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Cultura

- Publicada em 21 de Outubro de 2017 às 14:45

Ela na Tela: mostra aborda o protagonismo das mulheres no cinema

Filme Café com canela é uma das atrações da mostra Ela na tela, que começa sábado na Cinemateca Capitólio

Filme Café com canela é uma das atrações da mostra Ela na tela, que começa sábado na Cinemateca Capitólio


MOSTRA ELA NA TELA/DIVULGAÇÃO/JC
Luiza Fritzen
Que tipo de mulher é reproduzida pelo cinema? Que tipo de cinema produzem essas mulheres? A que tipo de recurso elas têm acesso? Foram essas questões que levaram um grupo de realizadoras a promover a Mostra Ela na Tela. A terceira edição do projeto começa neste sábado com o intuito de dialogar sobre a presença feminina nas telas e criar uma janela de exibição para filmes dirigidos por mulheres. O festival segue até quarta-feira com atividades gratuitas na Cinemateca Capitólio Petrobras (Demétrio Ribeiro, 1.085) e na Aldeia (Santana, 252).
Que tipo de mulher é reproduzida pelo cinema? Que tipo de cinema produzem essas mulheres? A que tipo de recurso elas têm acesso? Foram essas questões que levaram um grupo de realizadoras a promover a Mostra Ela na Tela. A terceira edição do projeto começa neste sábado com o intuito de dialogar sobre a presença feminina nas telas e criar uma janela de exibição para filmes dirigidos por mulheres. O festival segue até quarta-feira com atividades gratuitas na Cinemateca Capitólio Petrobras (Demétrio Ribeiro, 1.085) e na Aldeia (Santana, 252).
Como explica uma das idealizadoras da Mostra, Mariani Ferreira, a proposta do projeto é abrir espaço para troca de experiências e busca de igualdade de gênero no fazer cinematográfico. “O cinema é feito majoritariamente por homens, e, em sua maioria homens brancos. Pessoas negras e mulheres são marginalizadas na produção audiovisual, inclusive na distribuição de recursos. A iniciativa começou a partir da necessidade de discutir sobre isso”, conta.
A organizadora afirma que ainda é muito difícil promover essa discussão, o que se percebe até na busca de patrocínio. Além de Mariani (roteirista e diretora), a Mostra Ela na Tela está sendo realizada de forma independente por Gabriela Burck (diretora de arte), Isabel Cardoso (montadora), Marina Burck (roteirista), Clarissa Virmond (diretora de fotografia e arte) e Mariana Fonte (produtora). Anteriormente, o festival fora realizado na Sala P. F. Gastal, que teve suas atividades encerradas neste ano.
O diferencial desta edição é que foram aceitos filmes coprotagonizados por homens. A mudança ocorreu pela percepção das realizadoras que muitos filmes produzidos por mulheres ficaram de fora pois tinham essa característica. “Decidimos aceitar neste ano esses filmes desde que a discussão fosse a respeito da temática da mulher”, relata Mariani Ferreira, uma das organizadoras da mostra.
Dos 250 filmes inscritos, seis vezes mais do que no ano passado, foram selecionados 19 curtas-metragens, que abrangem produções de cidades como Caruaru, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, todas dirigidas por mulheres. Os filmes abraçam os mais diferentes gêneros, como documentário, ficção e experimental. Apesar do desafio em realizar a curadoria para mostra, Mariani explica que a seleção foi feita levando em conta critérios estéticos e o tipo de discussão os filmes traziam. “Ficamos entre filmes muito bons tecnicamente e que acrescentavam na discussão e reflexão propostas pela mostra, não focando em apenas um tipo de discussão”, narra. Entre as temáticas, estão produções que discutem cultura do estupro, aborto, questão trans e negra e violência doméstica.
Além de promover a conscientização sobre a importância da representação feminina na tela de cinema, a mostra decidiu ampliar os tópicos discutidos a partir da percepção das curadoras de que não há um consenso sobre o que é ser mulher. “Começamos a ampliar as temáticas porque quando se fala de mulher não se fala de uma mulher única, são as brancas, as negras, as indígenas, as lésbicas, as trans“, explica a realizadora.
Para isso, além da exibição de filmes, a mostra conta com oficinas e debates. Entre elas, oficina de roteiro com Eleonora Loner, produção com Marta Nunes, crítica cinematográfica com Fatimarlei Lunardelli e mulheres no cinema brasileiro com Flávia Seligman. Para participar das oficinas, não é necessária inscrição prévia, a ocupação do espaço será por ordem de chegada. As mesas irão discutir questões sobre as obras realizadas por mulheres e o ambiente do set de filmagens para as profissionais do audiovisual.
Mariani atenta para a importância de se refletir que tipo de cinema tem sido produzido: “Se a mulher não puder fazer cinema, alguém vai fazer cinema sobre essa mulher e quando você não pode falar de si mesma aparece uma série de problemas com estereótipos e representações negativas que reforçam uma serie de violências na sociedade”.
Para a cineasta, a cultura não é isolada e desempenha papel importante na forma como a sociedade se estrutura. "Você tem um cinema que coloca o homem negro sempre no papel de bandido em um País em que a maioria dos jovens que morre é negro, existe uma correlação entre essas duas coisas”, comenta Mariani, que acrescenta: “Quando você coloca a mulher numa série de estereótipos, objetiva e desumaniza essa mulher no cinema e na TV e tem um índice enorme de estupros e violência doméstica no Brasil não pode fingir que essas coisas não estão relacionadas”.
A necessidade e importância de eventos como a Mostra Ela na Tela se comprovam com pesquisas feitas na área, como a análise publicada pela New York Film Academy em 2013. O estudo constatou que, em 2012, apenas 9% dos filmes foram dirigidos por mulheres, e só 15% foram escritos por elas. Na produção, as mulheres ocuparam 25% dos cargos, número que cai para 17% quando se trata de produtores executivos. O estudo levou em conta os 500 filmes mais vistos no período entre 2007 e 2012 e mostra, ainda, que os estereótipos e a sexualização da mulher nas telas ainda é uma questão que deve ser combatida.
De acordo com o levantamento, mulheres representam 30,8% dos personagens com falas, destas, 1/3 aparecem em cenas de nudez. O número aumenta quando se trata de adolescentes. Entre 2007 e 2012, a porcentagem de meninas representadas com alguma nudez aumentou em 32,5%. A desigualdade também inclui a remuneração. Segundo lista publicada pela Forbes em 2013, entre os 10 artistas mais bem pagos, os atores receberam US$ 465 milhões, já quando se trata de atrizes, o valor total recebido foi de US$ 181 milhões.
A idade também é um fator de discriminação. Segundo a análise, desde 2000, a média de idade dos premiados a melhor ator no Oscar foi de 44 anos, enquanto a de melhor atriz foi de 36. Em 2013, das 19 categorias, 140 homens foram nomeados, contra 35 mulheres. Para se ter ideia, em 88 anos de história da premiação, apenas quatro mulheres foram nomeadas na categoria de melhor direção. Entre elas, Lina Wertmuller, por Pasqualino Sete belezas (1977), Jane Campion, por O piano (1994), Sofia Coppola, por Encontros e desencontros (2004) e Kathryn Bigelow (2010), que ganhou o prêmio por Guerra ao terror.
Neste sábado, a sessão de abertura será marcada pela exibição do longa inédito Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, seguido de um debate com Glenda. Premiado no Festival de Cinema de Brasília nas categorias de atriz, roteiro e melhor filme pelo júri popular, a produção foi realizada no Recôncavo Baiano, local em que os diretores escolheram para fundar a produtora. O filme reflete a cultura e o cotidiano do interior baiano e conta a história do encontro de duas mulheres. Margarida que vive em São Félix, isolada pela dor da perda do filho, e Violeta, que mora em Cachoeira, lidando com adversidades do dia a dia e traumas do passado. Quando Violeta reencontra Margarida inicia-se um processo de transformação, marcado por visitas, faxinas e cafés com canela, capazes de despertar novos amigos e antigos amores.
Ainda em novembro, as realizadoras pretendem lançar o Mostra Ela na Tela universitária, que irá selecionar filmes dirigidos e protagonizados por mulheres que foram produzidos na academia. A quarta edição da mostra já está confirmada, mas as organizadoras ainda buscam parcerias e patrocínios para o próximo ano.
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