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Cultura

- Publicada em 25 de Dezembro de 2017 às 22:21

Cia. Teatro Novo luta para manter sua sede

Karen Radde luta para manter Cia. Teatro Novo em espaço no DC Shopping

Karen Radde luta para manter Cia. Teatro Novo em espaço no DC Shopping


/CLAITON DORNELLES /JC
Cristiano Vieira
Há 18 anos estabelecida no DC Navegantes, na zona Norte de Porto Alegre, a Cia. Teatro Novo vive um drama: corre o risco de ter de abandonar o teatro a pedido da administração do centro comercial até meados de janeiro. A situação é ainda mais preocupante por ocorrer justamente na véspera das comemorações dos 50 anos do grupo (referência em espetáculos infantis, realização de oficinas e formação de atores) fundado por Ronald Radde.
Há 18 anos estabelecida no DC Navegantes, na zona Norte de Porto Alegre, a Cia. Teatro Novo vive um drama: corre o risco de ter de abandonar o teatro a pedido da administração do centro comercial até meados de janeiro. A situação é ainda mais preocupante por ocorrer justamente na véspera das comemorações dos 50 anos do grupo (referência em espetáculos infantis, realização de oficinas e formação de atores) fundado por Ronald Radde.
Karen Radde - filha do dramaturgo e que assumiu a direção da companhia após a morte de Radde, em abril de 2016 - afirma que o DC Shopping deu um prazo até 10 de janeiro para a desocupação do espaço. "Inclusive querem que eu retire tudo: plateia, cadeiras, palcos. Só de figurinos temos 700 peças. Cadeiras, são 480. Não tem como", explica Karen.
O contrato é renovado a cada dois anos, segundo ela. Com o vencimento em outubro último, não houve renovação - a administração do DC afirmou, conforme Karen, ter outros planos para o local. A situação também é complexa do ponto de vista legal: ainda não foi finalizado o inventário de Ronald Radde.
Com isso, nada referente à Cia. Teatro Novo pode ser vendido ou alterado, por exemplo. "Eu tenho procuração do pai como pessoa física, feita ainda em vida. Mas do grupo teatral eu não posso mexer em nada enquanto o inventário não ficar pronto, embora já esteja encaminhado", conta Karen.
A crise econômica também impactou a saúde financeira da empresa criada por Radde: a companhia registrou queda de 40% no público apenas neste ano. O aluguel mensal é de R$ 7 mil mais 7% da receita de cada mês. Karen admite que os atrasos começaram em agosto de 2017, mas houve acordo com a administração e os valores devidos em um mês eram pagos no seguinte.
Procurado pela reportagem, o DC confirmou, por meio de nota, que solicitou a devolução do espaço, visto que há necessidade de "adaptação do espaço para atender as exigências legais dos novos tempos. Para isto, impõe-se a necessidade de uma reforma completa do teatro, a fim de que ocorra uma adequação a estas normas".
Ainda segundo o DC, como se trata de um prédio antigo, é necessário elaborar "projetos elétricos, hidráulicos e estruturais. Isto demandará um certo tempo e recursos vultuosos a cargo do empreendimento...como não houve acordo comercial e a locação está vigendo por prazo indeterminado, o DC solicitou a rescisão do contrato para que, em tempo hábil e oportuno, possa implementar as reformas que se fazem necessárias, pretendendo dar à população de Porto Alegre um novo e moderno espaço cultural".
Karen vê com desconfiança a informação de que, após a reforma, o casarão seguirá sendo um espaço cultural renovado. "Por que mandaram eu tirar tudo, inclusive palco, então? Acho bonito fazer um espaço cultural, mas não dessa maneira. O fato é que eu não tenho como sair na data estabelecida, 10 de janeiro de 2018", avisa.
Desde que o imbróglio começou, ela iniciou um abaixo-assinado clamando por apoio da comunidade cultural contra o fechamento do teatro. Também tem buscado, via advogados, resolver a situação. Mas, e se o pior acontecer? "Sairemos, mas não vou deixar a Cia. Teatro Novo desamparada justo quando comemora seus 50 anos. Temos uma programação preparada para 2018 e vamos segui-la, de qualquer jeito", conta.
Ela estuda alternativas - imóveis na Cidade Baixa ou no Menino Deus - para instalar a parte administrativa da companhia, além de salas para oficinas. O problema principal é acomodar toda a estrutura cênica, como as cadeiras e palco. "Tenho olhado alguns teatros desativados, mas nada certo ainda. Onde vou colocar tudo isso em tão pouco tempo?", questiona.
Crítico de teatro do Jornal do Comércio e autor do livro Ronald Radde: O perseguidor de sonhos (Edipucrs), de 2015, Antonio Hohlfeldt lamenta a situação e destaca que Radde foi, de fato, nestes últimos 50 anos, o único diretor e dono de uma companhia de teatro permanente aqui no Estado. "Só isso dá uma perspectiva da importância dele", explica.
Segundo Hohlfeldt, Radde era um artista atuante no período da ditadura, ajudando muito a driblar a censura nas artes cênicas. Ele também deixou um legado importante para o teatro infantil: a Cia. Teatro Novo é referência no Rio Grande do Sul, com espetáculos que ajudaram muito na formação de público ao longo das últimas décadas.
Apesar dos percalços, Karen Radde avisa que os planos estão mantidos: em 8 de março de 2018, a Cia. Teatro Novo estreia uma nova montagem de Peter Pan, a peça de maior sucesso do grupo, para celebrar as cinco décadas de história. "Com DC ou sem DC, a companhia continua. Está fora de cogitação parar com tudo. Tenho obrigação de lutar pelo que é meu e dos meus irmãos", finaliza.
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