Porto Alegre, domingo, 10 de dezembro de 2017.

Jornal do Com�rcio

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Not�cia da edi��o impressa de 11/12/2017. Alterada em 10/12 �s 20h00min

O legado da V� Chica

Costa atua como empreendedor social na Vila Safira e mant�m o projeto Tia Chica, que faz parte da Rede de Boas Atitudes

Costa atua como empreendedor social na Vila Safira e mant�m o projeto Tia Chica, que faz parte da Rede de Boas Atitudes


CLAITON DORNELLES /CLAITON DORNELLES /JC
Vó Chica morreu com 107 anos e foi por muito tempo a referência de parteira, benzedeira e conselheira de comunidades da Zona Leste de Porto Alegre. Ela também cuidava de crianças quando as mães estavam trabalhando. Agora seu nome virou um projeto que atende crianças e adolescentes da Vila Safira. Criado pelo pintor predial e empreendedor social, Cláudio Roberto Pagno da Costa, a iniciativa tem várias frentes. Nos fundos do terreno da sua casa acontecem aulas de balé, tem um espaço para meditação, uma pequena biblioteca e computadores para dar os primeiros passos no mundo da informática. "Isso tudo é feito na região com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade", comemora Costa.
Em 2015, ele ganhou o Título de Cidadão Honorário da cidade, mas nem sempre morou por aqui. Nasceu na Bom Jesus, e com 26 anos saiu para conhecer outros lugares. Viveu em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, casou em São Luís do Maranhão. Quando voltou trouxe na bagagem a vontade de fazer "algo mais" pela sua comunidade. "Observei que todas as periferias são iguais. Não há espaço de lazer, não tem esgoto, iluminação pública ou coleta de lixo", lamenta.
Atualmente, o projeto Tia Chica, que faz parte da Rede de Boas Atitudes, é parceiro de cinco escolas e também promove atividades nestes locais. Uma delas é a Feira do Livro, que está na sua segunda edição. Nestes dois anos foram distribuídos 4 mil livros, pois cada aluno pode escolher três e levar para casa. Há também palestras com escritores conhecidos, como Dilan Camargo e Letícia Wierzchowski. Tudo funciona na base da doação. Daí a importância dos posts no Facebook para mobilizar pessoas. Outra ação incorporada ao calendário anual é a campanha de arrecadação de kits escolares. Segundo Costa, isso ajuda a reduzir a evasão escolar.
A primeira conquista deste empreendedor social foi um local para montar um espaço de lazer. Isso aconteceu há 16 anos. O passo inicial foi identificar um terreno que estava abandonado na comunidade. Ao se informar na Secretaria Municipal de Meio Ambiente descobriu que era uma área destinada desde 1962 para ser uma praça. "Dei visibilidade por meio da imprensa. Aos poucos foi sendo criado um lugar de lazer, preservado e colorido. Sempre digo que o Vó Chica não é uma ONG é uma atitude", relembra Costa.
A última iniciativa está mudando a paisagem da Vila Safira. É o projeto de colorização. Baseado em uma experiência realizada na Indonésia, Costa começou a pintar muros e casas no bairro. Conseguiu doação de tintas de um fabricante e conta com sistema de mutirão para colorir o local. Até agora foram mais de 30 moradias, portas, escada e até a rótula do bairro. "Tudo é feito coletivamente. Vem gente de outros bairros para ajudar", diz.

Projeto combina conhecimento acad�mico com causa humanit�ria

Vestidos do projeto Xi-Cora��o s�o feitos com tecidos e retalhos doados e encaminhados para a �frica
Vestidos do projeto Xi-Cora��o s�o feitos com tecidos e retalhos doados e encaminhados para a �frica
/RAFAELA NOROGRANDO/DIVULGA��O/JC
O que era para ficar guardado em um arm�rio na universidade foi vestir meninas da �frica. Desde fevereiro de 2016, mais de 80 vestidos j� fizeram esta mesma viagem da Universidade de Aveiro, em Portugal, com destino a v�rias regi�es africanas. Tudo por conta de uma inspira��o que veio atrav�s de uma postagem que saudava a entrada da ONG Little Dresses for Africa em Portugal. Foi a partir dessa publica��o que a brasileira Rafaela Norogrando, professora de Design de Vestu�rio no curso de Design de Moda, resolveu fazer um projeto que unisse conhecimento acad�mico a uma boa causa. "Eu pensava em fazer algo com os alunos que mostrasse a realidade do mercado. Nesta cadeira eles normalmente desenvolvem pe�as que ficam guardadas no departamento", relembra Rafaela.
Foi desta forma que ela come�ou a movimentar seus alunos do segundo semestre do segundo ano do curso e criou o projeto Xi-cora��o. A express�o � muito utilizada pelos portugueses e quer dizer abra�o. Em sala de aula a primeira fase � fazer uma pesquisa de campo. Os estudantes precisam entender a cultura, como vivem seu p�blico-alvo e buscar inspira��o para criar suas minicole��es. "Eles precisam sair da sua zona de conforto e entender o que � a �frica. Isso faz com que sejam obrigados a olhar para o olho", diz a professora.
A ONG tamb�m passa um briefing bem espec�fico de como devem ser elaboradas as roupas. Isso serve de guia para o desenvolvimento do projeto que � feito em grupos, embora cada um seja respons�vel pela cria��o de dois vestidos com os tecidos e retalhos que v�m de doa��es de f�bricas, pois um dos mandamentos desta a��o � que nada pode ser comprado. Tudo � doado e reaproveitado. "As pe�as n�o podem ser feitas aleatoriamente. N�o � para ser algo do tipo 'estou fazendo roupinha para crian�a carente'. Al�m do contato com processos de design, a a��o auxilia a desenvolver uma consci�ncia mais alargada sobre o papel social de quem trabalha com moda", detalha.
No final, as cole��es se transformam em uma exposi��o e Rafaela aproveita para colocar em cena tamb�m mobili�rios desenvolvidos por outros alunos do curso de Design de Mobili�rio do Instituto Polit�cnico de Viseu onde tamb�m d� aulas. S� depois os vestidos s�o entregues para a ONG e fazem sua travessia at� a �frica. Na segunda edi��o do projeto Xi-Cora��o, desenvolvida neste �ltimo semestre, as "clientes finais" s�o adolescentes que voltaram para casa ap�s serem sequestradas pelo grupo terrorista Boko Haram. A iniciativa ampliou seu foco e vai beneficiar tamb�m as fam�lias que perderam suas casas nos inc�ndios que ocorreram em cidades do Centro e do Norte da �frica. A exposi��o leva o nome "�s Meninas e aos Nossos" e serve de ponto de coleta para a doa��o de objetos e vestu�rio e estar� aberta a visita��o at� janeiro de 2018 no Museu dos Lanif�cios na Universidade da Beira Interior.
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