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Cinema

- Publicada em 04 de Janeiro de 2018 às 22:18

Quarteto

Woody Allen, aos 82 anos, mantém a regularidade do início de sua carreira como cineasta. Mesmo que tenha realizado uma série de seis episódios para a televisão e encenado uma ópera - Gianni Schicchi, de Puccini -, ele não interrompe a continuidade e prossegue apresentando ao público um filme por ano. A ópera por ele dirigida chegou a ser exibida aqui, quase clandestinamente, sem divulgação, num desses ciclos dedicados ao gênero que alguns cinemas têm colocado em horários impróprios. O público, portanto, ficou praticamente impossibilitado de conhecer esta experiência do diretor, que também é músico, num gênero que ele aprecia, a se julgar por várias cenas em sua filmografia, permanecendo de certa forma inédito, portanto, seu olhar para uma sociedade movida pela ambição e adepta da farsa para atingir o poder e a riqueza. Seu novo filme, o do ano 2017, não é uma comédia, este gênero que domina a filmografia do realizador e que já foi definido como um drama disfarçado. Roda gigante também não é apenas mais um título a aumentar a extensão de uma filmografia. É, na verdade, outro trabalho a revelar que a imaginação do cineasta parece inesgotável. Assim, enquanto ele realiza seu novo filme, é possível constatar que o atualmente em cartaz, contendo novas variações sobre os temas prediletos do cineasta, além de ser peça que se harmoniza com a obra anterior, traz elementos novos, sendo assim elemento inegavelmente enriquecedor de uma filmografia.
Woody Allen, aos 82 anos, mantém a regularidade do início de sua carreira como cineasta. Mesmo que tenha realizado uma série de seis episódios para a televisão e encenado uma ópera - Gianni Schicchi, de Puccini -, ele não interrompe a continuidade e prossegue apresentando ao público um filme por ano. A ópera por ele dirigida chegou a ser exibida aqui, quase clandestinamente, sem divulgação, num desses ciclos dedicados ao gênero que alguns cinemas têm colocado em horários impróprios. O público, portanto, ficou praticamente impossibilitado de conhecer esta experiência do diretor, que também é músico, num gênero que ele aprecia, a se julgar por várias cenas em sua filmografia, permanecendo de certa forma inédito, portanto, seu olhar para uma sociedade movida pela ambição e adepta da farsa para atingir o poder e a riqueza. Seu novo filme, o do ano 2017, não é uma comédia, este gênero que domina a filmografia do realizador e que já foi definido como um drama disfarçado. Roda gigante também não é apenas mais um título a aumentar a extensão de uma filmografia. É, na verdade, outro trabalho a revelar que a imaginação do cineasta parece inesgotável. Assim, enquanto ele realiza seu novo filme, é possível constatar que o atualmente em cartaz, contendo novas variações sobre os temas prediletos do cineasta, além de ser peça que se harmoniza com a obra anterior, traz elementos novos, sendo assim elemento inegavelmente enriquecedor de uma filmografia.
O olhar para o mundo realça, em primeiro lugar, no filme, as cores e as luzes. A fotografia de Vittorio Storaro, mais uma vez trabalhando com Woody Allen, se impõe desde a primeira cena, ao focalizar Coney Island num dia de verão. É este aspecto exterior que o filme irá, aos poucos, desmontar, enquanto vai focalizando o cotidiano de seus personagens. Este quarteto para voz humana é a forma encontrada pelo realizador, que sempre é o roteirista de seus filmes, para colocar em cena desacertos, frustrações e tentativas de fugir de uma realidade que desfaz sonhos e aniquila ambições. Tudo, como sempre acontece nos filmes do realizador, encenado a partir de um cotidiano, recriado de uma forma desprovida de excessos e deformações. O cineasta de Roda gigante é daquele que acredita que a realidade possui aquela riqueza que torna inútil qualquer gênero de alteração. Allen é um cineasta clássico, um daqueles que não necessita esconder imperfeições com piruetas ridículas e discursos repetitivos. Mesmo que não seja uma obra-prima, como foram muitos filmes do diretor, seu novo filme é poderoso ao flagrar um mundo dominado pelo vazio e no qual a agressividade é quase uma resposta e também uma ameaça.
Além do quarteto de adultos - envolvido numa dança na qual a imaginação do salva-vidas que ambiciona se transformar em dramaturgo se mescla com a frustração da mulher de um dos maquinistas do parque de diversões e com uma fugitiva da máfia -, há um outro personagem, o menino que parece reunir o ódio de todos os envolvidos ao procurar, sempre que possível, colocar fogo no mundo, já que a fuga para o reino da arte - no caso, o cinema - é algo inatingível. Ao dirigir o foco para a agressividade humana, fora de controle devido às circunstâncias, o realizador consegue uma sequência notável, que tudo resume. A mulher ao telefone é dominada pelo desejo de eliminar a rival e depois, num plano notável que antecipa sem mostrar o que irá acontecer, a máfia surge como saída das sombras, símbolo expressivo e revelador da agressividade da personagem de Ginny, esta atriz frustrada e que assim exerce sua vingança. Sem que a realidade seja alterada, o realizador consegue colocar visualmente a essência do que está filmando. Uma organização criminosa passa a configurar em cena a força destruidora gerada pelas frustrações, como se os sonhos se libertassem das amarras e se agrupassem de maneira a expor toda uma violência oculta por cores e luzes destinadas a criar um mundo artificial, que continua a girar enquanto o sofrimento aumenta.
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