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Negócios Corporativos

- Publicada em 18 de Março de 2018 às 18:12

Suzano compraa rival Fibria

Operação deve fortalecer o Brasil no cenário da indústria papeleira

Operação deve fortalecer o Brasil no cenário da indústria papeleira


/LUCAS LACAZ RUIZ/FOLHAPRESS/JC
A Suzano, da família Feffer, anunciou, na sexta-feira, acordo para unir os negócios com sua maior rival, a Fibria, líder na produção global de celulose, criando uma gigante do setor, com produção de 11 milhões de toneladas. Após algumas tentativas frustradas no passado, as conversas para a união das duas empresas foram retomadas nas últimas semanas. A operação prevê troca de ações e o pagamento de R$ 29 bilhões da Suzano aos acionistas da Fibria para que os Feffer assumam o controle acionário da nova companhia, com fatia de 46,4%.
A Suzano, da família Feffer, anunciou, na sexta-feira, acordo para unir os negócios com sua maior rival, a Fibria, líder na produção global de celulose, criando uma gigante do setor, com produção de 11 milhões de toneladas. Após algumas tentativas frustradas no passado, as conversas para a união das duas empresas foram retomadas nas últimas semanas. A operação prevê troca de ações e o pagamento de R$ 29 bilhões da Suzano aos acionistas da Fibria para que os Feffer assumam o controle acionário da nova companhia, com fatia de 46,4%.
Pelo acordo, a união entre as duas empresas cria a quinta maior companhia em valor de mercado, avaliada em R$ 84 bilhões (incluindo dívidas), atrás de Petrobras, Ambev, Vale e Telefônica. A nova gigante da celulose terá quase o dobro de tamanho das empresas da família Widjaja, dona da Paper Excellence e da Asia Pulp and Paper (APP), que também estava no páreo pela Fibria. A família indonésia é sócia da Eldorado, ao lado da J&F, dos irmãos Batista.
Para selar o acordo, a Suzano precisou do aval dos acionistas controladores da Fibria - o grupo Votorantim e o braço de participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BndesPar), que possuem, respectivamente, fatias de 29,42% e 29,08% na líder de celulose. Tanto os Ermirio de Moraes quanto o BndesPar vão receber, cada um, cerca de R$ 8,5 bilhões em dinheiro. Os R$ 12 bilhões restantes vão para os acionistas minoritários.
O BndesPar, que também é acionista da Suzano, com 6,9% de fatia, ficará com uma participação 11,1% na nova empresa, e a família Ermírio de Moraes, com 5,6%. "Foi um alinhamento dos astros a concretização dessa operação", disse Walter Schalka, presidente da Suzano e um dos responsáveis pela condução das negociações.
Para viabilizar a união das empresas, a Suzano propôs pagar aos acionistas da Fibria R$ 52,50 por ação, corrigidos pelo CDI, além de 0,4611 ação da Suzano. A operação prevê emissão pela Suzano de 255 milhões de novas ações. Todas essas etapas só vão ocorrer quando as empresas receberem aval das autoridades de defesa da concorrência. A Suzano levantou US$ 9,2 bilhões com os bancos Mizuho, JP Morgan, BNP Paribas e Rabobank. O Itaú BBA, o escritório Cescon Barrieu e a consultoria financeira Riza assessoraram a Suzano. Já a Fibria contou com o banco Morgan Stanley e o escritório Tozzini Freire.
"Não teremos uma campeã nacional, mas uma gigante global com competitividade para fazer frente aos principais concorrentes", disse Paulo Rabello de Castro, presidente do Bndes, durante o anúncio oficial da união das duas empresas.
As ações das duas companhias fecharam como destaques da Bovespa, mas em sentidos opostos. Os papéis ordinários (ON) da Suzano dispararam 21,79%, a R$ 28,50, enquanto os da Fibria recuaram 10,22%, a R$ 64,25. O valor de mercado das duas empresas, juntas, na bolsa fechou em R$ 66 bilhões. A operação, com potencial para mudar a dinâmica do mercado global de celulose e que dará mais poder ao Brasil na queda de braço com a China, deve se destacar com uma das maiores transações de fusões e aquisições no mercado brasileiro deste ano.
Analistas dizem que o negócio é bom para as duas produtoras de celulose, mas que, no curto prazo, os acionistas da Suzano terão mais vantagens que os da Fibria, por causa do valor a ser pago pela primeira.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco S&P Global elevou o rating em escala global da Suzano de BB para BBB- e reafirmou a nota em escala nacional em brAAA. A perspectiva foi alterada de positiva para estável. Já o rating em escala global da Fibria foi reafirmado em BBB-, com perspectiva estável.
Em comunicado, a S&P comentou que a elevação da nota da Suzano reflete a visão da agência de que a empresa está "empenhada em conter sua alavancagem dentro dos limites de sua política financeira". Para a S&P, a transação feita pelas duas empresas "não fará com que a Suzano se desvie de seus padrões de alavancagem, dado o histórico da empresa e nossa confiança em termos do nível sustentável de métricas de crédito da Suzano".
 

Integrantes do Cade veem aquisição da companhia como 'complexa' e 'desafio' para o órgão

A compra da Fibria pela Suzano é vista como complexa por integrantes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ouvidos sob a condição de anonimato. Um integrante do conselho disse que a operação representará um "desafio" para o órgão.
O caso ainda não foi notificado ao conselho, que terá 240 dias, prorrogáveis por mais 90, para analisar a fusão. Advogados que atuam na área também disseram que a operação certamente será analisada com lupa e dificilmente seria aprovada sem nenhuma restrição pelo órgão antitruste.
O veto ou a imposição de fortes restrições ao negócio é uma preocupação das empresas, tanto que o próprio acordo firmado entre elas prevê o pagamento pela Suzano de uma taxa de R$ 750 milhões caso a fusão não possa ser concretizada, por exemplo, por imposição de autoridades antitrustes.
No mês passado, o Cade barrou a compra da Liquigás, detida pela Petrobras, pela Ultragaz. Com isso, o grupo Ultra teve que pagar uma "break-up fee" (multa) de R$ 280 milhões à estatal, até então a maior já paga no Brasil. Em 2017, o órgão também vetou a compra da rede de postos Ale pela Ipiranga, a do grupo de educação Estácio pela Kroton e a aquisição da Mataboi pelo grupo JBJ.
Para a advogada especialista em concorrência Patrícia Agra, as análises do Cade envolvendo o setor de celulose no passado entenderam que o mercado era muito concentrado e com muitas barreiras à entrada, como, por exemplo, a restrição a estrangeiros comprarem terras no Brasil. No entanto, as operações foram aprovadas porque o conselho acreditou que havia rivalidade entre grandes grupos econômicos com muita expertise no mercado, o que garantia a concorrência. "Nesse caso, são duas gigantes que disputavam entre si. A análise do Cade vai se concentrar no impacto da operação nessa questão, no nível da rivalidade após a fusão", explicou.
Em entrevista coletiva, o presidente da Suzano, Walter Schalka, procurou minimizar a possibilidade de que a aquisição da Fibria, anunciada na última sexta-feira, venha a enfrentar restrições de órgãos antitrustes. Ao tentar afastar a ideia de que a combinação das empresas poderá fortalecer o poder de influência do grupo na dinâmica internacional de preços, o executivo afirmou que a companhia continuará sujeita às forças de oferta e demanda que levaram à "grave volatilidade" nos preços internacionais da celulose nos últimos anos.
Schalka também pontuou que a participação de mercado da Suzano seguirá baixa se consideradas as fibras de diversas origens e assinalou que a empresa enfrenta grandes competidores nos mercados chinês, europeu e americano, de forma que espera concluir a operação sem ter que vender um ativo sequer. "Não entendemos que seja necessário vender ativos para aprovação. Vendemos commodities que múltiplos players fabricam em condição adequada", declarou.