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Teatro

- Publicada em 18 de Janeiro de 2018 às 23:40

Sem Eva Todor, infelizmente

No finalzinho de 2017, aos 98 anos de idade, morreu a atriz Eva Todor, húngara de nascimento, que veio fugida, ainda menina, com seus pais, da perseguição nazista. Herdeira de uma família de classe média europeia, de boa formação cultural e artística, encontrou, nos próprios pais, o apoio para sua carreira. Assim, estudou música, balé, teatro, e acabou estreando, ainda menina, no palco. Antes dos 20 anos, profissionalizou-se no teatro de revistas, vindo a casar-se com Luiz Iglésias, diretor, produtor e dramaturgo, quase vinte anos mais velho do que ela, que passou a orientar sua carreira. Iglésias faleceria repentinamente e Eva, meses depois, iniciaria relacionamento com o ator e depois produtor Paulo Nolding, amigo do casal, e que foi seu segundo marido até sua morte, numa relação de 24 anos.
No finalzinho de 2017, aos 98 anos de idade, morreu a atriz Eva Todor, húngara de nascimento, que veio fugida, ainda menina, com seus pais, da perseguição nazista. Herdeira de uma família de classe média europeia, de boa formação cultural e artística, encontrou, nos próprios pais, o apoio para sua carreira. Assim, estudou música, balé, teatro, e acabou estreando, ainda menina, no palco. Antes dos 20 anos, profissionalizou-se no teatro de revistas, vindo a casar-se com Luiz Iglésias, diretor, produtor e dramaturgo, quase vinte anos mais velho do que ela, que passou a orientar sua carreira. Iglésias faleceria repentinamente e Eva, meses depois, iniciaria relacionamento com o ator e depois produtor Paulo Nolding, amigo do casal, e que foi seu segundo marido até sua morte, numa relação de 24 anos.
Assim se pode resumir a vida pessoal da atriz Eva Todor. Sua vida artística, de certo modo, é até mais simples ou mais complexa, conforme ela mesma admite, numa longuíssima entrevista concedida a Simon Khoury (Editora Letras & Expressões, 2001): nunca teve maiores dificuldades em alcançar sucesso, pois estreou com o pé direito, teve sempre uma boa orientação (que seguiu) e alcançou sucesso constante. Formou uma companhia, das mais estáveis, ao longo de pouco mais de duas décadas. Teve alguma experiência de cinema, alcançou grandes momentos na televisão e, praticamente até sua morte, viveu papéis significativos. Para ela, talento é um dom, ainda que reconheça que o aprendizado técnico seja fundamental. Eva Todor orgulhou-se, sempre, de ter cultivado amizades, de ter praticado a humildade e de ter sabido aproveitar oportunidades (a rima é involuntária mas, de certo modo, serve para expressar a melodia em que, de certo modo, constitui-se a experiência de sua vida profissional.
Tive a oportunidade de entrevistar a grande atriz algumas vezes, quando de minhas atividades como jornalista cultural, e cheguei a conviver com ela e Paulo, ao longo de uma semana, quando Eva presidiu o júri do Festival de Teatro de Pelotas, que então ocorria naquela cidade, sob patrocínio da prefeitura municipal, e do qual eu fazia parte como jornalista. A simpatia, a educação, a disponibilidade, a afabilidade - conosco, seus companheiros de júri mas que, evidentemente, ficávamos sempre lhe devendo em importância e conhecimento da arte dramática, e a todo o público. Nestas ocasiões, eu costumava viajar com meu carro, e embora a gente ficasse hospedado no hotel - na época - mais simpático da cidade, gostávamos de, às vezes, visitar outras cidades, para almoçar (não jantar, é claro, por força dos espetáculos). Combinávamos horário e Eva e Paulo jamais chegavam atrasados. Ela mostrava-se sempre interessada nas coisas da paisagem (física e humana) e nas comidas, evidenciando um humor que poderia ser surpreendente não fora ela de origem judia.
Há pouco dias, após sua morte, assisti a uma entrevista sua na TV Brasil, programa Recordar é TV, de 1959, apresentado - vejam lá! - por Ziraldo! A bela, feliz e oportuna decisão desta reprise serviu para reavivar algumas lembranças da atriz: primeiro, seu sotaque. Ela nunca conseguiu adaptar-se totalmente à língua brasileira. Como ela mesmo reconhece, sempre trocou os "os" fechados pelos abertos, e vice-versa, além de carregar nos erres. Isso atrapalhou sua dicção? Pelo contrário, tornou-a referencial. Quem assistisse a um espetáculo seu dava-se conta inclusive da musicalidade da língua brasileira pela corretíssima e cuidado escansão da frase... coisa rara nos atores de hoje em dia, que, às vezes, comem os esses finais ou sílabas inteiras de algumas palavras.
Eva Todor morreu e o público brasileiro perdeu uma de suas grandes atrizes. Imagens como aquelas de Em família, de Vianinha, que ela protagonizou no cinema, ou Senhora da Boca do Lixo, peça de Jorge Andrade, que ela viveu no palco e na televisão, serão lembranças permanentes. Felizmente, hoje em dia, temos o cinema e o vídeo-tape, capazes de registrar e guardar cenas, interpretações e personagens inesquecíveis, que se tornam, obrigatoriamente, referências para todo aquele que pretende subir ao palco.
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