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Cultura

- Publicada em 14 de Outubro de 2017 às 14:03

Quem inflacionou o meu pastel?

Mistura de farinha com azeite e água: 14 reais no show de Paul McCartney

Mistura de farinha com azeite e água: 14 reais no show de Paul McCartney


CRISTIANO VIEIRA/ESPECIAL/JC
Cristiano Vieira
A fome custava R$ 14,00 no show do Paul McCartney em 13 de outubro deste ano, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Era esse o preço do item mais em conta nas lancherias e nos ambulantes que percorriam o faminto público do local. O lanche era um pastel de queijo. De queijo!
A fome custava R$ 14,00 no show do Paul McCartney em 13 de outubro deste ano, no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Era esse o preço do item mais em conta nas lancherias e nos ambulantes que percorriam o faminto público do local. O lanche era um pastel de queijo. De queijo!
Essa crônica bem podia ser sobre a violência, Bolsonaro, Temer, etc...mas não, é sobre algo que incomoda e muito quem vai a shows: os preços fora da realidade dos itens cobrados nos espetáculos.
A gente até paga R$ 15,00 por uma lata de cerveja, ou R$ 20,00 por um cachorro-quente de grife (quem mora em Porto Alegre sabe que essa grife tem nome e endereço: Cachorro do Rosário, do bairro Independência) nos estádios, porque está com fome e aceita que os preços desses itens mais elaborados costumam ser mais altos. Entra aí, também, uma questão de avaliação – tá, estou num show, o fulano fez o cachorro, transportou, pagou o vendedor, etc. A gente aceita o abuso.
Contudo, limites existem. O pastel, caro leitor, nada mais é que uma mistura de farinha de trigo, água, ovo e óleo de soja – os produtos mais baratos encontrados em mercadinhos Brasil afora e que qualquer tia sabe transformar na delícia fritada em óleo quente. “Ah, mas tem o queijo!” – sim, é verdade. Mas é um muçarela bem chinfrin, nem de longe lembra um queijo da serra da canastra ou um gruyère deliciosamente suíço cujo preço por quilo ultrapassa R$ 90,00.
Claro, vivemos em uma economia de mercado, em que cada um cobra o que quiser e quem puder - ou quiser - que pague o preço. Mas a história do pastel de queijo ilustra bem a inflação de outro mundo que impera nos shows de medalhões internacionais: a água mineral de R$ 3,00 no brique de domingo sobe para R$ 10,00 em qualquer show em arenas fechadas.
Faz tudo parte de um jogo capitalista: o ingresso é estabelecido conforme o câmbio, o cachê varia conforme a estirpe do artista (um Paul custa mais que um Iggy Pop), entra na conta o famoso e sempre citado custo-Brasil (impostos, etc) e, ainda, as isenções e descontos: os ingressos para estudantes e idosos, com desconto, inflacionam o preço para quem não é nenhum dos dois. Pode torcer o nariz quem é contra as isenções, mas nada mais justo que alguém que contribuiu a vida toda com impostos tenha algum desconto na velhice.
Mesmo assim, o que justifica um pastel de queijo a R$ 14,00? Eu não comprei e voltei para casa com fome, admito. Mas gastei R$ 15,00 na lata de cerveja. É tudo uma questão de valor, no fim das contas – o que importa mais para mim ou para o leitor.
Neste caso, uma mistura de farinha com azeite e água é absurdamente mais cara, no meu juízo, que o líquido com cevada vendido em uma lata. Mas não dá para cobrar menos, produtoras? Todos sairíamos mais felizes após ouvir um ovacionado Hey, Jude!. E se a fome apertar, a generosa a la minuta do Tudo pelo Social, na João Alfredo, custa R$ 22,00 e serve duas pessoas. Oito pilinhas a mais que o inflacionado pastel de vento do show. Fica a dica.
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