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Agronegócios

- Publicada em 29 de Outubro de 2017 às 21:26

Crise no setor lácteo muda o perfil do produtor gaúcho

Valor do litro do leite pago aos criadores caiu cerca de R$ 0,40 em apenas um ano no Rio Grande do Sul

Valor do litro do leite pago aos criadores caiu cerca de R$ 0,40 em apenas um ano no Rio Grande do Sul


/EDUARDO SEIDL/PALÁCIO PIRATINI/JC
A crise que se abateu sobre o setor do leite no Rio Grande do Sul e se agravou a partir de 2016, especialmente, retirou cerca de 20 mil produtores da atividade entre 2015 e meados de 2017, de acordo com levantamento da Emater. A razão mais explícita para o abandono da cultura, tradicional no Estado, pode ser expressa por um número bastante simples. O preço pago ao produtor caiu cerca de R$ 0,40 em apenas um ano. A queda tem relação, basicamente, com o excesso de leite uruguaio que entrou no Brasil, sobretudo em 2016, desvalorizando o produto local e elevando às alturas os estoques das indústrias.
A crise que se abateu sobre o setor do leite no Rio Grande do Sul e se agravou a partir de 2016, especialmente, retirou cerca de 20 mil produtores da atividade entre 2015 e meados de 2017, de acordo com levantamento da Emater. A razão mais explícita para o abandono da cultura, tradicional no Estado, pode ser expressa por um número bastante simples. O preço pago ao produtor caiu cerca de R$ 0,40 em apenas um ano. A queda tem relação, basicamente, com o excesso de leite uruguaio que entrou no Brasil, sobretudo em 2016, desvalorizando o produto local e elevando às alturas os estoques das indústrias.
Entre outubro de 2016 e outubro de 2017, por exemplo, o valor do litro pago ao produtor passou de R$ 1,39 para R$ 0,96. A redução de 22% no número de pessoas trabalhando com vacas leiteiras em suas propriedades, porém, foi muito inferior à quantidade de leite encaminhado à indústria, uma queda de apenas 2%, e menor também que a redução no rebanho gaúcho, de cerca de 10%. A explicação? Estão saindo do mercado produtores menores e menos eficientes na atividade. Quem permaneceu está batalhando e investindo para aumentar a produtividade, e tem conseguido isso.
Quem está deixando a atividade, explica Jaime Ries, assistente técnico da Emater para o setor, é o produtor pequeno, que não consegue mais arcar com os prejuízos e que utiliza a produção caseira de leite como alimento próprio também. Em alguns casos, vendeu as vacas para abate, por menos da metade do valor pago ao gado de corte, ou para um vizinho ou produtor próximo que seguirá na atividade.
"Está ficando apenas aquele produtor maior, que tem como investir em mecanização. Esses estão conseguindo aumentar a produtividade média e sobreviver. Apesar de ter esse lado bom, da produtividade média estar aumentado, o cenário é triste porque castigou muitos pequenos produtores", ressalta Ries.
Apesar de indicar que uma das regiões que mais tem perdido produtores de leite no Estado é a de Santa Rosa, no Noroeste gaúcho, Ries explica que, na mesma área, também há produtores ampliando rebanho e melhorando os números da atividade. É dessa forma, diz Ries, que está mudando o perfil do produtor de leite gaúcho. "Entre 2015 e 2017, caiu em 42% o número de produtores que tiram até 50 litros por dia, e subiu em quase 20% o número de quem consegue mais de 2,5 mil litros diários. O produtor está se profissionalizando rapidamente", atesta Ries, analisando dados sobre o setor.
Ivar Kreutz, técnico da Emater na região das Missões e que atua diretamente em contato com produtor, acrescenta que quem está deixando a atividade é especialmente o produtor de mais idade, sem um sucessor jovem para tocar a árdua rotina do leite e sem recursos para adotar, por exemplo, ordenhas mecanizadas. "A atividade é pesada, há poucos jovens nas propriedades hoje e, sem investir na produção, com esse baixo valor, não tem como o pequeno produtor resistir", resume Kreutz.

Produção está cada vez mais mecanizada no Estado

Os números da profissionalização do produtor de leite, de acordo com estudo da Emater, podem ser medidos pela mecanização maior da atividade entre 2015 e 2017. O uso de resfriador de expansão direta teve alta de 15,12%, reduzindo sistemas mais antiquados, como resfriador de imersão (-12,26%) e outros tipos ou nenhum resfriamento (-3,15%).
Outro dado que comprova a profissionalização e o aprimoramento da atividade é o aumento da presença de ordenhadeiras canalizadas (alta de 2,66%) e de ordenha com transferidor de leite (alta de 5,45%). Já a ordenha manual deixou de ser feita por 5,31% dos produtores.

Ministério deve enviar missão técnica ao Uruguai hoje

Apontado por produtores e indústria como o principal causador da atual crise vivida pelo setor, o Uruguai é o destino de uma missão técnica do Ministério da Agricultura nesta segunda-feira. De acordo com dado do Sindicato da Indústria de Laticínio e Produtos Derivados do Estado (Sindilat-RS), mais do que inundar o mercado brasileiro com sua produção, o Uruguai estaria servindo de plataforma para envio irregular ao Brasil de leite da Argentina e do Paraguai, por exemplo. Como tem limitação de cotas para vender para cá, os dois países usariam a posição de exportador sem cotas do Uruguai para entrar no Brasil.
Segundo o sindicato, o Uruguai produziu 1,7 bilhão de litros de leite em 2016 e consumiu 700 milhões de litros. Segundo dados divulgados pelo próprio país, o saldo, se convertido em pó, renderia 120 mil toneladas. Só o Brasil recebeu 100 mil toneladas de leite em pó e 18 mil toneladas em queijos do país vizinho, o que representa praticamente todo o volume restante.
É para começar a apurar a denúncia e negociar cotas de ingresso também para o produto uruguaio que o ministério deve desembarcar hoje em Montevidéu. A meta é dialogar com autoridades sanitárias locais sobre a suspensão temporária das importações de leite daquele país pelo Brasil até que o caso esteja esclarecido. As reuniões se estenderão até 3 de novembro.