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Economia

- Publicada em 27 de Dezembro de 2017 às 21:40

Desaceleração comercial tem fatores estruturais

Menor demanda chinesa nas importações prejudicou o crescimento econômico em vários países

Menor demanda chinesa nas importações prejudicou o crescimento econômico em vários países


/ROSLAN RAHMAN/AFP/JC
Guilherme Daroit
Em debate desde a crise financeira global, que a partir de 2008 derrubou os fluxos do comércio internacional, a desaceleração das transações entre países pode ser explicada, também, por fatores estruturais. Segundo a pesquisadora em economia da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Clarissa Black, a transformação da economia chinesa, a adoção de novas tecnologias poupadoras de trabalho e até reflexos dos anos 1990 podem ser razões para que a relação entre crescimento do comércio e do Produto Interno Bruto (PIB) mundiais, que chegou a ser o dobro em favor do primeiro, hoje esteja de volta a uma situação praticamente paritária.
Em debate desde a crise financeira global, que a partir de 2008 derrubou os fluxos do comércio internacional, a desaceleração das transações entre países pode ser explicada, também, por fatores estruturais. Segundo a pesquisadora em economia da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Clarissa Black, a transformação da economia chinesa, a adoção de novas tecnologias poupadoras de trabalho e até reflexos dos anos 1990 podem ser razões para que a relação entre crescimento do comércio e do Produto Interno Bruto (PIB) mundiais, que chegou a ser o dobro em favor do primeiro, hoje esteja de volta a uma situação praticamente paritária.
Segundo a pesquisadora, que trata do tema na Carta de Conjuntura de dezembro da instituição de pesquisa estadual, a relação entre ambos foi de 1:1, semelhante à atual, por quase quatro décadas, entre 1950 e 1989. Isso significa que, para cada ponto percentual de incremento no PIB mundial durante esse período, o comércio global também crescia um ponto percentual. Depois disso, com a maior liberação das fronteiras nos anos 1990 e, principalmente, com a entrada no comércio dos países do antigo bloco soviético, a relação se descolou: o comércio crescia 2,3 vezes mais por ano do que o PIB naquela década, e, mesmo mais lento, continuou crescendo 1,7 vez mais nos anos 2000 até a crise de 2008, ano em que recrudesceu seis vezes mais do que o PIB mundial.
"A queda já era esperada, mas não a magnitude com que veio. O erro de previsão dos modelos foi muito grande", comenta a pesquisadora, lembrando que a situação levou a muitos estudos sobre o tema, que chegaram a um relativo consenso sobre efeitos cíclicos, de curta duração. Um deles, por exemplo, seria a retração nas trocas dentro da zona do euro, região muito intensiva em comércio entre países e cujas nações estiveram entre as mais atingidas pela crise financeira. Além disso, pelos efeitos da recessão, houve também retração nos investimentos, que respondem por grande parte das transações comerciais.
Clarissa, porém, levanta outros pontos que ajudam a explicar o movimento como sendo derivado de fatores perenes. "A fragmentação da produção pode ter chegado a um limite, e a evidência disso é a relação entre valor adicionado e valor bruto das exportações, cujo intervalo começou a diminuir ainda antes da crise", argumenta Clarissa. Quanto menor o intervalo, menor a participação de bens intermediários nas transações, lembra a pesquisadora, demonstrando que a industrialização, portanto, estaria mais concentrada nos próprios países consumidores.
Isso seria resultado primeiro de um possível limite natural à fragmentação, pelos custos do transporte, além do desenvolvimento de novas tecnologias poupadoras de trabalho, que diminuem a importância do custo da mão de obra na produção. Além disso, a China teria papel determinante. "A China é a origem de choques pelo lado da oferta, mas também pelo lado da demanda, com a mudança na sua economia para uma participação maior dos serviços, que geram menos importações", comenta Clarissa.
Outra evidência, segundo a economista, estaria na relação entre a importação de bens intermediários pelo país asiático em relação a suas exportações totais, que caiu de cerca de 40% em 2004 para 20% em 2015. "Há uma queda sistemática há mais de 10 anos, o que demonstra que a China está começando a produzir internamente o que antes importava", analisa Clarissa.
Embora admita que mesmo os fatores estruturais têm um lado cíclico, Clarissa complementa que, por conta de tudo isso, é possível imaginar que estejamos, na realidade, entrando em uma fase de um "novo normal" no comércio mundial, mais alinhado com a velocidade do crescimento do PIB global, como acontecia até 1989.
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