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Opinião

- Publicada em 07 de Fevereiro de 2018 às 15:04

Brasil divide os 365 dias do ano em várias partes

Se fosse escolhida uma nação com mais paradoxos, certamente seríamos um dos ponteiros, se não a cabeça da baleia. Convivemos diariamente com um estado de coisas que fingimos não ver e, quando os vemos, ficamos surpresos quando algum estrangeiro chama nossa atenção para certas incongruências.
Se fosse escolhida uma nação com mais paradoxos, certamente seríamos um dos ponteiros, se não a cabeça da baleia. Convivemos diariamente com um estado de coisas que fingimos não ver e, quando os vemos, ficamos surpresos quando algum estrangeiro chama nossa atenção para certas incongruências.
Vamos começar com uma cultura praticada há dezenas de anos, os horários dos ônibus intermunicipais. Eles saem da Estação Rodoviária pontualmente com cinco minutos de atraso. Ah, dirão, mas é para dar tempo a quem se atrasou por um motivo ou outro. Pois é esse o problema: não deveríamos nos atrasar seja para o ônibus, para o início de uma peça de teatro ou outras manifestações culturais, políticas e administrativas.
Mas está lá, escrito no tíquete ou na passagem, que o horário não contempla os minutos a mais. Já nem se fala de compromissos de políticos e governantes. Neste caso é dupla: nem eles, nem a plateia chegam no horário aprazado.
Se os minutos e as horas podem ser peça de ficção, é perfeitamente lógico que o calendário anual também fosse divido. Houve tempo em que se dizia que o ano só começava depois do Carnaval, o que é uma realidade, de certa forma, compreensível por causa das justas e merecidas férias nos meses de verão. A população que não pode sair de férias por um motivo ou outro sofre efeitos colaterais como a precariedade de serviços de toda ordem, privada - como Copa do Mundo ou Olimpíadas - ou pública. Aí se encaixam os recessos.
Todos os poderes engatam ponto morto e até desligam o motor, sem deixar uma brecha para plantões. Mas até aí seria algo tolerável, não fosse o fato de o ano não se dividir apenas em antes e depois do tríduo momesco. Não, nós somos caprichosos, vamos muito além de ter apenas dois anos em um.
Em anos eleitorais, nem Executivo, nem Legislativo tomam decisões vitais, porque não convém irritar o eleitor, pois todos precisam do seu precioso voto para se reeleger. E, quando passa o pleito e os eleitos tomam posse, vem o período de adaptação, que, em muitos casos, é quase um realismo fantástico, porque alguns levam os quatro anos do mandato para se adaptar. Ou usam como desculpa. Não me comprometa, como diz o povo.
Mesmo que os ungidos pelas urnas façam a coisa certa e exerçam mandatos com zelo, vem aí outro aspecto que deveria ser levado em conta em qualquer reforma mínima do sistema eleitoral brasileiro, o efetivo tempo em que os governantes realmente cumprem.
Não são quatro anos para quem se elege pela primeira vez, são dois. O primeiro ano é para tomar pé e verificar a profundidade do rio. Então se azeita a máquina com novos titulares e são defenestrados até fieis servidores de carreira. No segundo ano, começa efetivamente o governo - sempre depois do Carnaval, claro -; e no terceiro, o maquinista da locomotiva pode exercer plenamente seu plano de governo, isso se tiver votos suficientes nos respectivos parlamentos. O quarto não vale, porque é ano eleitoral, não se toma decisões em anos eleitorais.
Aliás, no meio do mandato, há sempre eleições municipais, que, em determinados casos, também se governa com prudência acima do necessário.
Então somos um país de vários anos em um só, e é essa a toada que nos rege. Mas em um país em que "pois sim" quer dizer não e "pois não" quer dizer sim, não há motivos para maiores espantos ao fim e ao cabo.
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