Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 13 de Outubro de 2017 às 15:16

Revolta e milagre

Hélio Nascimento destaca os cenários do filme estrelado por Ryan Gosling

Hélio Nascimento destaca os cenários do filme estrelado por Ryan Gosling


SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO/JC
Realizado em 1982, Blade Runner, de Ridley Scott, foi saudado por muitos, na época, como um novo título excepcional do realizador e também como outro momento notável do gênero da ficção-científica no cinema, que havia alcançado 12 anos antes, com 2001: uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, seu ponto mais alto, até hoje insuperável. Aqui mesmo, neste espaço, ele foi recebido como uma obra-prima e se parte da crítica, naquele tempo ainda marcada por certo preconceito com o cinema de língua inglesa e disposta a reverenciar mesmo filmes menores falados em outros idiomas, ignorou seus méritos, tal fato não impediu que, com o passar dos anos, os novos espectadores colocassem o filme no lugar merecido. Baseado em original de Philip K. Dick, a obra teve dois roteiristas: David Peoples e Hampton Fancher. Peoples seria mais tarde o roteirista de Os imperdoáveis, de Clint Eastwood, e Fancher está de volta, como autor do argumento e do roteiro para esta segunda parte, Blade Runner 2049. Scott, no entanto, cedeu o posto de direção para um dos mais expressivos nomes da nova geração de cineastas, o canadense Denis Villeneuve. O cineasta do primeiro filme, nascido em 1937 e ainda em atividade como diretor, preferiu permanecer na função de produtor executivo. O resultado é um filme de méritos inegáveis que, mesmo não podendo ser comparado ao original, hoje um clássico, é obra digna do talento de um cineasta que, desde que realizou Incêndios, uma notável e impactante variação do tema edipiano, ocupa posição destacada no cinema contemporâneo.
Realizado em 1982, Blade Runner, de Ridley Scott, foi saudado por muitos, na época, como um novo título excepcional do realizador e também como outro momento notável do gênero da ficção-científica no cinema, que havia alcançado 12 anos antes, com 2001: uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, seu ponto mais alto, até hoje insuperável. Aqui mesmo, neste espaço, ele foi recebido como uma obra-prima e se parte da crítica, naquele tempo ainda marcada por certo preconceito com o cinema de língua inglesa e disposta a reverenciar mesmo filmes menores falados em outros idiomas, ignorou seus méritos, tal fato não impediu que, com o passar dos anos, os novos espectadores colocassem o filme no lugar merecido. Baseado em original de Philip K. Dick, a obra teve dois roteiristas: David Peoples e Hampton Fancher. Peoples seria mais tarde o roteirista de Os imperdoáveis, de Clint Eastwood, e Fancher está de volta, como autor do argumento e do roteiro para esta segunda parte, Blade Runner 2049. Scott, no entanto, cedeu o posto de direção para um dos mais expressivos nomes da nova geração de cineastas, o canadense Denis Villeneuve. O cineasta do primeiro filme, nascido em 1937 e ainda em atividade como diretor, preferiu permanecer na função de produtor executivo. O resultado é um filme de méritos inegáveis que, mesmo não podendo ser comparado ao original, hoje um clássico, é obra digna do talento de um cineasta que, desde que realizou Incêndios, uma notável e impactante variação do tema edipiano, ocupa posição destacada no cinema contemporâneo.
A situação básica do primeiro filme é retomada sem que repetições prejudiquem a narrativa. Um texto informa o espectador, antes de a ação começar, que os primeiros replicantes foram substituídos por outros mais submissos e, portanto, mais aptos a executar tarefas sem manifestar qualquer gênero de contestação. Toda uma sociedade é, portanto, organizada de forma que a engrenagem se movimente sem nenhum tipo de perturbação. O novo protagonista tem a mesma função do protagonista do primeiro filme. É um títere encarregado de exterminar os antigos replicantes, que ainda existem, alguns ocultos em atividades nada ameaçadoras, mas sua simples presença será sempre uma ameaça. A sequência inicial lembra, de certa forma, o prólogo de outro filme admirável, Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino, e não apenas por ser rural o cenário. O policial vivido por Ryan Gosling é o instrumento do sistema em ação, controlado para tirar de cena os elementos indesejáveis. Depois, a prospecção do terreno causa uma descoberta inesperada, um sinal de vida e a revelação de que os títeres podem adquirir existência autônoma. A ideia do filme anterior é então retomada, pois o que o espectador acompanhará é uma jornada penosa na busca do sinal revelador e da verdade oculta.
Uma sociedade organizada através do trabalho mecânico é vista de uma forma a não deixar dúvida sobre seu fracasso. O relacionamento é obtido através de um programa de computador, que quando acionado se manifesta através do tema principal do Pedro e o lobo, o conto infantil musicado por Prokofiev, uma clara referência ao fato de os replicantes não terem uma infância ou a possuírem mediante um implante de memória. O filme de Villeneuve é também um daqueles que se manifesta principalmente através do cenário. O mundo anterior, representado por figuras bastante conhecidas e com imagens preservadas no cenário onde vive escondido o primeiro caçador, desapareceu. A sociedade parece mergulhada num caos urbano onde predomina o tumulto e tudo é artificial. A revolta das figuras mecânicas é assim um símbolo da inconformidade humana diante de grande fracasso, um tema caro ao gênero do qual o filme faz parte. Essas figuras artificiais criadas pela técnica parecem mais humanas que seus criadores, cuja figura mais importante é um poderoso sem visão. E mesmo que na conclusão o filme procure sem alcançar a grandeza do sacrifício do personagem de Rutger Hauer no filme anterior, o essencial é mostrado ao espectador. E o encontro com a filha, encenado de forma a não permitir excessos, é um uma forma de resistência e um recomeço necessário.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO