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Teatro

- Publicada em 14 de Dezembro de 2017 às 22:33

Novo trabalho do Sarcáustico: memorável

O grupo Teatro Sarcáustico tem uma significativa trajetória entre nós, desde 2003, quando iniciou suas atividades. Espetáculos como InterCIDADE, o infantil Jogo da memória, o excelente Wonderland e o que Mr. Jackson encontrou por lá e, mais recentemente, Breves entrevistas com homens hediondos, são algumas de suas produções, muitas delas devidamente premiadas.
O grupo Teatro Sarcáustico tem uma significativa trajetória entre nós, desde 2003, quando iniciou suas atividades. Espetáculos como InterCIDADE, o infantil Jogo da memória, o excelente Wonderland e o que Mr. Jackson encontrou por lá e, mais recentemente, Breves entrevistas com homens hediondos, são algumas de suas produções, muitas delas devidamente premiadas.
Pois seu trabalho mais recente, Nós por nós, voltou a inovar na linguagem utilizada, pois abandonou praticamente o diálogo e centrou-se na coreografia. Ou na mímica. É um espetáculo sem palavras. Nós por nós é como se chama. No material de divulgação, o grupo chama a atenção para o conceito central de sua criação: "Eu e você juntos somos nós, nós que ninguém desata": valoriza-se a ideia do coletivo, expresso através do pronome, ao mesmo tempo em que dele se deriva a ideia de força, traduzida pelo substantivo. A palavra-chave, aqui, é "nós", em dois diferentes, mas complementares significados.
O espetáculo é idealizado, de certo modo, por todo o grupo, pois sua dramaturgia cênica nasceu a partir de processos autobiográficos dos próprios integrantes, resultando em espetáculo dirigido por Daniel Colin, que em geral assina os trabalhos do grupo, e Ricardo Zigomático. Ambos estão em cena, ao lado de Guadalupe Casal e Ursula Collischonn, contando com a assistência coreográfica de Natascha Villar, design de iluminação de Casemiro Azevedo, figurinos de Antonio Rabadan. Em cena, mesas eletrônicas de áudio de ambos os lados, com seus respectivos DJs; no centro, um monte de roupas, formando uma espécie de elevação, construída sobre um apoio de madeira discretamente encoberto. É evidente que estas roupas, nas quais os atores/personagens mexem constantemente e de onde retiram coisas, são a metáfora de suas memórias. 
O espetáculo, como todos do Sarcáustico, é muito bem acabado, de modo que agrada mesmo àqueles que - como eu - nem sempre conseguiram entender as alusões feitas pelo grupo. Porque, independentemente do resultado final do espetáculo, que é interessante em si mesmo, há que se mencionar certa dificuldade, sobretudo na primeira parte do mesmo (a encenação dura cerca de uma hora) de compreensão das alusões propostas, na medida em que não se tenha tanta intimidade com o grupo. Já na segunda parte, quando os intérpretes/personagens se distanciam de suas próprias memórias e olham em seu redor, referindo-se aos momentos imediatos da realidade sócio-política brasileira, o espetáculo alcança maior comunicabilidade.
De qualquer modo, Nós por nós tem, antes de tudo, o mérito da veracidade e do confessionalismo: ao falarem de si mesmos, os integrantes do Teatro Sarcáustico, a seu modo, estão falando das coisas que os rodeiam e rodeiam a todos nós. Neste sentido, mesmo sem plena compreensibilidade das alusões surgidas ao longo do trabalho, como já mencionei, não há dúvidas de que algumas de suas referências são as de todos nós, e por isso mesmo, a plateia - nitidamente classista, em sua maioria - que assiste à apresentação, se diverte e reage bem ao que assiste em cena, até porque, como se disse, o espetáculo é muito bem cuidado e acabado, com especial atenção à trilha sonora, coordenada, se não me equivoco, por Kevin Brezolin.
O trabalho, no geral, é divertido, inteligente, instigante e provocativo, aliás, elementos tradicionais das montagens anteriores do grupo. Colin e seus companheiros sempre propõem novidades ao espectador, na medida em que entendem que a plateia não pode ficar placidamente apenas assistindo a uma performance. Assim, esta nova montagem atende a seus objetivos. Mesmo para quem, como eu, nem sempre traduziu convenientemente as referências trazidas pela encenação, o espetáculo prende e diverte, confirmando, acima de tudo, a irreverência e a constante inovação a que o grupo se propõe, jamais aceitando permanecer no ponto de desenvolvimento anteriormente atingido. Daí que cada trabalho do Sarcáustico se torne, sempre, uma experiência memorável, tanto para eles, quanto para nós.
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