Uma das pesquisas mais antigas em operação no Brasil, a Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA), realizada desde 1992 pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), deve ser extinta.
Conforme a Associação dos Servidores da FEE (Asfee), a diretoria da fundação - cuja extinção foi aprovada na Assembleia Legislativa e se tornou lei no começo de 2017 - anunciou que as atividades de campo serão encerradas até o fim deste mês.
Com o fim da coleta de dados primários, a pesquisa passará a utilizar apenas dados disponibilizados por órgãos e instituições nacionais, como IBGE e Ministério do Trabalho, o que, conforme técnicos envolvidos diretamente na PED, de fato, extingue o levantamento.
"Uma pesquisa de mercado de trabalho é necessariamente uma pesquisa com questionários, com uma amostra planejada, um volume grande de municípios selecionados", detalha a coordenadora nacional do Sistema PED, Lúcia dos Santos Garcia. "Com a extinção da PED, será feito apenas um levantamento pueril de dados secundários. Não existe metodologia nisso", sustenta.
Para Garcia, a própria utilização dos dados do IBGE e do Ministério do Trabalho como substituição para a PED também pode ser questionada. Sobre os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ela destaca que são estes dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho por meio de informações empresariais, não incluindo o mercado informal, os desempregados ou mesmo novas formas contratuais.
Ao comentar a utilização dos dados do IBGE como forma de substituir a metodologia atual da pesquisa, a técnica do Dieese e também responsável pela PED Virgínia Donoso explica que esses dados são "muito mais rasos do que os dados que a PED coleta, porque são de todo o Estado, sem fazer análises por regiões".
Para Oliveira, pesquisa será remodelada; Lúcia Garcia diz que mudanças extinguem a PED. Fotos: FEE/DIVULGAÇÃO e ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
A diretoria da FEE tem uma visão diferente. Entende que a pesquisa apenas passará por uma remodelação, sem prejuízos para o estudo. "O modelo de pesquisa que se vinha usando até hoje é mais caro e não se justifica mais, numa época de acesso fácil à informação, de internet", defende o presidente da FEE, Miguel Oliveira.
Segundo Oliveira, não há mais recursos para manter a pesquisa, que custaria em torno de R$ 1 milhão por ano aos cofres da União, além dos cursos administrativos e de pessoal bancados pela FEE. Dos 19 servidores atuais envolvidos exclusivamente com a PED, apenas quatro seguirão nessas atividades, enquanto os outros serão realocados para projetos distintos dentro da fundação.
Lúcia Garcia rebate essa visão explicando que, ao falar em remodelação, o governo oculta que, de fato, a pesquisa será extinta. "Para o que fazemos, não existe substituto. É como trocar uma Ferrari por um triciclo que mal anda", compara. "O governo tem mandato para decidir extinguir um levantamento, mas deve ser claro em relação a isso", diz. Conforme ela, não houve diálogo do poder público com as instituições que realizam a pesquisa. "As decisões foram unilaterais, sem abrir caminho para uma conversa que buscasse uma alternativa", conta.
A PED é reconhecida, desde 2004, como uma política pública pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat). A pesquisa faz um levantamento detalhado do mercado de trabalho gaúcho, sondando cerca de 75 mil indivíduos por ano e incluindo enfoques como a mulher e o negro no mercado de trabalho.
Segundo o Dieese, entre as utilidades da pesquisa está a orientação de políticas públicas do trabalho, a orientação de empresários quanto a contratações, remunerações e expansão de negócios e a orientação de trabalhadores para a mesa de negociações.