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Empresas & Negócios

- Publicada em 11 de Dezembro de 2017 às 13:05

Dívida em dólar traz preocupação

Quase metade do endividamento está concentrada em 57 companhias

Quase metade do endividamento está concentrada em 57 companhias


/VANDERLEI ALMEIDA/AFP/JC
Quase metade do endividamento das empresas brasileiras está concentrada em 57 companhias, e uma análise dos balanços mostra que a exposição delas ao dólar avançou em três anos. Cerca de 40% da dívida desse grupo segue a variação da moeda norte-americana. O índice era de 28% em 2014, quando estourou a Lava Jato. A busca por dinheiro no exterior foi uma reação à retração na oferta do crédito local, em particular após a operação.
Quase metade do endividamento das empresas brasileiras está concentrada em 57 companhias, e uma análise dos balanços mostra que a exposição delas ao dólar avançou em três anos. Cerca de 40% da dívida desse grupo segue a variação da moeda norte-americana. O índice era de 28% em 2014, quando estourou a Lava Jato. A busca por dinheiro no exterior foi uma reação à retração na oferta do crédito local, em particular após a operação.
Bancos brasileiros tinham volumes elevados de financiamentos em empresas pegas pela Polícia Federal - como Petrobras e Odebrecht. Para se protegerem, reduziram o crédito não apenas para as investigadas, mas até para negócios vistos como idôneos. A recessão piorou o ambiente. Temendo que as empresas não tivessem musculatura para resistir a crise, os bancos se fecharam ainda mais.
A saída para as grandes empresas foi buscar dinheiro lá fora. No grupo estão companhias como a mineradora Vale; a Fibria, do setor de papel e celulose; e a Cosan, gigante global em açúcar e etanol. Dados do Banco Central mostram que a dívida total das empresas atingiu R$ 2,7 trilhões até setembro deste ano e, segundo levantamento da Fitch Ratings, as 57 maiores empresas brasileiras monitoradas pela agência americana de risco devem, no Brasil e no exterior, R$ 1,29 trilhão - quase metade disso, R$ 548 bilhões é da Petrobras. Antes da Lava Jato, a dívida total era de R$ 962 bilhões.
Para Ricardo Carvalho, diretor sênior de finanças corporativas da Fitch, ao menor sinal de inversão na rota de retomada da economia, o endividamento dessas empresas pode virar um problema. "A Petrobras, por exemplo, voltaria para aquela dívida dos níveis agudos da crise", afirmou Carvalho.
Segundo a empresa de análise financeira Economatica, com base no balanço da petroleira, 79% da dívida de R$ 335 bilhões da estatal está em dólar. Para a Fitch, o endividamento da petroleira é de R$ 548 bilhões, porque inclui outros compromissos financeiros não bancários. Outras agências de risco também seguem esse critério, incluindo, por exemplo, o pagamento de aluguel por sondas de petróleo. Segundo a mesma Economatica, a exposição da JBS, uma das maiores produtoras de alimentos do mundo, também é grande: da dívida de R$ 47,8 bilhões, R$ 26,7 bilhões são em moeda estrangeira - pelos cálculos da Fitch, é de R$ 65,5 bilhões.
Na Eldorado, empresa de celulose recentemente vendida pelos donos da JBS, o câmbio interfere em 76% da dívida, que, segundo a consultoria, é de R$ 8 bilhões. No cenário político incerto das eleições do próximo ano, analistas de agências de risco e dos principais bancos de investimento consultados pela Folha consideram que há risco de exposição cambial caso, por exemplo, a reforma da Previdência não seja aprovada. Para eles, o efeito sobre as empresas seria imediato. Desde a Lava Jato, com a promessa de reformas do governo Temer, o dólar valorizou-se ante o real, passando de R$ 2,20 para R$ 3,30. Ainda sem um candidato que defenda a política de reformas e o ajuste fiscal - hoje sob o comando do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles -, os bancos continuam cautelosos.
Essas instituições sabem que, ao menor sinal de que a reforma da Previdência não será aprovada pelo Congresso ou por outro solavanco político, os juros futuros começarão a trajetória de alta que marcaria a depreciação dos demais indicadores da economia. Nesse cenário, a expectativa dos bancos para o dólar é de R$ 3,50 apenas num primeiro momento.
O Banco Central (BC) só consegue monitorar 70% da dívida das empresas no exterior - R$ 315 bilhões. A partir da análise, os técnicos verificam, por exemplo, se a empresa tem faturamento no exterior ou se é exportadora, formas naturais de proteção à variação cambial. Os dados apontam que cerca de R$ 200 bilhões podem estar sem cobertura à variação cambial, um índice considerado "saudável" para o sistema bancário pelo BC.
As empresas também têm de trabalhar para reduzir a exposição. Por atuar em 20 países, a JBS, por exemplo, tem 80% das receitas em dólar e um índice elevado de dívida em moeda estrangeira - 79%, segundo a Economatica. "É incorreto afirmar que todo o montante é exposição (cambial)", disse a empresa por meio de sua assessoria. "Exemplo disso é que, da dívida bruta, 54% das linhas foram contratadas nos EUA e, portanto, trata-se de dívida em moeda local."
Ainda segundo a empresa, um terço da dívida vence no curto prazo e, desse total, 73% são em dólar porque estão atrelados à exportação, com "custos mais atrativos para a companhia", com troca de dívidas caras em real por mais baratas em dólar. A Petrobras seguiu caminho parecido. De janeiro a setembro deste ano, emitiu R$ 72 bilhões em títulos no exterior com vencimentos entre 2022 e 2044; pagou R$ 108 bilhões em empréstimos que venceriam entre 2018 e 2021; renegociou dívidas de R$ 26,7 bilhões.
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