Líder e fundador do Talking Heads, criador da gravadora Luaka Bop, fotógrafo, diretor cinematográfico, autor e artista, também já tendo publicado e exibido artes visuais por mais de uma década. O currículo do músico David Byrne é extenso, bem como a sua a carreira no mercado da música, que não andava tão movimentada desde a produção teatral de 22 músicas em Here lies love (2013). Agora, o escocês (que foi para os Estados Unidos com sete anos de idade) vem para Porto Alegre como um side show do festival Lollapalooza - parte da turnê de American Utopia, álbum solo do músico.
O espetáculo é amanhã, no Pepsi On Stage (Severo Dulius, 1.995), a partir das 21h30min, com apresentações de abertura às 19h30min com o gaúcho Antonio Villeroy e às 20h15min por conta de Karina Zeviani (paulista ex-vocalista do duo de DJs norte-americanos Thievery Corporation e que integrou o coletivo francês Nouvelle Vague, desde 2010 radicada no Rio de Janeiro). Os ingressos custam entre R$ 200,00 e R$ 500,00 - à venda na bilheteria oficial, FNAC do BarraShoppingSul (Diário de Notícias, 300) e
pela internet. Outros side shows do Lolla em que o artista também se apresenta são em 28 e 29 de março, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
As performances de Byrne fazem parte da turnê promocional de seu mais novo disco, American Utopia, que está disponível desde 9 de março. É o primeiro trabalho do músico desde Grown Backwards, de 2004. O novo LP serve como um componente musical para um projeto multimídia, Reasons to be cheerful, que busca disseminar mensagens positivistas nos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump, a quem Byrne desaprova. "Percebi que estava cada vez mais irritado e deprimido com a situação do mundo, ou pelo menos do local onde vivo. Mas, às vezes, notava coisas que me deixavam um pouco esperançoso", disse o artista à agência France-Presse em seu escritório no bairro do SoHo, Nova Iorque.
American Utopia é uma mudança de tendência para o pioneiro do gênero new wave, uma expressão do poder de pensamento e da visão que Byrne tenta passar sobre o momento em que vivemos, como em Everybody's coming to my house, que fala sobre como somos apenas turistas, passageiros na vida; e Every day is a miracle, crítica ao governo do presidente Trump e ao fato de o povo do país ter de enfrentar a convivência com sua figura. O álbum de 10 músicas, que totalizam 37 minutos, é uma reunião de diferentes gêneros musicais, como a eletrônica, o rock experimental e o indie.
O grande apoiador do álbum é o músico Brian Eno, responsável pela produção e composição da grande maioria das faixas presentes no disco. A parceria de longa data entre os dois surgiu em 1978, quando Eno se juntou ao Talking Heads para o álbum More songs about buildings and food. Eno o acompanhou na carreira solo também, quando Byrne lançou o disco My life in the Bush of ghosts, e voltaram a trabalhar juntos em Everything that happen today, que explora temas de humanidade versus a tecnologia, bem como o otimismo apesar das circunstâncias que enfrentamos. O disco é uma mistura entre música eletrônica e gospel.
Como seu currículo aponta, Byrne possui experiências em outras áreas e não ficou restrito à música, com produções recentes de atividades em diferentes campos, como a peça Joan of Arc: Into the fire, que estreou no The Public Theater de Nova Iorque em 2017, além da série de ambientes interativos que indaga sobre a percepção humana e seus preconceitos, intitulada de The Institute Presents: Neurosociety (2016). Outras produções recentes de David Byrne valem ser destacadas, como Contemporary color, Love this giant e How music works.
O multiartista é amigo próximo da cantora Karina Zeviani, atração de abertura em todos os espetáculos no País, assim como conhecedor e apreciador da música brasileira contemporânea e das antigas. Ele já gravou com Tom Zé (Massive Hits, 1990), Caetano Veloso (Live at Carnegie Hall, 2012), Margareth Menezes e Vinicius Cantuária, entre outros nomes daqui.
Byrne também participou do documentário musical O homem que engarrafava nuvens (2010), de Denise Dummont sobre a vida de seu pai, Humberto Teixeira - compositor, advogado, deputado e criador das leis de direitos autorais. Parceiro de Gonzagão, Teixeira era chamado de "Doutor do Baião". Os dois assinaram a canção ícone do sertão Asa Branca, para a qual o escocês-norte-americano fez uma versão em inglês. No filme, ele aparece tocando a música em Nova Iorque, com um chapéu de cangaceiro no palco, ao lado de uma banda de brasileiros, Forro in the Dark. O músico estrangeiro destaca, na produção, entender a mensagem da letra original, sobre a saudade da terra.
Villeroy, porém, a atração deste Lollapalooza não conhecia pessoalmente. O nome do brasileiro estava entre as sugestões que a produção elaborou e foi escolhido depois de Byrne curtir alguns vídeos do gaúcho via músicos da sua banda. O show, de cerca de meia hora, será de voz e violão, com canções mais pop do repertório do compositor, entre elas, Tolerância.