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Comércio Exterior

- Publicada em 08 de Março de 2018 às 22:45

Trump oficializa tarifa de 25% sobre o aço

Presidente norte-americano exibe documento com sua assinatura

Presidente norte-americano exibe documento com sua assinatura


/MANDEL NGAN / AFP/JC
Numa medida de repercussão global, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira o ato que estabelece tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados pelo país, um dos maiores compradores mundiais desses insumos. O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, não foi poupado e estará sujeito à sobretaxa - o que deve desequilibrar a indústria siderúrgica nacional, que emprega cerca de 100 mil pessoas.
Numa medida de repercussão global, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira o ato que estabelece tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados pelo país, um dos maiores compradores mundiais desses insumos. O Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA, não foi poupado e estará sujeito à sobretaxa - o que deve desequilibrar a indústria siderúrgica nacional, que emprega cerca de 100 mil pessoas.
As tarifas passarão a valer em 15 dias. Por ora, apenas os vizinhos México e Canadá foram excluídos da medida, e assim permanecerão, a depender de como forem as renegociações do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte).
Mas Trump deixou aberta a possibilidade de modificar e renegociar as tarifas, desde que não haja ameaça à segurança nacional dos EUA. "Vamos ver quem nos trata com justiça e quem não", afirmou o presidente.
A medida tem o potencial de gerar uma guerra comercial global: a União Europeia já ameaçou retaliar produtos norte-americanos, como calças jeans Levi's, uísque do tipo bourbon, cranberries e até pasta de amendoim. Já o Brasil, que tentava renegociar a sobretaxa com o governo norte-americano, não exclui a possibilidade de levar a questão à OMC (Organização Mundial do Comércio).
No ano passado, o País exportou US$ 2,6 bilhões (cerca de R$ 8,5 bilhões) em aço aos Estados Unidos, principal comprador do produto brasileiro. "É uma alíquota extremamente alta e, com certeza, irá inviabilizar nossas exportações para lá", afirmou na semana passada o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. Os EUA respondem por um terço das exportações brasileiras de aço.
O ministério da Indústria e Comércio Exterior argumenta que o produto brasileiro não concorre com o norte-americano, que compra produtos semiacabados de aço. Além disso, o Brasil também é o principal comprador de carvão dos EUA - uma indústria igualmente cara a Trump, que prometeu revitalizar o setor e gerar empregos para seus trabalhadores, que votaram em peso no republicano.
O carvão norte-americano é especialmente usado na indústria siderúrgica do Brasil. Se sua produção for afetada pelas sobretaxas, as importações do produto, consequentemente, irão diminuir. "Vai ser um tiro no pé", afirmou Mello Lopes.
Trump assinou as tarifas com base numa lei do tempo da Guerra Fria, de 1962, que dá a ele a prerrogativa de estabelecer proteções comerciais com base na segurança nacional. Normalmente, a definição da política comercial cabe ao Congresso.
Um relatório do Departamento de Comércio norte-americano, produzido a pedido da Casa Branca, concluiu que a importação de aço e alumínio reduziu a capacidade siderúrgica nacional e, por isso, ameaça a indústria de defesa dos EUA. "O aço e o alumínio são a espinha dorsal da nação", declarou Trump nesta quinta-feira.
Mas o mandatário deixou claro que sua preocupação também é com os déficits comerciais do país - uma espécie de obsessão do republicano, aos quais atribui a perda de empregos na indústria -, e reclamou que os EUA não têm sido tratados com justiça por outros países. "Defesa e comércio andam lado a lado", disse o presidente.
Eleito com a promessa de colocar a "América em primeiro lugar", Trump tem intensificado as políticas protecionistas dos EUA. Uma de suas primeiras medidas foi retirar o país da Parceria Transpacífico, considerado o maior acordo comercial da história. Mais recentemente, ele impôs tarifas sobre máquinas de lavar e painéis solares da China, aumentou o número de investigações por dumping e está renegociando outros acordos comerciais, sempre sob o argumento de proteger o emprego dos norte-americanos.
 

Indústria norte-americana pode ser penalizada com a medida

 
Desde que Trump anunciou as tarifas, na semana passada, países de todo o mundo ameaçaram retaliar os EUA, e até mesmo políticos do Partido Republicano e indústrias americanas tentaram dobrar o presidente.
Os EUA não produzem aço e alumínio suficientes para dar conta da demanda interna. Os setores de construção, metalurgia, automotivo e petrolífero reclamaram efusivamente da medida, e devem ver os custos de produção aumentar.
Há a expectativa de que preços subam, outros setores econômicos sejam retaliados e haja a perda de quase 180 mil vagas de trabalho pelo país, segundo estudo da consultoria The Trade Partnership. Mas Trump não quis voltar atrás.
A imposição de tarifas enfrentava oposição dentro da própria Casa Branca. Nesta semana, o presidente perdeu um de seus principais assessores econômicos, Gary Cohn, ex-executivo do banco Goldman Sachs. Ele anunciou sua saída poucos dias depois da decisão sobre as taxas, às quais era contrário. "Ele é um globalista, mas eu ainda gosto dele", brincou Trump nesta quinta-feira.

Governo brasileiro afirma que tomará 'todas as ações necessárias' contra o ato protecionista

O governo brasileiro disse que recorrerá a "todas as ações necessárias" para preservar seus direitos e interesses após o presidente Donald Trump assinar decreto impondo sobretaxas na importação de aço e alumínio. "Ao mesmo tempo em que manifesta preferência pela via do diálogo e da parceria, o Brasil reafirma que recorrerá a todas as ações necessárias, nos âmbitos bilateral e multilateral, para preservar seus direitos e interesses", afirma nota assinada pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) e de Relações Exteriores.
Na nota, o governo afirma que as medidas causarão graves prejuízos às exportações brasileiras e terão "significativo" impacto negativo nas relações comerciais e de investimentos entre os dois países.
O decreto foi um balde de água fria nas esperanças do governo brasileiro, que ainda tentava excluir o Brasil da lista de países atingidos pela medida. Desde o início das investigações pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, no início de 2017, o Brasil e as siderúrgicas nacionais tiveram sucessivas reuniões em que reiteraram que os produtos brasileiros não representam riscos à indústria norte-americana e são complementares à indústria daquele país, já que 80% das exportações são insumos semiacabados. Além disso, o Brasil é o maior importador de carvão siderúrgico dos EUA, utilizado, justamente, para produzir o aço exportado aquele país.
O governo brasileiro afirmou ainda que as medidas norte-americanas minarão os esforços em curso no Foro Global do Aço, do qual os EUA fazem parte, que discute soluções para o excesso de capacidade mundial no setor siderúrgico, apontado como a verdadeira raiz dos problemas enfrentados pelo setor. Na nota, ainda afirmam que as medidas restritivas às importações de aço e alumínio são incompatíveis com as obrigações dos EUA em relação à Organização Mundial de Comércio (OMC) e não se justificam pela alegada questão de segurança nacional.
Para o gerente executivo da unidade de assuntos internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diego Bonomo, a decisão dos Estados Unidos vai flagrantemente contra as normas internacionais, já que, ao invés de abrir uma investigação sobre dumping, como seria a regra, utilizam uma legislação sobre segurança nacional. "É preocupante não só porque pode reduzir nossas exportações, mas porque os EUA estão adotando uma medida contrária às normas internacionais de forma intencional", afirma.