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defesa

- Publicada em 09 de Novembro de 2017 às 21:42

Instalações nucleares no interior de São Paulo viram canteiro de obras

Navio pioneiro, SN-BR começa a tomar forma no estaleiro que serve de laboratório

Navio pioneiro, SN-BR começa a tomar forma no estaleiro que serve de laboratório


TÂNIA RÊGO/ABR/JC
Em 1985, as instalações da Marinha do Brasil em Iperó, cidade situada a Noroeste de Sorocaba (SP), não eram nada impressionantes. Pouco havia ali, embora os cientistas que operam o sistema já estivessem começando a enriquecer urânio através de ultracentrífugas.
Em 1985, as instalações da Marinha do Brasil em Iperó, cidade situada a Noroeste de Sorocaba (SP), não eram nada impressionantes. Pouco havia ali, embora os cientistas que operam o sistema já estivessem começando a enriquecer urânio através de ultracentrífugas.
Essas máquinas, essenciais no processo de enriquecimento do urânio, se parecem com imensos botijões de gás. O funcionamento delas surpreende por ser muito silencioso.
O urânio natural tem proporções pequenas, apenas 0,7% do isótopo U-235 (variante com massa diferente) usado como matéria-prima, seja para uma bomba atômica ou para um reator nuclear.
Enriquecer urânio significa aumentar a proporção de U-235 em contraposição ao mais comum U-238 em uma amostra para poder criar uma reação nuclear em cadeia e produzir energia. Uma explosão atômica é uma reação em cadeia não controlada.
Atualmente, as centrífugas continuam operando. Mas todo o complexo se transformou em um grande canteiro de obras, onde o submarino nuclear brasileiro - SN-BR - está tomando forma. "Estamos dentro do cronograma", afirma o capitão de mar e guerra e engenheiro naval Sérgio Luis de Carvalho Miranda, diretor do Centro Industrial Nuclear de Aramar.
O local inclui o Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LabGene), que, segundo a Marinha, "será utilizado para validar as condições de projeto e ensaiar todas as condições de operação possíveis para uma planta de propulsão nuclear".
O urânio é apenas o "combustível" do reator do submarino. Mas todo o resto é algo extremamente complexo em termos de engenharia. Um submarino nuclear é, no fundo, um navio a vapor. O calor gerado pela reação nuclear esquenta água e gera vapor para mover turbinas.
O que a Marinha Brasileira está fazendo é a produção de um protótipo do reator e o resto do sistema de propulsão. Em Iperó as turbinas também são testadas.
O engenheiro Reinaldo Panaro chefia um departamento fundamental, o Laboratório de Testes de Equipamentos de Propulsão (Latep). Sua tarefa é complexa. "A gente checa, relata, conserta e adapta", resume Panaro.
Como diz o comandante Miranda, "o pulo do gato" é reduzir a incerteza em um projeto muito complexo. Por exemplo, o reator desenvolvido em terra caberia no casco do submarino nuclear? "Cabe. Fazemos o dever de casa antes", garante o militar e engenheiro naval.
Por ser uma instalação experimental em terra, o projeto segue as convenções e regras típicas de usinas nucleares, de forma a garantir a segurança dos operadores e população local e evitar danos ao meio ambiente.
 

Poucos países têm as tecnologias do Brasil, afirma almirante

Albuquerque Junior diz que País contará com força naval submarina

Albuquerque Junior diz que País contará com força naval submarina


MARINHA/DIVULGAÇÃO/JC
"Energia nuclear" é algo que mete medo em muita gente, nem precisa ser um ambientalista fanático. Afinal, duas bombas atômicas foram lançadas contra o Japão em 1945 - que terminaram com a Segunda Guerra Mundial. Houve o desastre com o césio radiativo em Goiânia, em 1987; o acidente na usina de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.
Porém a mesma energia provê boa parte da eletricidade em vários países, ajuda no diagnóstico e tratamento de doenças como câncer. E também serve para a propulsão de navios de guerra, notadamente os enormes porta-aviões nucleares norte-americanos de 100 mil toneladas de deslocamento, e uma grande frota de submarinos criada por cinco países - EUA, Rússia, França, Reino Unido e China.
O Brasil quis fazer parte do clube nuclear desde a década de 1950. Um dos principais pioneiros, talvez o mais importante, foi um almirante Álvaro Alberto, cujo nome foi escolhido para batizar o primeiro SN-BR (submarino nuclear brasileiro), que a Marinha espera lançar ao mar em 2029.
O almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, diretor-geral do Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, explicou o andamento do projeto. Como ele resume, "poucos países no mundo tiveram condições de conquistar, até hoje, essas tecnologias".
O programa nuclear da Marinha existe desde a década de 1970. Não há dúvida de que houve progressos, por exemplo no enriquecimento de urânio, mas o País ainda está longe de ter um submarino nuclear. O primeiro submarino convencional, Riachuelo, ficará pronto no tempo previsto?
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior - O Programa Nuclear da Marinha (PNM) sempre esteve no rumo certo, sem sombra de dúvidas. O que ocorre é que ele é um programa de Estado, de longo prazo, como todos os programas desta magnitude e complexidade. Outro aspecto importante a se levar em conta é o fato de a tecnologia nuclear não ser transferida por nenhum país. Ou seja: tivemos que desenvolvê-la de forma autônoma.
É preciso lembrar, também, que o Programa Nuclear da Marinha, iniciado em 1979, compreendia dois grandes projetos: o domínio do ciclo do combustível nuclear e a construção do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgene).
O primeiro foi concluído em 1987, quando a Marinha divulgou, oficialmente, o domínio do difícil processo do enriquecimento de urânio por ultracentrifugação, tecnologia de alto valor agregado.
A partir dessa tecnologia, a Marinha passou a colaborar com as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e, desde 2000, fornece ultracentrífugas para sua planta industrial em Resende (RJ), onde é produzido o combustível nuclear para as Usinas de Angra, um bom exemplo do uso dual dessa tecnologia.
Quanto ao segundo projeto, estamos vendo nossos objetivos iniciais se tornarem realidade, com a proximidade do comissionamento do Labgene, a primeira instalação de energia nucleoelétrica totalmente projetada no País, que será, em terra, o protótipo da planta de propulsão do nosso submarino nuclear. Poucos países no mundo tiveram condições de conquistar, até hoje, essas tecnologias.
No que diz respeito ao primeiro submarino convencional, o Riachuelo, parte do nosso Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), será lançado ao mar no ano que vem, cumprindo o que está previsto no cronograma do programa atualmente em vigor.
A Marinha tem investido muito em instalações em Iperó e Itaguaí para produzir um submarino nuclear. Mas, como se costuma dizer, quem tem só um, não tem nenhum - pois o navio tem que ficar parte do tempo em trânsito, ou na base. Há planos para produzir mais submarinos?
Albuquerque Junior - O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), decorrente do Acordo Estratégico com a França, assinado em 2008, compreende a construção de quatro submarinos convencionais (S-BR), um com propulsão nuclear (SN-BR) e a construção de uma infraestrutura industrial e de apoio para construção, operação e manutenção dos submarinos.
Também envolve a transferência de tecnologia e, fruto dessa transferência, em janeiro deste ano foi concluído, com sucesso, por engenheiros e técnicos brasileiros, o projeto do SN-BR.
Cabe lembrar, contudo, que a Estratégia Nacional de Defesa estabelece que "o Brasil contará com uma força naval submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O Brasil manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de propulsão convencional, como de propulsão nuclear".