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- Publicada em 01 de Outubro de 2017 às 21:39

Votação sobre independência catalã é marcada por truculência policial

Confrontos com as tropas de choque deixaram quase 900 feridos

Confrontos com as tropas de choque deixaram quase 900 feridos


/LLUIS GENE/AFP/JC
O governo regional da Catalunha estimou em "milhões" o número de pessoas que teriam votado ontem no plebiscito proibido sobre a independência em relação à Espanha. A estimativa indica que, apesar da repressão da Guarda Civil e da Polícia Nacional, ordenada por Madri, a votação teve grande adesão do público. No sábado, as próprias autoridades catalãs estimavam que, se 1 milhão votasse, já se trataria de uma vitória. 
O governo regional da Catalunha estimou em "milhões" o número de pessoas que teriam votado ontem no plebiscito proibido sobre a independência em relação à Espanha. A estimativa indica que, apesar da repressão da Guarda Civil e da Polícia Nacional, ordenada por Madri, a votação teve grande adesão do público. No sábado, as próprias autoridades catalãs estimavam que, se 1 milhão votasse, já se trataria de uma vitória. 
As informações foram divulgadas por Jordi Turull, porta-voz do presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont. "Tudo nos leva a crer que poderemos contar aos milhões", afirmou, em uma declaração que revela o caos organizacional em que a votação foi realizada. Não há previsão para o término da contagem. O principal grupo separatista catalão, o ANC, pediu ao governo regional que declare a independência. "Não nos decepcionem agora. Chegou o momento da verdade", disse o líder do grupo, Jordi Sanchez.
Até o final da tarde, no horário local, 73% das 2,3 mil seções eleitorais acabaram abrindo suas portas. Já o governo central estima que pelo menos 336 delas foram fechadas pelas forças de ordem. Uma das queixas dos opositores ao plebiscito é a total falta de controle sobre os eleitores que votaram. A situação gerou suspeitas de que muitos dos separatistas tenham votado várias vezes, aproveitando-se da falta de fiscalização efetiva.
O plebiscito havia sido proibido pelo Tribunal Constitucional da Espanha, que considerava irregulares as circunstâncias da votação. Por contrariar a Constituição espanhola, a votação foi declarada ilegal e virou objeto de repressão das polícias nacionais, enviadas pelo primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy.
O resultado é que pelo menos 884 pessoas foram atendidas em hospitais da Catalunha, a maior parte em Barcelona. Os ferimentos aconteceram em confrontos com as tropas de choque, que invadiram os locais de votação com a ordem de apreender urnas, cédulas e equipamentos relativos ao plebiscito. Desse total, duas estariam em condições mais graves: uma, ferida no olho com bala de borracha; e outra, um idoso que sofreu um enfarte antes de uma ação policial para evacuar uma escola onde a votação estava ocorrendo. Balas de borracha não são mais usadas na Catalunha desde 2014, mas o policiamento da região foi reforçado com tropas de outras localidades da Espanha. Trinta e três policiais ficaram feridos.
Segundo Turull, o governo da Catalunha espera que tribunais internacionais investiguem as circunstâncias da repressão. "Atuação do Estado espanhol é uma vergonha internacional, um escândalo", afirmou, definindo o dia de votação em Barcelona e no interior catalão como "estado de sítio".
Se o Parlamento da Catalunha declarar a independência de maneira unilateral nas próximas 48 horas, como ameaça fazer, Madri vai insistir que a consulta não teve valor. O governo catalão também será questionado por ter anunciado novas regras à votação a menos de uma hora de seu início, às 9h locais (4h em Brasília). Barcelona decidiu, por exemplo, que os cidadãos poderiam votar em qualquer ponto eleitoral, e não apenas onde estavam registrados para tal. 
A Catalunha também permitiu o voto sem envelopes. Isso é problemático, porque, a rigor, a exigência de um envelope permite anular votos duplos - se há mais de uma cédula, ela não vale. Não deverá ser possível, ainda, contar os votos de maneira oficial. O governo espanhol interditou os serviços catalães de telecomunicação, impedindo o gesto.
Apesar de cerca de 70% dos catalães defenderem a realização de um referendo dentro da legalidade, estudos de opinião indicam que os independentistas não têm a maioria, mas ganhariam no referendo, pois iriam votar em massa. Uma pesquisa realizada pelo governo regional em julho revelou que os partidários da independência são 41,1%; e os que são contrários à separação, 49,4%.

Para o primeiro-ministro Mariano Rajoy, plebiscito 'não existiu'

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, fez um duro pronunciamento contra o plebiscito realizado na Catalunha sobre a independência da região, afirmando que "a tentativa de votação" pretendia "liquidar a Constituição espanhola" e referindo-se à consulta como um "sério ataque". Para o premiê, o pleito simplesmente "não existiu".
Em seu discurso, Rajoy agradeceu às forças de segurança pela lealdade ao governo de Madri e disse que elas cumpriram com a obrigação de "manter a ordem". Segundo ele, a Espanha respondeu com firmeza e serenidade à votação de independência.
"Mostramos que temos recursos para nos defender de um ataque como essa tentativa de votação. Não podemos deixar nossa democracia se perder devido à chantagem de uns poucos", afirmou o premiê. Ele destacou que a Espanha é uma democracia avançada e tolerante, mas também firme e determinada, e que sua obrigação como primeiro-ministro é a de fazer com que a lei seja cumprida.
Rajoy ainda agradeceu ao apoio dado pela comunidade internacional e pela União Europeia. Na sexta-feira, o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, afirmou que as pessoas deveriam respeitar a Constituição de seus países, referindo-se indiretamente ao plebiscito catalão.