Imagens de satélite divulgadas ontem pela ONG britânica Human Rights Watch mostram a destruição em massa de vilarejos da etnia Rohingya no estado de Rakhine, em Mianmar, e contrariam a afirmação da líder do país, Aung Sun Suu Kyi, de que as operações do Exército na região haviam sido interrompidas em 5 de setembro.
Conforme o relatório da ONG, as imagens revelam a destruição seletiva das propriedades da etnia muçulmana. Ao menos 288 vilarejos dos Rohingyas foram total ou parcialmente destruídos entre 25 de agosto e 25 de setembro.
Em discurso em 18 de setembro - sua primeira manifestação oficial sobre a violência -, Suu Kyi afirmou que não havia "conflitos ou operações de limpeza" desde o início de setembro. "Estou ciente de que a atenção do mundo está na situação no estado de Rakhine. Como um membro responsável da comunidade de nações,
Mianmar não teme o escrutínio internacional", disse Suu Kyi. "Houve alegações e contra-alegações. Temos de ter certeza quais dessas alegações são baseadas em evidências sólidas antes de adotar ações", acrescentou.
Satélites monitoraram 866 vilarejos nos distritos de Maungdaw, Rathedaung e Buthidaung, em Rakhine. O que apresentava maior destruição era o de Maungdaw, na fronteira com Bangladesh, onde, em algumas áreas, até 90% das propriedades haviam sido destruídas. Os satélites captaram ainda múltiplos focos de incêndio, às vezes por longos períodos.
Segundo as imagens, pelo menos 66 vilarejos foram atacados depois do dia 5 de setembro, afirma o relatório. "Essas últimas imagens de satélite mostram por que mais de meio milhão de Rohingyas fugiram para Bangladesh em cerca de quatro semanas", afirmou Phil Robertson, vice-diretor para a Ásia da ONG. "O Exército birmanês destruiu centenas de vilarejos Rohingyas, cometendo assassinatos, estupros e outros crimes contra a humanidade que forçaram os Rohingyas a fugirem."
O governo birmanês alega que são os próprios Rohingyas e insurgentes do Exército da Salvação Rohingya Arakan (Arsa) que incendeiam as propriedades para colocar a culpa no Exército. A região está sob tensão desde que ataques de militantes do Arsa provocaram uma campanha de repressão do Exército de Mianmar, que a ONU classificou de "limpeza étnica".
Desde 1982, os Rohingyas não são reconhecidos como cidadãos de Mianmar. Majoritariamente budistas, os birmaneses alegam que os Rohingyas são uma etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe muitos trabalhadores de Bangladesh.