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entrevista especial

- Publicada em 10 de Dezembro de 2017 às 21:33

Beto para o Senado é prioridade do PSB, afirma Stédile

"Candidatura própria (ao Planalto) pode resolver disputas estaduais"

"Candidatura própria (ao Planalto) pode resolver disputas estaduais"


CLAITON DORNELLES/JC
O deputado federal José Stédile se elegeu presidente do PSB gaúcho, em setembro, com uma margem de 167 votos em relação ao antecessor, Beto Albuquerque - futuro candidato do partido ao Senado - com a promessa de buscar mais interiorização e uma "valorização maior do partido na base", especialmente para recuperar o potencial de agregação de filiados perdido em 2014, com a morte do candidato do partido à presidência da República, Eduardo Campos, vítima de um acidente aéreo em Santos, no litoral paulista.
O deputado federal José Stédile se elegeu presidente do PSB gaúcho, em setembro, com uma margem de 167 votos em relação ao antecessor, Beto Albuquerque - futuro candidato do partido ao Senado - com a promessa de buscar mais interiorização e uma "valorização maior do partido na base", especialmente para recuperar o potencial de agregação de filiados perdido em 2014, com a morte do candidato do partido à presidência da República, Eduardo Campos, vítima de um acidente aéreo em Santos, no litoral paulista.
Apesar da certeza de que Beto é o candidato prioritário da sigla ao Senado, independentemente da chapa que a legenda compuser, Stédile sinalizou que é somente em março, na convenção estadual da sigla, que o PSB baterá o martelo sobre quem apoiará ao Piratini: se o pedetista Jairo Jorge ou o tucano Eduardo Leite, pré-candidatos que já alardearam interesse em compor com o PSB, e citados diretamente pelo parlamentar. Sobre a saída do governo de José Ivo Sartori (PMDB), também há indefinição a ser sanada em março próximo.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Stédile defendeu Sartori em questões como a inevitabilidade do parcelamento salarial frente à situação de crise financeira do Estado, mas manifestou algumas discordâncias - para ele, a venda de estatais e fundações deveria obrigatoriamente ser submetida a um plebiscito porque são "muito importantes para um governo tomar uma decisão". Stédile também fez um balanço da presença do PSB na base de Sartori, principal parceiro na chapa que venceu o pleito em 2014. "Estamos muito satisfeitos com o trabalho dos nossos secretários, mas não significa que estamos satisfeitos com o tamanho que temos no governo", alfineta.
Jornal do Comércio - O senhor foi eleito recentemente para presidir o partido aqui no Estado. Como avalia a gestão anterior de Beto Albuquerque e o que projeta?
José Luiz Stédile - Nós avaliamos a gestão anterior como positiva. Temos outra proposta de trabalho, mas não são propostas contraditórias. Nosso programa na campanha era buscar uma interiorização maior, uma valorização maior do partido na base. Estamos nos preocupando com o futuro, não com o passado, em recuperar totalmente a unidade da sigla. Em uma disputa, sempre há os exageros, e nós estamos preparados para enfrentar essas eleições e fazer o partido crescer cada vez mais. Você vai ver o Partido Socialista Brasileiro cada vez mais forte.
JC - E quais as medidas do PSB para renovar seu quadro?
Stédile - Estamos investindo muito no crescimento do partido através de movimentos sociais e por meio dos municípios, dos núcleos, setores do partido. Nos últimos anos, cresceu muito no partido os movimentos de mulheres, negros, juventude, LGBT, sindical, os movimentos populares, então esperamos atrair vários candidatos desses setores. O partido não se faz só na eleição, queremos ter influência na sociedade e também nos rumos políticos da nação.
JC - Como o PSB está começando a se preparar para esse contexto de eleições?
Stédile - Em nível nacional, estamos trabalhando para ter candidaturas próprias, à presidência, à vice, ou buscar alianças com os setores de centro-esquerda, uma candidatura que seja viável. Temos alguns nomes, como Renato Casagrande (ex-governador do Espírito Santo); Ricardo Coutinho (governador da Paraíba); o próprio Joaquim Barbosa (ex-ministro da Suprema Corte), que fez duas conversas conosco; Beto Albuquerque (ex-deputado federal gaúcho); Aldo Rebelo (ex-presidente da Câmara de Deputados e ex-ministro da Defesa). Em alguns estados, há outras opiniões no partido, mas isso é comum. O pessoal de São Paulo tem procurado aproximação com o Geraldo Alckmin. Márcio França (vice de Alckmin no governo) quer que a gente se aproxime do Alckmin, o pessoal de Pernambuco tem uma tendência para nós nos aproximarmos ao PDT, ao Ciro Gomes, então talvez uma candidatura própria resolva essas disputas estaduais e garanta uma unidade maior em nível nacional.
JC - Em 2014, o partido tinha uma candidatura própria muito forte, a do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (morto em um acidente aéreo em 13 de agosto de 2014). Como essa perda impactou o PSB?
Stédile - Havia um comentário, e isso era em todos os estados, de que, se Campos não ganhasse, na próxima ele iria ganhar. Então, em função disso, havia um crescimento de pessoas procurando o partido para se filiar, lideranças, deputados. Então tivemos, de fato, um pequeno crescimento, e, com a morte dele, (isso) diminuiu. Pensávamos que atingiríamos bem mais deputados federais, mas ficamos com 35, não alterou. De qualquer forma, (agora) estamos sentindo um crescimento em vários estados em que não estivemos bem na última eleição, desde a perda do Eduardo Campos.
JC - E quanto ao Rio Grande do Sul? Quais os planos para 2018?
Stédile - Na próxima eleição, estamos mais preocupados com a construção do nosso programa para identificar aliados. Não queremos apoiar para trocar nosso apoio por duas ou três secretarias, indicar vice ou senador, não. Primeiro, estamos concentrados, neste momento, em construir uma linha de propostas, um caminho para o PSB. Com esse programa, com essas propostas já alinhavadas, vamos chamar o partido e dizer "bom, vocês concordam com isso?". Vamos ter um congresso em março, que certamente terá mais de 1,3 mil pessoas, que avaliará todas as possibilidades, e vamos aceitar o que o partido definir. Se é o governador Sartori, o Eduardo Leite, o Jairo Jorge, uma candidatura própria nossa, ou se é uma outra candidatura. Tem o PTB também. Acreditamos que, até março, coisas e fatos novos acontecerão na política estadual, com relação a várias candidaturas. Qualquer decisão agora é precipitada. Temos também a prioridade da indicação do Beto Albuquerque ao Senado, que vai pesar nessa conversa. O Beto tem essa intenção, o partido gosta da ideia.
JC - O PSB ainda não vai sair do governo Sartori?
Stédile - Depende do congresso do partido em março. Vamos avaliar todas as circunstâncias, e não estamos trabalhando de forma alguma para prejudicar o Estado. O que pudermos contribuir para melhorar a vida das pessoas, faremos.
JC - Como o PSB e o senhor avaliam o governo do Estado?
Stédile - Não tem uma pergunta mais fácil (risos)? O que avaliamos: o governo vem enfrentando um desgaste muito grande no funcionalismo. Aliás, a greve dos professores tem três grandes perdedores: o próprio Sartori, que enfrenta o desgaste do professor falando ou do professor fazendo campanha contra ele; o desgaste do próprio Cpers/Sindicato que não conhece limites; mas o grande perdedor é o povo, são os alunos, é a população que está chateada com isso. Uma parte do desgaste do Sartori vem do funcionalismo, mas principalmente pelo atraso de salários, e não pelo desgaste da situação da greve dos professores. Isso é compreensível, os salários dos funcionários já não são altos.
JC - O senhor vê como inevitável o parcelamento de salários?
Stédile - Têm muitos líderes de oposição dizendo que existe dinheiro, mas não é verdade. Não acredito, em hipótese alguma, que o governo atrasou o salário por vontade própria. Acho que, de fato, talvez tivesse uma avaliação equivocada, e demorou para tomar algumas medidas, pois havia, no estado do Rio Grande do Sul, uma imagem de que sempre se dava um jeito, o governo federal ia socorrer, e que ia se conseguir um empréstimo para fazer tal obra e ia sobrar dinheiro, sempre tinha uma solução fora do Estado. Só que, agora, se esgotaram as possibilidades, o atual governo não teve as mesmas condições que os outros governadores tiveram para fazer e encaminhar os pagamentos em dia, pagar os fornecedores.
JC - O senhor entende as exigências para o Regime de Recuperação Fiscal como saneadoras para o Estado ou poderia ser feito diferente?
Stédile - Acho que poderia ter outras alternativas também. O nosso partido defende que, a cada privatização se tivesse um plebiscito. Se o povo do Rio Grande do Sul acha que é possível a venda de estatais, que o povo incida sobre isso, e não o governo. São bens importantes do Estado, todos são, fundações, CEEE, CRM, Sulgás, Banrisul, e são muito importantes para um governo tomar uma decisão, como fez Antonio Britto (PMDB, 1995-1998) no passado.
JC - Avaliando o papel do PSB no governo do Estado como aliado de primeira hora, ao fim das eleições de 2014, imaginava-se que o PSB teria um espaço maior dentro do governo do que o efetivamente teve? Houve decepção?
Stédile - Estamos muito satisfeitos com o trabalho dos nossos secretários, mas não significa que estamos satisfeitos com o tamanho que temos no governo do Estado. Poderíamos contribuir bem mais, sim. Não com maior número de Cargos Comissionados (CCs), de salários, e sim com propostas. Temos, em vários setores, lideranças importantes que poderiam ter sido ouvidas, talvez no programa partidário do governo também. O governo é uma composição de vários partidos, alguns que apoiaram primeiro, outros que apoiaram no segundo turno, e, em função dessa aliança grande, a gente compreende os limites que o governo tem.
JC - No Legislativo, quais as intenções do PSB gaúcho para lançar e eleger candidatos à Assembleia e à Câmara?
Stédile - Temos nos preocupado em manter a coerência do nosso discurso e da nossa prática. Vamos formar uma nominata para não depender de coligações. Estamos preparados para enfrentar as eleições sozinhos, e o partido vai avaliar se é viável e se interessa. O PSB quer eleger cinco deputados estaduais, passar de três para cinco, e federal, passar de dois para três. Temos a vantagem de que para o nosso partido não é muito alta a votação necessária para se eleger, e isso atrai também. Mas com o cuidado de não atrair pessoas só para se elegerem, queremos atrair quem concorde com nosso programa e se eleja.
JC - Justamente sobre o programa: o PSB chegou a fazer parte tanto do governo de Michel Temer (PMDB) quanto do de Dilma Rousseff (PT). Da mesma forma, o PSB foi apoiador do governo Tarso Genro (PT) e saiu para apoiar Sartori. Em torno do que o PSB quer construir sua identidade?
Stédile - Nosso partido é de centro-esquerda, tem seu programa mais à esquerda, mas que abriga pessoas com opiniões mais de centro. O afastamento dos governos (Luiz Inácio) Lula (da Silva, PT) e Dilma, e do Tarso aqui, foi em função da candidatura de Eduardo Campos. Em todos os lugares, rompemos em nome da candidatura própria. Em nível nacional, a grande maioria dos deputados voltaram pelo impeachment de Dilma, pelo impeachment de (então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo) Cunha e pelo impeachment de Temer nas duas vezes. Fui um que votei dessa forma, e votaria de novo. As pessoas dizem que Temer piorou, e pode até ter piorado, mas eu não poderia perdoar o que foi feito com (a refinaria de) Pasadena, com os fundos de pensão. Não ficamos uma semana em Brasília, no governo Dilma, e como continua agora, sem uma denúncia de uso de dinheiro público. Não era uma questão de esquerda, e sim de assinar embaixo ou não o que estava acontecendo no País. Claro que queríamos ter tirado os dois, mas não conseguimos.
JC - Mas, no Estado, o contexto era outro.
Stédile - Sim, o contexto é outro. Sartori ia apoiar Eduardo Campos. Havia um acordo com Marina Silva (Rede, à época no PSB). O (ex-senador) Pedro Simon (PMDB) era articulador dessa aliança que depois teve Marina e Beto como candidatos. Aqui, o acordo não foi uma questão ideológica, mais à esquerda ou mais à direita.
JC - Agora, a ideia é consolidar e estabelecer essa centro-esquerda? Porque Eduardo Leite, por exemplo, é um nome de centro-direita aqui no Estado. Para que lado o PSB quer pender hoje?
Stédile - Hoje, não tem nenhuma candidatura que seja muito à esquerda. O próprio Jairo Jorge, sendo de origem do PT e candidato do PDT, está buscando aliados diferentes. Uma candidatura ao governo do Estado, sabendo como está o governo, talvez tenha só a do PSOL e a do PT, e não sei se dá para dizer que o PT é de esquerda, mas de centro-esquerda também. No governo do Sartori, tinha o DEM, tinha nós, o Eduardo Leite eu não sei quem vai apoiar, é uma mistura. É do jogo eleitoral. Aliás, nenhum partido isolado de centro-direita ganhou eleição no Rio Grande do Sul. Vamos precisar de um governador que esteja acima da identidade ideológica e consiga atrair aliados para recuperação do Estado.
JC - O senhor se candidata novamente?
Stédile - A deputado federal.

Perfil

José Luiz Stédile nasceu no dia 11 de agosto de 1957 na cidade de Nova Prata. Aos 17 anos, se transferiu para Porto Alegre para prestar vestibular e começou a trabalhar como metalúrgico em Cachoeirinha, onde foi morar e se envolveu com o movimento comunitário, participando de associações de moradores. Na mesma época, também iniciou sua atuação no movimento sindical. Foi diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre por três mandatos e presidiu a Central Única dos Trabalhadores (CUT) Metropolitana. Em 1996, concorreu, pela primeira vez, a prefeito, e, em 1998, a deputado federal. Em 2000, foi eleito prefeito de Cachoeirinha, e, em 2004, foi reeleito. Após deixar a prefeitura, conquistou, pela primeira vez, uma vaga na Câmara dos Deputados, sendo reeleito em 2014. Em setembro deste ano, foi eleito presidente estadual do PSB do Rio Grande do Sul. É formado em Administração Pública pela Universidade de Caxias do Sul (UCS).