, afirma que, no ano passado, o banco diminuiu as taxas de alguns fundos de renda fixa que estavam no patamar de 1% ao ano para 0,7% ou até 0,5%. No entanto, para aplicar nesses fundos, é necessário ter, ao menos, R$ 100 mil no banco.
Outra estratégia foi diminuir o tíquete de entrada de alguns desses produtos. "Fundos que antes eram restritos a investidores qualificados, com mais de R$ 1 milhão, agora, estão acessíveis para quem tem R$ 300 mil, por exemplo." Ele afirma que esse movimento irá continuar neste ano. "Devemos ver margens mais apertadas para que o cliente tenha a rentabilidade dele", destaca.
O Banco do Brasil, em nota, afirmou que "implementou a revisão de seu portfólio de fundos de renda fixa, voltados para o público de varejo e de varejo de alta renda, com o objetivo de ampliar o acesso de investidores a produtos com taxas menores e, assim, proporcionar ao cliente a oportunidade de melhor rentabilizar seus recursos". Procurados, Bradesco, Itaú e Caixa não comentaram.
 

Concorrência afeta Tesouro Direto, e novas aplicações caem ao nível de 2015

Em janeiro, o número de novos investidores ativos, ou seja, que fizeram, pelo menos, uma aplicação no mês no Tesouro Direto, voltou ao nível de três anos atrás. O saldo de 6,2 mil cadastros ativos no mês foi o menor desde maio de 2015, quando 3,43 mil pessoas compraram títulos do governo. Coqueluche dos investimentos em 2016, os títulos perderam terreno para a concorrência e acabaram desprestigiados com a queda da Selic. No total, o Tesouro tem, hoje, 572 mil cadastros ativos - apenas 30% dos inscritos no programa hoje, 1,9 milhão.
Essa queda ocorre, principalmente, porque o Tesouro saiu da roda de conversa para dar espaço a nomes como a bolsa e até a bitcoin. O boom de aplicações em 2016 e do início de 2017 foi quando a rentabilidade dos títulos estava muito elevada. "Quando os investidores estão aplicando muito em um produto, é porque ele foi bom (no passado), e não porque é bom (no momento)", resume o professor de finanças do Insper, Michael Viriato.
Outro fator que explica a queda mês a mês é o procedimento de atualização diária dos preços. Ao comprar um título, o investidor não precisa ficar com a aplicação até a sua data final. Ele pode vendê-lo a qualquer instante e, dependendo do cenário, aquele título pode ter valorização ou não em um determinado dia. Neste momento, com a derrubada dos índices de inflação e da Selic, taxa básica de juros da economia, alguns títulos antigos valem mais do que os novos. Isso permitiu aos investidores uma janela de oportunidade para a "realização de ganhos".
Paulo Marques, gerente institucional do Tesouro, explica que janeiro é um mês de muitos vencimentos. E, naturalmente, se o aplicador não encontra um cenário favorável, ele pode sacar o dinheiro e partir para outro investimento.
"Isso tem total relação com a queda dos juros", acredita Marcio Cardoso, sócio-fundador da Easynvest. Ele, no entanto, ainda considera positivo investir no Tesouro. Para isso, faz uma conta simples. Se, na próxima reunião do Copom, a Selic cair para 6,5% ao ano, com uma inflação de 3%, o aplicador ganharia algo próximo a 3,5% em um título indexado à taxa de juros.
Na outra ponta, Cardoso diz que a queda do Tesouro também pode ser explicada por uma parcela de investidores que migraram para opções mais rentáveis, como títulos privados ou debêntures. Esse movimento ocorre, em especial, por quem quer retornos no curto e médio prazos, aponta Roberto Indech, analista-chefe da Rico. Segundo ele, o Tesouro perdeu espaço também na propaganda das corretoras para produtos mais arriscados, como fundos multimercado e de ações.
Se, por um lado, o saldo de aplicadores ativos está em queda, por outro, o número de pessoas que apenas se cadastram no Tesouro continua alto - só em janeiro foram 82 mil novos inscritos. Segundo Marques, essa entrada é expressiva porque as corretoras inserem os seus clientes automaticamente no programa, mesmo que ele não faça aplicação. Com isso, o número de "clientes inativos" do Tesouro Direto é de 1,3 milhão de CPFs.