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Cultura

- Publicada em 16 de Março de 2018 às 09:15

Em pedaços: filme 'esnobado' pelo Oscar é tragédia dividida em três atos

Filme rendeu a Diane Kruger o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes

Filme rendeu a Diane Kruger o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes


IMOVISION/DIVULGAÇÃO/JC
Ricardo Gruner
Pode-se dizer que Em pedaços, filme do alemão Fatih Akin, esteve na lista dos "esnobados" pelo Oscar de 2018. O longa-metragem venceu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e, meses antes, rendeu a Diane Kruger, que interpreta uma mãe lidando com a perda da família, o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes. Na maior premiação do cinema norte-americano, no entanto, o longa não ficou entre os cinco concorrentes à estatueta destinada a produções rodadas em língua não inglesa. Em cartaz desde quinta-feira, a obra apresenta o drama da protagonista em meio a um contexto recheado de questionamentos sociais.
Pode-se dizer que Em pedaços, filme do alemão Fatih Akin, esteve na lista dos "esnobados" pelo Oscar de 2018. O longa-metragem venceu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e, meses antes, rendeu a Diane Kruger, que interpreta uma mãe lidando com a perda da família, o prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes. Na maior premiação do cinema norte-americano, no entanto, o longa não ficou entre os cinco concorrentes à estatueta destinada a produções rodadas em língua não inglesa. Em cartaz desde quinta-feira, a obra apresenta o drama da protagonista em meio a um contexto recheado de questionamentos sociais.
O título pode ser considerado uma tragédia dividida em três atos - delimitados pelo roteiro, como capítulos de um livro. Primeiro, em A família, há o choque desta instituição desfeita; depois, em Justiça, o julgamento, quase como um típico filme de tribunal; e então, em O mar, a vida após a decisão judicial. Mesmo que o luto sirva como ponte entre os episódios, são os temas políticos, como migração e xenofobia, aqueles que movem os aspectos mais instigantes da narrativa. Tudo aparece camuflado em um enredo de apelo popular, mas sem cair nas armadilhas do sentimentalismo.
Atriz com carreira internacional, Diane Kruger já estrelou série nos Estados Unidos e contracenou, em filmes, com nomes como Brad Pitt, Nicolas Cage e Liam Neeson. Em pedaços, no entanto, é a primeira produção alemã em que atua, mesmo tendo nascido no país. Na trama, ela interpreta Katja Sekerci. A personagem principal casou-se com o homem que lhe vendia drogas, o turco Nuri (Numan Acar), enquanto ele estava na prisão. Anos se passaram, e seu marido se tornou um exemplo de homem reabilitado. Para desespero da protagonista, tudo se perde com a explosão de uma bomba: Nuri e o filho do casal, o menino Rocco, são as vítimas fatais de um artefato colocado em frente ao escritório em que estavam.
A partir de então, a narrativa vai levantando questões referentes a preconceitos, à eficácia do sistema, ao crescimento da extrema direita, ao fascismo escondido em entrelinhas e às diversas cicatrizes deixadas pela violência. Os responsáveis pela investigação insistem em tentar relacionar o episódio ao passado de Nuri como traficante. Outras hipóteses, como a ligação com militância política ou religião, também são levantadas - e descartadas por Katja. Aos olhos dela, não há dúvidas de que o crime foi cometido por neonazistas.
Em pedaços usa o ponto de vista da jovem viúva para mostrar ao espectador o desenvolvimento da história. Ou seja, as informações são dadas à personagem e ao público ao mesmo tempo. De performance intensa, que lhe exigiu meses de preparação, Diane Kruger carrega o filme. Só as cenas em que sua personagem reage a detalhes na corte seriam o suficiente para justificar os elogios a seu trabalho, mas a atriz desenvolve uma personalidade cujas feridas vêm à tona de diferentes maneiras.
Já Fatih Akin ganhou projeção em 2007, quando recebeu o prêmio de melhor roteiro em Cannes por Do outro lado, título também dirigido por ele e estrelado por personagens turcos e alemães. Não é à toa: o próprio cineasta tem ascendência turca.
Em tempos nos quais se debate inclusão e preconceitos, seu novo filme toca em pontos de interesse internacional. Há amor no drama, através de vídeos caseiros que abrem os capítulos, mas também ódio e dor em camadas que passam longe do moralismo. Se, por um lado, o roteiro não deixa de apresentar uma história sobre pais e filhos em momentos de turbulência (tema que aparece de forma recorrente, mas sutil); ao final, há uma mensagem que relaciona o enredo a episódios reais. O peso do que se viu, claro, só aumenta. Apesar de ficcional, o longa-metragem tem como inspiração os crimes cometidos pela célula terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista ao longo da década passada.
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