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Cinema

- Publicada em 19 de Outubro de 2017 às 22:31

Cidade ameaçada

Bigelow abordar o tema do racismo em Detroit em rebelião

Bigelow abordar o tema do racismo em Detroit em rebelião


IMAGEM FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
A diretora Kathryn Bigelow completa com este Detroit em rebelião uma trilogia, talvez involuntária, sobre a participação dos Estados Unidos em dramas contemporâneos. Em Guerra ao terror, com o qual foi a primeira mulher a receber um Oscar de direção - e o filme também recebeu a estatueta de melhor do ano - ela focalizou as atividades de soldados americanos no Iraque. Em outro ótimo filme, A hora mais escura, abordou o tema da tortura, e também reconstituía a caçada a Osama Bin Laden. Em ambos os trabalhos, ela mostrou um domínio perfeito da narrativa cinematográfica e pela postura diante dos fatos descritos revelou lucidez e coragem. Ela, sem dúvida, é hoje um dos nomes mais importantes do cinema norte-americano. Pratica, à sua maneira, uma arte de resistência, na medida que, sem apelar para reducionismos e superficialidades, não se recusa a olhar para o tumulto e os conflitos raramente presentes na tela. E também por ter escolhido em seus trabalhos mais recentes narrar acontecimentos verídicos ela tem assumido o compromisso com um cinema que tem raízes no documentário. Nesse sentido, ela deve algo ao britânico Paul Greengrass, o realizador de Capitão Phillips e também de outros filmes nos quais utilizou uma técnica narrativa que procura imitar o documentário. Certamente não é por acaso que o fotógrafo de Detroit, Barry Ackroyd, trabalhou com aquele diretor no filme citado e também em Voo United 93, no qual era reconstituído, inclusive com a participação de técnicos que estavam nos aeroportos no dia 11 de setembro de 2001, a trajetória de um dos aviões sequestrados.
A diretora Kathryn Bigelow completa com este Detroit em rebelião uma trilogia, talvez involuntária, sobre a participação dos Estados Unidos em dramas contemporâneos. Em Guerra ao terror, com o qual foi a primeira mulher a receber um Oscar de direção - e o filme também recebeu a estatueta de melhor do ano - ela focalizou as atividades de soldados americanos no Iraque. Em outro ótimo filme, A hora mais escura, abordou o tema da tortura, e também reconstituía a caçada a Osama Bin Laden. Em ambos os trabalhos, ela mostrou um domínio perfeito da narrativa cinematográfica e pela postura diante dos fatos descritos revelou lucidez e coragem. Ela, sem dúvida, é hoje um dos nomes mais importantes do cinema norte-americano. Pratica, à sua maneira, uma arte de resistência, na medida que, sem apelar para reducionismos e superficialidades, não se recusa a olhar para o tumulto e os conflitos raramente presentes na tela. E também por ter escolhido em seus trabalhos mais recentes narrar acontecimentos verídicos ela tem assumido o compromisso com um cinema que tem raízes no documentário. Nesse sentido, ela deve algo ao britânico Paul Greengrass, o realizador de Capitão Phillips e também de outros filmes nos quais utilizou uma técnica narrativa que procura imitar o documentário. Certamente não é por acaso que o fotógrafo de Detroit, Barry Ackroyd, trabalhou com aquele diretor no filme citado e também em Voo United 93, no qual era reconstituído, inclusive com a participação de técnicos que estavam nos aeroportos no dia 11 de setembro de 2001, a trajetória de um dos aviões sequestrados.
Mais uma vez trabalhando sobre um roteiro escrito por Mark Boal, a realizadora agora volta ao passado para falar do presente. Ela reconstitui, inclusive com a utilização de imagens captadas na época, os acontecimentos ocorridos em julho de 1967, quando a cidade de Detroit foi palco de uma violência que a transformou num cenário de guerra e também de um ato de brutalidade praticado num motel por agentes policiais. Se nos filmes anteriores a realidade era reconstituída através de uma narrativa na qual predominava o método de encenação tradicional, utilizado de forma brilhante, agora Bigelow radicaliza. Tudo é registrado como se fosse a câmera de um documentarista que estivesse em ação. E nas cenas em que os intérpretes predominam a direção procura antes de tudo aquela espontaneidade que transforma atores e atrizes em personagens. O método empregado funciona com perfeição, mas tal virtude não é o único mérito do filme, que procura, além da dramaticidade, uma reflexão sobre o que aconteceu naqueles dias, principalmente os assassinatos no Algiers, o motel no qual o despreparo de policiais originou a tragédia.
Ao abordar o tema do racismo, Bigelow talvez tenha se lembrado de O ódio é cego, um clássico de Joseph L. Mankiewicz, realizado em 1950, filme pioneiro por vários motivos. Mas a questão do racismo não esconde outros temas dos quais o filme também se aproxima, entre eles o da justiça. Praticamente divididos em três partes - a revolta, os acontecimentos no motel e a investigação seguida do julgamento- o filme conduz o espectador até a absolvição dos culpados. Esta crítica à justiça humana, serva de rituais e obediente à habilidade verbal, não é a única referência ao tema da encenação. O revólver de mentira não é apenas um truque destinado a assustar outros personagens e iludir o espectador. A partir de um determinado momento, a encenação se intromete no mundo real e termina causando a reação que será concluída com atos de extrema violência. Na essência se trata de um espetáculo sem conclusão. O cantor de um conjunto musical não encontra a plateia procurada e a própria sociedade se mostra distante de uma solução. É quando o filme adquire uma indiscutível atualidade. A farsa encenada pelos policiais também termina em realidade, quando um deles se transforma em assassino. Este espetáculo de irracionalidade e violência termina se constituindo em documento revelador de um mundo no qual o descontrole é peça fundamental e o caos reina num cenário de sangue e ruínas.
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