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Cultura

- Publicada em 07 de Outubro de 2017 às 14:11

Artistas do Rio reagem a ataques contra mostras e peças trans

Em Porto Alegre, protesto em frente ao Santander Cultural repudiou  cancelamento da mostra Queermuseu

Em Porto Alegre, protesto em frente ao Santander Cultural repudiou cancelamento da mostra Queermuseu


MARCO QUINTANA/JC
Em reunião no apartamento da produtora Paula Lavigne, em Ipanema, no Rio de Janeiro, cerca de 100 artistas visuais, curadores e colecionadores de arte, músicos, atores, diretores e outros profissionais da área cultural decidiram contra-atacar diante de críticas e reações a mostras e produções baseada na temática gay e trans. Porto Alegre tem o mais polêmico até agora, com repercussão que chegou ao Exterior com reportagem da imprensa norte-americana e europeia, do cancelamento da exposição Queermuseu, pelo Santander Cultural.
Em reunião no apartamento da produtora Paula Lavigne, em Ipanema, no Rio de Janeiro, cerca de 100 artistas visuais, curadores e colecionadores de arte, músicos, atores, diretores e outros profissionais da área cultural decidiram contra-atacar diante de críticas e reações a mostras e produções baseada na temática gay e trans. Porto Alegre tem o mais polêmico até agora, com repercussão que chegou ao Exterior com reportagem da imprensa norte-americana e europeia, do cancelamento da exposição Queermuseu, pelo Santander Cultural.
Dez dias depois da polêmica envolvendo a performance La bête, no Museu de Arte Moderna (MAM) em São Paulo, eles definiram na noite de quinta-feira (5): artistas que se sentiram difamados por vídeos de políticos e grupos na internet vão entrar na Justiça. Eles se referem a vídeos como o do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que associou os dois eventos à promoção de pedolfilia e zoofilia.
O prefeito de São Paulo, João Doria, também é citado pelo grupo, por ter postado um vídeo em que descreve a performance do MAM como "cena libidinosa". Um dos que irão à Justiça é Adriana Varejão, autora da tela Cenas de interior II, apresentada na exposição Queermuseu e uma das acusadas de promover zoofilia. O grupo decidiu também lançar uma campanha nas redes sociais, batizada de #342 artes - Contra a censura e a difamação, com vídeos gravados por nomes como a própria Varejão, o pintor Vik Muniz, os cantores Marisa Monte e Caetano Veloso, as atrizes Cissa Guimarães e Debora Lamm.
No primeiro vídeo divulgado, o curador da Queermuseu, Gaudêncio Fidélis, critica a postura do prefeito do Rio e do senador Magno Malta (PR-ES) que, segundo ele, o convocou para a CPI dos maus-tratos contra crianças e adolescentes para "armar um circo midiático". "Crivella e Doria estão difamando profissionais sérios e enganando a população", diz Paula Lavigne.
"Uma funcionária minha veio me perguntar se eu ia "defender pedofilia". Esse tipo de confusão vem da disseminação indiscriminada desses vídeos, que estão sendo usados por políticos para criar uma cortina de fumaça sobre os reais problemas do país. Por isso também vamos entrar com ações contra eles e contra grupos (o Movimento Brasil Livre é um deles) que usam a difamação como forma de enganar a população. É um movimento para dizer que exigimos respeito."
Varejão ressalta que o Ministério Público do Rio Grande do Sul foi à mostra e não verificou nada relacionado à pedofilia e zoofilia. "Por mais absurdo que seja o MP ir a um museu para verificar isso, esse fato demonstra claramente que as acusações são falsas, é uma campanha de difamação passível de processo. Sofri vários ataques pessoais, e todos terão resposta", afirma a pintora. "Escolheram os artistas como inimigos públicos, criminalizando produções sérias, que movimentam a economia e criam possibilidades. Enquanto isso, crianças estão expostas a riscos reais de abusos nas cidades que esses prefeitos administram. Os lugares onde mais se exploram crianças no Brasil nem têm museus por perto."
Para Vik Muniz, que se divide entre Nova Iorque e Rio, a campanha contra artistas é semelhante à do presidente Donald Trump nos Estados Unidos. "Por lá o Trump e sua base de apoio fazem o mesmo, trazendo questões morais para o centro do debate enquanto elaboram uma agenda política muito mais perniciosa. Crivella e Doria falam sobre exposições que não viram. Não dá para recorrer ao "não vi e não gostei" em um caso desses - diz o pintor, para quem o único crime em todos estes casos foi cometido por quem disseminou na internet vídeos da criança no MAM. Estão expondo a menina de forma terrível, isso é realmente algo que atinge o Estatuto da Criança e do Adolescente. Grupos como o MBL e pessoas que compartilham deveriam ser acionadas na Justiça."
Sexta-feira passada, a coluna de Ancelmo Gois, no GLOBO, publicou um vídeo de Caetano Veloso, ao lado de Fidélis, criticando Crivella e o MBL. "Esse vídeo inadmissível do prefeito Crivella, que é mentiroso e desrespeitoso do cargo, no sentido de ele estar representando a Prefeitura do Rio de Janeiro. O prefeito fala que a exposição é pedofilia e zoofilia, baseado na invenção de uns malucos do MBL, que são umas pessoas suspeitas na sociedade brasileira. Conservadoras das desigualdades, da opressão, do horror. Inventaram uma história de uma exposição de arte para fazer propaganda do que eles querem. Sou contra", protesta o músico.
A atriz Débora Lamm, que gravou ontem seu vídeo para a campanha, lembra que a mobilização que começou nas artes visuais se estendeu para todo o meio cultural: "A liberdade de expressão é uma causa que interessa a todos. Como em outros momentos da História, os artistas são os primeiros a ser atacados, mas o importante é somar, não dá para olhar nenhum grupo em separado. As redes há muito deixaram de ser ambiente de diálogo e passaram a ser lugar onde as pessoas destilam ódio. Neste momento delicado, quanto menos polarizados estivermos mais chance temos de achar uma saída."
Procurada pela reportagem, a assessoria do prefeito Marcelo Crivella informou que a prefeitura não irá se posicionar sobre o caso. A assessoria do prefeito João Doria enviou a mensagem: "Paula Lavigne está desinformada. Ao referir-se à performance La bête, (o prefeito) apontou que houve desrespeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente e manifestou uma opinião crítica em relação a seu conteúdo, o que ele reafirma". Procurado, o Movimento Brasil Livre não retornou às solicitações.
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