Foi a partir de um acordo entre a Rede Nossas Cidades e a coluna Agora é que são elas que nasceu o Mapa do Acolhimento. O projeto, que pretende mapear o atendimento e acolher vítimas de violência sexual, se estende a dez cidades e incluiu acompanhamento jurídico a partir de uma necessidade posta pelo movimento Minha Porto Alegre. Em entrevista ao Jornal da Lei, a advogada e voluntária do projeto Paola Pinent explica sua atuação na causa, e como é possível apoiar o projeto.
Jornal da Lei - Em que momento surgiu o Mapa do Acolhimento e qual é seu principal objetivo?
Paola Pinent - O mapa surgiu após o estupro coletivo da Beatriz, no Rio de Janeiro. A partir dali se apontou a necessidade de compreender os locais de atendimento a essas vítimas e como a rede de apoio estava atuando. O projeto surgiu, então, através de uma parceria entre a Rede Nossas Cidades e a coluna Agora é que são elas, da Folha de São Paulo. O primeiro objetivo era simplesmente mapear o acolhimento das vítimas de violência sexual. Surgiu então como um portal da internet, que abriu a possibilidade de avaliação dos locais de atendimento. Só nesse momento já se partiu com 2 mil voluntárias avaliadoras. O segundo momento foi das voluntárias acolhedoras, somente com a possibilidade de inscrição de terapeutas. O site
www.mapadoacolhimento.org hoje conta com dois formulários, o "Quero acolher", para voluntárias, e o "Quero ser acolhida", para vítimas. A partir disso, ela recebe um retorno com as orientações necessárias, direcionando para profissionais voluntárias.
JL - Em que momento se percebeu a necessidade de incluir voluntárias advogadas?
Paola - Porto Alegre foi a primeira cidade a perceber essa necessidade. Claro que o atendimento psicológico é essencial, mas se percebeu também que essas mulheres estavam carentes de orientação jurídica. Muitas não denunciavam, e aquelas que registravam não levavam adiante sua queixa. Muito disso por falta de orientação e por medo, também. Ter uma advogada do lado para te indicar passos é importante. Fizemos essa proposta e as outras cidades acabaram aderindo. Hoje, são 16 advogadas atuando, o que é muito pouco, ou seja, precisamos de mais inscrições. Essas profissionais devem preencher um formulário e indicar o melhor horário de atendimento, pode ser um dia na semana, um turno, algumas horas, como for melhor para ela. E é essa informação que as vítimas recebem ao procurar o projeto, para aí então serem encaminhadas para a melhor profissional.
JL - Que tipo de melhoria ainda deve ser feito dentro do sistema?
Paola - O formulário no site para as avaliadoras, que indicam os locais de atendimento, como casas de acolhimento, delegacias, postos de saúde e seus serviços, já está fechado. Mesmo assim, ainda é possível ajudar através das nossas redes sociais. A ideia é crescer essa atuação e, para isso, inclusive, uma equipe específica pretende organizar uma ação por meio de uma campanha de financiamento coletivo. Foi firmado recentemente uma parceria com a Serra gaúcha, e agora Carlos Barbosa, Bento Gonçalves e Garibaldi passam a ser cidades parceiras. Temos também uma parceria com a Trensurb, que fixou cartazes em todas as estações até Novo Hamburgo para que se possibilitassem mais registros. A ideia é que esses cartazes também divulguem a possibilidade de voluntariado, e não só de denúncia. Precisamos aumentar o número de acolhedoras, e isso só se torna possível com divulgação do trabalho. O Mapa do Acolhimento quer expandir, também, o movimento Mulheres Mobilizadas, que possibilita um circuito de palestras sobre os mais diversos temas que envolvem as mulheres, porque informação é poder e, através desses encontros, podemos fornecer ainda mais ajuda às vítimas e demais mulheres que desejam se proteger.