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Cinema

- Publicada em 23 de Novembro de 2017 às 22:40

A crise

Jovens atores estão no elenco de A trama

Jovens atores estão no elenco de A trama


SINNY ASSESSORIA E COMUNICAÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
O diretor Laurent Cantet recebeu a Palma de Ouro em Cannes, no ano de 2008, por Entre os muros da escola, no qual colocou em prática suas ideias sobre como deve ser feito o cinema. Antes de tudo é imperioso, segundo ele, utilizar, de preferência, intérpretes amadores e, na ausência deles, orientar profissionais de forma a ser evitada qualquer forma de interpretação. Antes do filme citado, Cantet havia chamado a atenção, em 2001, por A agenda, no qual reconstituía um fato verídico, colocando na tela a figura de um homem que, utilizando recursos diversos, enganou a família fazendo-se passar por um médico ocupado com tarefas muito importantes. Tal fato, um ano depois, foi outra vez filmado, num relato mais contundente, por Nicole Garcia em O adversário. Cantet ainda deveria esperar um tempo até a consagração em Cannes. Agora, ele volta a obter repercussão com este A trama, no qual, assim como no seu filme de 2008, volta a colocar em cena um grupo de jovens e a figura de um orientador, no caso, participantes de uma oficina literária orientados por uma escritora de histórias policiais. O cineasta aprecia acompanhar discussões que envolvem várias pessoas. Seu filme anterior ao que agora está em exibição, Retorno à Ítaca, foi realizado em Havana e focalizava um grupo de amigos cubanos, num terraço da cidade, discutindo suas vidas e as opções escolhidas durante um período de crise. O cinema de Cantet se estrutura a partir da palavra, uma característica, aliás, da cinematografia francesa, mas seria um engano classificá-lo de literário. A trama, de certa forma, exalta a palavra e a narrativa literária, algo que um mestre como Mankiewicz fazia no século passado, mas não deve ser cometido o erro de não perceber que o filme também sabe desenvolver temas importantes utilizando imagens e situações, numa espécie de encontro entre cinema e literatura.
O diretor Laurent Cantet recebeu a Palma de Ouro em Cannes, no ano de 2008, por Entre os muros da escola, no qual colocou em prática suas ideias sobre como deve ser feito o cinema. Antes de tudo é imperioso, segundo ele, utilizar, de preferência, intérpretes amadores e, na ausência deles, orientar profissionais de forma a ser evitada qualquer forma de interpretação. Antes do filme citado, Cantet havia chamado a atenção, em 2001, por A agenda, no qual reconstituía um fato verídico, colocando na tela a figura de um homem que, utilizando recursos diversos, enganou a família fazendo-se passar por um médico ocupado com tarefas muito importantes. Tal fato, um ano depois, foi outra vez filmado, num relato mais contundente, por Nicole Garcia em O adversário. Cantet ainda deveria esperar um tempo até a consagração em Cannes. Agora, ele volta a obter repercussão com este A trama, no qual, assim como no seu filme de 2008, volta a colocar em cena um grupo de jovens e a figura de um orientador, no caso, participantes de uma oficina literária orientados por uma escritora de histórias policiais. O cineasta aprecia acompanhar discussões que envolvem várias pessoas. Seu filme anterior ao que agora está em exibição, Retorno à Ítaca, foi realizado em Havana e focalizava um grupo de amigos cubanos, num terraço da cidade, discutindo suas vidas e as opções escolhidas durante um período de crise. O cinema de Cantet se estrutura a partir da palavra, uma característica, aliás, da cinematografia francesa, mas seria um engano classificá-lo de literário. A trama, de certa forma, exalta a palavra e a narrativa literária, algo que um mestre como Mankiewicz fazia no século passado, mas não deve ser cometido o erro de não perceber que o filme também sabe desenvolver temas importantes utilizando imagens e situações, numa espécie de encontro entre cinema e literatura.
Assim como Entre os muros da escola, os jovens representam segmentos da sociedade francesa, nem sempre agrupados pelas leis da harmonia e do equilíbrio. Dentre os participantes da oficina, Cantet escolhe como protagonista um jovem cuja insatisfação com a realidade em que vive é expressa logo na sequência inicial, quando ele se afasta do grupo. Está em cena um jovem que, depois saberemos, é influenciado por grupos de extrema direita, que encontram nos atentados no Bataclan e em Nice um reforço para suas ideias. O filme, portanto, é bem atual no que se refere ao desenvolvimento da ação. Mas o impulso principal encontra-se no passado da cidade em que vivem os protagonistas. Utilizando cenas de cinejornais, o diretor mostra uma época na qual La Ciotat vivia em torno de um grande estaleiro. Mas são os mesmos cinejornais que Cantet emprega para registrar, transformando imagens reais em símbolos eloquentes, a destruição criada pela onda quando do lançamento de um navio. O cenário do estaleiro desativado é utilizado pelo diretor como um elemento que sintetiza uma época vazia e que cerca os personagens por um muro de indiferença e rudeza, fracasso e insegurança.
Numa obra em que são percebidas ressonâncias de Lacombe Lucien, de Louis Malle, está também presente um olhar para alma do protagonista e seu interesse pela escritora, não apenas então uma orientadora, mas a substituta num drama edipiano de elementos ausentes na vida do personagem principal. Esta carência é substituída pela água amniótica, algo várias vezes ressaltado durante a narrativa, e também por formas agressivas, como no jogo eletrônico que dá início ao filme e, principalmente, no trecho em que, transformado num sequestrador, o protagonista termina expressando sua revolta atirando na Lua, uma variação do tiro ao Sol de Fritz Lang e Jean Luc Godard em O tigre da Índia e Acossado. Outro tema a ser destacado é o da transformação de um personagem em um ser humano verdadeiro. Quando a escritora se aproxima - cena da entrevista - do jovem tentando transformá-lo em figura de um romance, a realidade explode. A oficina literária transforma-se em sessão de análise, como se a autora dialogasse com seu personagem. A solução final poderia ser outra, mas filmes assim são obras inconformadas e resistentes. Respostas necessárias à ditadura da superficialidade.
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