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Política

- Publicada em 13 de Outubro de 2017 às 17:25

Lúcio Funaro diz que Eduardo Cunha era 'banco de corrupção de políticos'

Conforme delator, Cunha (foto) 'mandava' no mandato de parlamentares que lhe pediam recursos

Conforme delator, Cunha (foto) 'mandava' no mandato de parlamentares que lhe pediam recursos


ANDRESSA ANHOLETE/AFP/ARQUIVO/JC
O operador financeiro Lucio Funaro definiu, em seu acordo de delação premiada, o papel de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados. "Eduardo funcionava como se fosse um banco de corrupção de políticos, ou seja, todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca mandava no mandato do cara", afirmou. "Não precisava nem ir atrás de ninguém, fazia fila de gente atrás dele."
O operador financeiro Lucio Funaro definiu, em seu acordo de delação premiada, o papel de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados. "Eduardo funcionava como se fosse um banco de corrupção de políticos, ou seja, todo mundo que precisava de recursos pedia para ele, e ele cedia. Em troca mandava no mandato do cara", afirmou. "Não precisava nem ir atrás de ninguém, fazia fila de gente atrás dele."
O depoimento de Funaro foi prestado à Procuradoria-Geral da República no dia 23 de agosto deste ano. O acordo de colaboração foi homologado pelo ministro Edson Fachin, Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao descrever o modus operandi do repasse de propinas na Caixa Econômica Federal, Funaro relatou que entre 60% e 65% do valor de cada operação ficava com Geddel Vieira Lima, depois que assumiu a vice-presidência de Pessoa Jurídica do banco, em 2011. Ele deixou o cargo em 2013, mas mantém ascendência na Caixa, segundo o operador. "O resto (40% a 35%) eu e o Cunha meiávamos no meio (sic) ou eu dava 5% a mais para o Cunha e o resto para mim, dependia da operação e da necessidade de caixa que ele tinha", disse Funaro.
O operador classificou sua relação com o ex-presidente da Câmara "muito boa" porque não se importava em destinar um valor maior a Cunha do que a ele próprio, se fosse para contemplar o "projeto político dele".
"Falava 'tá bom' porque apostava que ele realmente ia chegar onde chegou, que foi chegar a ser a pessoa que teve mais importância e poder no Brasil. Foi um período curto de tempo, mas ele chegou." Cunha está preso há um ano e sua tentativa de acordo de delação, empacada.
Funaro conta que teve "uma briga imensa" em 2012 com o empresário Marcos Molina, da Marfrig, para que ele liberasse propina de R$ 9 milhões negociada em troca de um financiamento da Caixa de R$ 350 milhões em 2012.
Molina tinha "sumido, parou de atender o telefone" e o operador o chamou para conversar no escritório. Disse que não conseguia "fazer dinheiro", e o operador protestou veementemente. "No dia seguinte, começou a vir o dinheiro", relatou.
Funaro afirmou que evitava deixar montantes de dinheiro em espécie no escritório. "Se eu não tivesse o que fazer com o dinheiro, eu não deixava dormir dinheiro dentro do escritório, porque tinha medo de ter operação da Polícia Federal."

Cunha repassava 'percentual' a Temer, diz ex-operador do PMDB

Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, o operador financeiro Lúcio Funaro disse ter "certeza" de que parte da propina oriunda de esquemas de corrupção do ex-deputado Eduardo Cunha era destinada ao presidente Michel Temer.
"Tenho certeza que parte do dinheiro que era repassado, que o Eduardo Cunha capitaneava em todos os esquemas que ele tinha, dava um percentual também para o Michel Temer. Eu nunca cheguei a entregar, mas o Altair [Altair Alves Pinto, emissário de Cunha] deve ter entregado, assim, algumas vezes", diz Funaro no depoimento.
Funaro relatou a facilidade para repassar a propina já que seu escritório em São Paulo era próximo ao de Temer -100 m de distância, segundo o delator- e ao do advogado José Yunes, ex-assessor especial do presidente da República.
"O Altair às vezes comentava que tinha que entregar um dinheiro para o Michel. O escritório do Michel é atrás do meu escritório. O lugar onde era localizado o meu escritório era um lugar muito bom para o Eduardo porque era próximo ao escritório do José Yunes, que era uma das pessoas que às vezes arrecadava dinheiro, que ia pegar dinheiro pro Michel Temer", afirma Funaro no depoimento sobre a atuação do PMDB na Caixa Econômica Federal.
Ele diz ainda: "Sendo próximo, o risco era pequeno. O cara saía com a mala, ia andando meia quadra e já estava no escritório dele, entendeu. Não tinha problema nenhum".
Funaro relata ainda que Temer nunca pegou ele mesmo o dinheiro porque "tinha receio de se expor", mas que o presidente "tinha conhecimento dos fatos".
"O Eduardo às vezes chegava pra ele e falava 'pô, precisamos fazer esse favor aqui e em troca disso vai ter uma doação'. No passado isso era considerado 'ah, deu um dinheiro para campanha', mas hoje nós sabemos que isso não é dinheiro para campanha. Isso aí é propina. Tem um nome específico. Propina. É a troca do teu poder, prestígio político, influência política em troca de uma doação para campanha, que o cara traveste isso aí de doação. É propina. Não tem outro nome. Propina", diz Funaro.
O operador financeiro cita em seu depoimento casos em que teria ocorrido pagamento de propina a Temer.
"Você acha que o [empresário] Natalino Bertin ia dar dinheiro para o Michel Temer porque acha o Michel Temer bonito?", diz Funaro.
Em outro trecho, ele cita a atuação de Temer, então vice-presidente da República, no pagamento de propina em foma de doação eleitoral pelo empresário Henrique Constantino, sócio da Gol Linhas Aéreas, para a campanha de Gabriel Chalita, atualmente no PDT. Na ocasião, em 2012, Chalita era candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo.
"A campanha do Chalita precisava de um dinheiro e o Henrique Constantino tinha um projeto para ser aprovado no FI-FGTS. [...] Aí eu pedi pro Henrique Constantino: 'oh, precisava de um adiantamento para a campanha do Chalita'. E ele falou 'tudo bem, mas era bom o vice-presidente me ligar'. Aí eu peguei, passei uma mensagem para o Eduardo. Falei 'oh, pede pro Michel ligar pro Henrique e agradecer a contribuição que ele está dando para a campanha do Chalita'. Não deu dez minutos, o Michel ligou no telefone do Henrique e agradeceu", afirmou.
Funaro diz ter visto "diversas vezes o Michel Temer ligar para o Eduardo Cunha para tratar de doação de campanha", mas ponderou não saber se tratavam de repasses oficiais.
"Não posso falar se essa doação era lícita ou não lícita."
Em um breve comunicado, o Palácio do Planalto informou que "o presidente Michel Temer não fazia parte da bancada de ninguém", referindo-se ao grupo de Eduardo Cunha. O governo informou ainda que "toda e qualquer afirmação nesse sentido é falsa".
O advogado de Yunes, José Luis Oliveira Lima, disse, em nota, que "Lúcio Funaro já faltou com a verdade em inúmeras oportunidades".
"José Yunes, ao contrário de Funaro, goza de credibilidade. Tão logo esses fatos ficaram públicos procurou a PGR e prestou todos os esclarecimentos devidos", afirmou o defensor.
"Yunes teve seus argumentos acolhidos pelo Ministério Público, tanto que jamais foi denunciado, mas sim arrolado como testemunha de acusação. É importante registrar que Funaro será processado por denunciação caluniosa pelo meu cliente", disse Lima.
Folhapress
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