Um cenário de retomada da atividade econômica, mas cheio de incertezas, principalmente devido às dúvidas em torno do resultado das eleições, deve marcar os próximos 12 meses. Esta foi a análise dos participantes da última edição do ano do espaço de debates Conexões de Negócios, promovido pelo Jornal do Comércio, na segunda-feira (18), em sua sede.
O debate, com cinco painelistas, abraçou o tema Perspectivas para 2018. O painel com lideranças e importantes nomes da área econômica buscou antecipar cenários, diagnósticos e reflexões político-econômicas para 2018. As perspectivas para a economia e para a política em 2018 estão esmiuçadas também no Caderno Perspectivas, que circula na edição do JC desta sexta-feira.
Em discurso de apresentação, o presidente do JC, Mércio Tumelero, destacou o caráter inovador da iniciativa e saudou o público que lotava o Espaço de Eventos do JC. "Passamos por um período difícil, mas a economia está retomando seu rumo, o que é um alento. Em todos esses anos, nunca paramos de investir e continuaremos investindo em todas as plataformas", enfatizou Tumelero.
> Confira como foi o Conexões de Negócios e as apostas para 2018:
Para o diretor de operações do JC, Giovanni Tumelero, a promoção do Conexões de Negócios funciona como uma extensão do conteúdo do jornal. "A ideia dos encontros é promover mais uma forma de aproximação com os leitores", reforçou.
Após apresentar uma breve descrição do cenário político e econômico ao longo de 2017, a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, frisou que o consumo das famílias será o grande impulsionador da retomada. "O Brasil enfrentou sua mais profunda crise nos últimos dois anos. A atividade econômica começa a ganhar impulso, o que aumenta a confiança e estimula o comércio varejista e os serviços", determinou.
Responsável por analisar o motor do crescimento nacional e regional, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, estimou que o índice de desenvolvimento promete não ser tão positivo quanto em 2017, pois não se pode contar com um cenário "tão perfeito". "O clima não deve ser tão generoso, e só a queda na safra já deverá fazer com que o PIB nacional recue", reforçou o também Economista do Ano 2017.
Já a indústria vem enfrentando dificuldades para competir interna e externamente, pontuou o economista-chefe da Fiergs, André Nunes. Para o representante da mais importante entidade representativa dos industriais do Estado, "é preciso concretizar as reformas previstas para aumentar a produtividade e para que o País não estacione".
As reformas propostas pelo governo de Michel Temer, principalmente a da Previdência, também foram defendidas pelo diretor financeiro e de relações com os investidores do Banrisul, Ricardo Hingel. Para o especialista, "o nível de investimento atual é muito baixo, a carteira de desenvolvimento da instituição está muito menor, e a deterioração patrimonial das empresas preocupa".
Assim como a saúde financeira das empresas é preocupante, a dos entes federados também. O presidente da Famurs, Salmo Dias, reivindicou a inversão do pacto federativo e do sistema centralizado na capital dos estados e a maior valorização das gestões municipais como soluções para, inclusive, diminuir os gastos públicos. "O municipalismo é a grande forma de fazer gestão pública de qualidade a custo menor. As obras municipais custam 40% menos do que as realizadas pelos estados ou União, e os municípios são mais fiscalizados", salientou Dias.
O dirigente lembrou, ainda, que a Lei de Improbidade Administrativa vale apenas para os prefeitos. "O governo federal vai fechar o ano com déficit de R$ 159 bilhões. O Estado, com rombo de R$ 6 bilhões. Isso não vale para os municípios", ressaltou.
Após a explanação dos convidados, o espaço foi aberto à participação do público presente e aos que assistiam à transmissão ao vivo do encontro pelas redes sociais. A mediação do painel foi do editor de Economia, Luiz Guimarães.
Homenagem especial distinguiu sete entidades do Rio Grande do Sul
Representantes de diversos setores foram agraciados por sua contribuição à economia gaúcha
/MARIANA CARLESSO/JC
Além do painel Conexões de Negócios, o Jornal do Comércio homenageou, durante o evento, sete entidades gaúchas que se destacaram em suas áreas de atuação. Receberam a distinção o presidente da Fiergs, Gilberto Petry; o presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn; o presidente da Agas, Antonio Cesa Longo; o presidente do Sindilojas, Paulo Kruse; o presidente do Sindiatacadistas, Zildo De Marchi; o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes; e a gerente de Marketing do Sebrae-RS, Ana Finkler.
Os premiados receberam, das mãos do presidente do JC, Mércio Tumelero, um certificado com a mensagem de perspectivas positivas para que as lideranças empresariais e políticas sigam fortes e unidas no desenvolvimento sustentável do Estado e do País. O reconhecimento reforça a importância e a força dessas entidades no desenvolvimento e na construção de uma economia sólida.
Patrícia Palermo
Patricia Palermo, economista da Fecomércio
MARIANA CARLESSO/JC
Após um 2017 de recuperação econômica, mas cercado por uma atmosfera de incertezas políticas em torno do mandato do presidente Michel Temer, principalmente após a delação do empresário Joesley Batista, a economista-chefe da Fecomércio/RS, Patrícia Palermo, prevê que, em 2018, o desafio será enfrentar as eleições. Por outro lado, Temer terá maior tranquilidade para governar.
O ano se encerra com queda na inflação e na taxa de juros. "Com isso, a atividade econômica começa a ganhar ritmo, o que faz com que as pessoas permaneçam com seu nível de confiança em alta, estimulando o comércio e os serviços", estimou Patrícia.
Para a profissional escolhida Economista do Ano em 2016, as maiores consequências do resultado das eleições serão observadas a partir de 2019. Logo, no ano que vem as atenções devem se voltar à manutenção do ritmo de recuperação e ao aumento da produtividade. "Surpreende o fato de que o PIB caiu, mas o emprego caiu em volume menor. Isso é sinal de que há ociosidade", explicou.
André Nunes
André Nunes, economista da Fiergs
MARIANA CARLESSO/JC
O setor industrial vem sofrendo especialmente com os altos custos para produzir no país. "Muitas vezes, a própria indústria acaba importando certos produtos por não ter como lidar com o preço praticado no mercado interno. Com isso, acaba alimentando o ciclo de desindustrialização", lamentou o economista-chefe da Fiergs André Nunes.
Nunes informou que a capacidade de produção gaúcha, conforme pesquisas do IBGE, não tem aumentando há 20 anos e que o Estado deve encerrar o ano 24% abaixo do seu pico. "2018 deve ser melhor do que 2017 e assim sucessivamente, mas quando pensamos em um ciclo de crescimento de longo prazo, ainda existe uma incógnita muito grande. Será que não vamos ocupar a capacidade ociosa da indústria?", questionou o economista, para quem enfrentar as reformas é crucial.
Antônio da Luz
Antônio da Luz, economista da Farsul
MARIANA CARLESSO/JC
O agronegócio, por sua vez, vem funcionando como impulsor da economia brasileira. Intimamente ligado ao mercado internacional, o setor respondeu, em 2017, por 12,41% do crescimento brasileiro e por 9% do crescimento gaúcho. Uma importante aliada para chegar a esses resultados é a tecnologia, cada vez mais presente no campo. Os entraves para que esses números não sejam ainda maiores são as dificuldades logísticas e os altos custos de produção.
Em 2018, o crescimento no setor promete ser mais tímido. Entretanto, segundo o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, "o Brasil precisa crescer, pois já está ficando para trás dos países desenvolvidos". Da Luz salienta que o agronegócio já vem perdendo competitividade devido aos altos custos de produção. "Estamos preocupados com os gastos públicos. Precisamos mudar os sistemas tributários, previdenciários. Olhar o que não deu certo em outros países e copiar", comentou.
Ricardo Hingel
Ricardo Hingel, diretor financeiro do Banrisul
MARIANA CARLESSO/JC
Afirmando que encaramos o final de um processo recessivo inédito no país, o diretor Financeiro e de Relações com Investidores do Banrisul, Ricardo Hingel, determinou que é também chegado o momento de total esgotamento de um modelo de estado provedor. "Desde o ex-presidente José Sarney, tivemos uma sequência de dirigentes que só fizeram aumentar a carga tributária do país", afirmou Hingel.
Para ele, a previdência talvez seja o maior exemplo disso e tenho acabado por acelerar os gastos públicos levou à presente crise nas finanças dos estados e municípios. No caso do Rio Grande do Sul, lembrou o economista, mais da metade da despesa corrente mensal é usada para o pagamento da previdência. "O déficit da previdência estadual chega a R$ 300 bilhões, equivalente a três vezes o dispêndio da folha de pagamento dos servidores. Mexer na previdência não é retirar direitos, mas acabar com privilégios", salientou.
Salmo Dias
Salmo Dias, presidente da Famurs
MARIANA CARLESSO/JC
Os estados e municípios enfrentaram dificuldades inclusive para honrar o pagamento do funcionalismo público e, alguns, encerram o ano com contas no vermelho. "Este ano foi muito difícil, muito embora 92% dos prefeitos gaúchos tenham feito tudo o que podiam, cortando gastos com cargos de confiança e, até mesmo, diminuindo o expediente", resumiu o presidente da Famurs, Salmo Dias de Oliveira.
Dos 497 municípios gaúchos, 54% não poderão fechar suas contas e 4% terão de realizar empréstimos junto ao Banrisul para quitar débitos com o 13º dos servidores. Como explicou Oliveira, apenas 18% da arrecadação federal retorna aos municípios (aos estados cabem outros 25% e à União, 56%). "Em 2018 esperamos ter menos Brasília e mais os municípios brasileiros", demandou Oliveira.