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Teatro

- Publicada em 29 de Janeiro de 2018 às 14:37

Releitura exemplar de Simões Lopes Neto

Baila melancia foi uma das atrações do Porto Verão Alegre

Baila melancia foi uma das atrações do Porto Verão Alegre


LUIS PAULOT/DIVULGAÇÃO/JC
Uma surpresa agradabilíssima foi o que nos revelou o grupo Rococó, com o espetáculo Baila melancia, que, infelizmente, teve apenas duas performances, num mesmo dia, em sessões à tarde e à noite. O trabalho, sob qualquer enfoque, merece destaque, reconhecimento e valorização. Primeiro, por buscar um tema regional, que, na verdade, é nacional e ibérico. Aqui no Sul, o tema de Coco verde e melancia é conhecido graças a um conto de João Simões Lopes Neto. Na verdade, a narrativa, com pequenas variantes, sobrevive em todo o Nordeste brasileiro, como já o evidenciou Câmara Cascudo. Mas Mozart Pereira Soares, numa de suas últimas obras, desenvolveu um simpático romance em torno do mesmo tema, que é um romance de amor proibido entre uma jovem e um rapaz, o que leva os dois namorados a se corresponderem através de mensagens cifradas: ela seria a Melancia, ele, o Côco Verde.
Uma surpresa agradabilíssima foi o que nos revelou o grupo Rococó, com o espetáculo Baila melancia, que, infelizmente, teve apenas duas performances, num mesmo dia, em sessões à tarde e à noite. O trabalho, sob qualquer enfoque, merece destaque, reconhecimento e valorização. Primeiro, por buscar um tema regional, que, na verdade, é nacional e ibérico. Aqui no Sul, o tema de Coco verde e melancia é conhecido graças a um conto de João Simões Lopes Neto. Na verdade, a narrativa, com pequenas variantes, sobrevive em todo o Nordeste brasileiro, como já o evidenciou Câmara Cascudo. Mas Mozart Pereira Soares, numa de suas últimas obras, desenvolveu um simpático romance em torno do mesmo tema, que é um romance de amor proibido entre uma jovem e um rapaz, o que leva os dois namorados a se corresponderem através de mensagens cifradas: ela seria a Melancia, ele, o Côco Verde.
No espetáculo idealizado, dirigido e ricamente coreografado por Guilherme Ferrêra, o enfoque é parcialmente modificado para se enfatizar a questão da violência contra as mulheres. Se no tema original o final é feliz, aqui, ele é trágico. Mas o desenvolvimento de todo o tema, assim como enfocado pelo grupo, é muito bem trabalhado e tem consistência. Este é o segundo mérito do trabalho.
O terceiro mérito é o conceito do espetáculo. Mesclando dança, canto e diálogos, a performance de cerca de uma hora de duração é dinâmica, vívida, prende a atenção e se desenrola sempre com novidades na maneira como a cena é constantemente variada e apresentada. A coreografia tradicional é renovada. Como todos os intérpretes parecem ter formação de dança clássica, o resultado é uma movimentação leve e graciosa, que valoriza a masculinidade dos homens e realça a sensibilidade feminina, para o que ajuda a maquiagem excelente (valia a pena registrar seu responsável no programa do espetáculo) e o bom treinamento de expressões faciais, devidamente valorizadas. Também os figurinos de Vera Lúcia Machado e a iluminação de Norton Goettems completam o trabalho, realçando a cena, permitindo entradas e saídas para troca de figurinos ou modificação do ritmo dramático, de modo que o espetáculo não perde, em momento algum, seu ritmo.
Registre-se, enfim, a qualidade dos intérpretes. Aparentemente, todos eles têm formação de dança clássica e de danças regionais. Por vezes, escorregaram na entonação, mas com o calor que fazia na tarde de sua apresentação, apesar do ar-condicionado, o que dizer? Alessandro Bier, Clarissa Gomes, Fernando Queiroz, Henrique Gonçalves, Janaína Dambros, Luísa Oliveira, Raphael de Paula e Renato Stein merecem os maiores elogios pela disciplina absoluta com que desempenham suas funções e papéis. A trilha sonora de Leandro Berlesi e Flávia Nogueira é excelente: reúne peças tradicionais, obras contemporâneas e me parece que uma ou outra composição especificamente criada para o espetáculo. Precisaria, no entanto, ser inteiramente regravada por um único conjunto musical e em estúdio, afim de não ficar muitas vezes distorcida, como ocorreu.
Baila melancia é um belo exemplo de como temas tradicionais podem ser (re)utilizados e (re)lidos criativamente. Mais que isso, evidencia como muitos desses temas, aparentemente esquecidos e ultrapassados, podem ser revitalizados e atualizados de maneira crítica, de modo a chamar a atenção para aquilo que, na tradição, havia sido encoberto, mas que, sem perder seu interesse e valor, precisa ser compreendido sob outra perspectiva. Tive imenso prazer em assistir a este trabalho, sobretudo ao verificar que se trata de um grupo formado por jovens artistas, que mostram valorizar suas raízes, mas que não perderam a capacidade de pensar e de refletir a respeito de suas realidades.
Está saindo melhor que a encomenda este Porto Verão Alegre de 2018!
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