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Cinema

- Publicada em 18 de Janeiro de 2018 às 23:40

A força da palavra

O novo filme de Joe Wright, O destino de uma nação, pode não ter a estatura que uma personalidade como Winston Churchill merecia. Mas a obra não é apenas um recital de Gary Oldman, que oferece à plateia um desses trabalhos merecedores de todos os elogios. O intérprete, que já viveu na tela a figura de Beethoven e que chegou mesmo a mostrar no papel de Drácula que ainda havia espaço para ineditismos depois de vários atores terem brilhado no papel, parece capaz de criar na tela qualquer personagem, mesmo o de uma figura histórica como a do mais notável entre todos os que exerceram o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido. Só pela atuação de Oldman no papel de Churchill, o filme de Wright já merece ser visto. Mas seus méritos ultrapassam os limites de um filme de ator. Desde Woodrow Wilson, em filme de Henry King, passando por Leon Trotsky, visto por Joseph Losey, e Nelson Mandela, colocado na tela por Clint Eastwood, o cinema não tem esquecido pelo menos alguns dos mais destacados protagonistas da história no século passado, recriados por atores como Alexander Knox, Richard Burton e Morgan Freeman. O próprio Churchill já foi vivido por vários intérpretes famosos, para não falar em pequenas aparições, como em Sinfonia de Paris, de Vincente Minnelli, e, mais recentemente, em Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino. Mas esta recriação de sua participação como protagonista de um momento crucial da história é, sem dúvida, a mais notável. O filme de Wright está muito distante de uma obra-prima como Dunkirk, de Christopher Nolan, reconstituição de um episódio decisivo, excepcional como realização e por atualizar as sugestões nele contidas, mas tal constatação não deve fazer com que não se aprecie e aplauda os méritos que se espalham pela narrativa do filme agora em exibição.
O novo filme de Joe Wright, O destino de uma nação, pode não ter a estatura que uma personalidade como Winston Churchill merecia. Mas a obra não é apenas um recital de Gary Oldman, que oferece à plateia um desses trabalhos merecedores de todos os elogios. O intérprete, que já viveu na tela a figura de Beethoven e que chegou mesmo a mostrar no papel de Drácula que ainda havia espaço para ineditismos depois de vários atores terem brilhado no papel, parece capaz de criar na tela qualquer personagem, mesmo o de uma figura histórica como a do mais notável entre todos os que exerceram o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido. Só pela atuação de Oldman no papel de Churchill, o filme de Wright já merece ser visto. Mas seus méritos ultrapassam os limites de um filme de ator. Desde Woodrow Wilson, em filme de Henry King, passando por Leon Trotsky, visto por Joseph Losey, e Nelson Mandela, colocado na tela por Clint Eastwood, o cinema não tem esquecido pelo menos alguns dos mais destacados protagonistas da história no século passado, recriados por atores como Alexander Knox, Richard Burton e Morgan Freeman. O próprio Churchill já foi vivido por vários intérpretes famosos, para não falar em pequenas aparições, como em Sinfonia de Paris, de Vincente Minnelli, e, mais recentemente, em Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino. Mas esta recriação de sua participação como protagonista de um momento crucial da história é, sem dúvida, a mais notável. O filme de Wright está muito distante de uma obra-prima como Dunkirk, de Christopher Nolan, reconstituição de um episódio decisivo, excepcional como realização e por atualizar as sugestões nele contidas, mas tal constatação não deve fazer com que não se aprecie e aplauda os méritos que se espalham pela narrativa do filme agora em exibição.
Nolan e Wright terminam seus relatos com o célebre discurso de Churchill no Parlamento, aquele no qual, após o sucesso da operação que trouxe de volta à Grã-Bretanha os militares encurralados em Dunquerque, acontecimento pela primeira vez levado ao cinema por William Wyler em A rosa da esperança. Esse discurso, uma demonstração eloquente e poderosa da força da palavra, já foi definido como uma colocação da língua inglesa no campo de batalha, definição esta atribuída no filme a Edward Halifax, ministro das Relações Exteriores e um dos adversários de Churchill dentro do Partido Conservador. É o momento em que, após ser dominado pela indecisão, o protagonista se decide pelo confronto e, através de uma peça oratória que parece saída de Henrique V, faz com que o apoio necessário seja alcançado. Mas o diretor Wright não pratica a arte da hagiografia. O Churchill que vemos na tela não é aquele líder imaculado, tão apreciado pelos realizadores de panegíricos. O cineasta procura mostrar, por vezes recorrendo a licenças poéticas e mesmo a alguns recursos artificiais, como a cena do metrô, que uma crise de tal porte exige uma personalidade incomum, mas que a ação de um indivíduo de tal grandeza não apaga imperfeições e idiossincrasias. Wright procura sintetizar tal tema no relacionamento do primeiro-ministro com sua secretária, durante o qual a aproximação entre o líder e a nação vai se tornando cada vez mais sólida, depois da agressividade ser controlada.
Em certo sentido, portanto, a cena do metrô é desnecessária, pois apenas reforça o que já havia sido anteriormente mostrado. Parece que o realizador subestimou a capacidade da plateia, mesmo que tal fragmento tenha o mérito da atualização, ao colocar em cena o tema da igualdade racial, algo diretamente relacionado ao inimigo a ser enfrentado. Mas a importância maior reside no confronto entre um obstinado defensor dos valores da cultura humana e um grupo de políticos dispostos a se submeter a um irracionalismo diante da qual era impossível qualquer forma de diálogo. E, ao se aproximar da grandiosidade de tal figura, o filme não esquece o humor, algo tão apreciado por quem afirmou, certa vez, que não temia o julgamento da história, até porque ele mesmo é quem a escreveria. Porém, o mais importante é o elogio àquele que, na hora mais escura, foi a luz que guiou a civilização diante da maior ameaça.
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