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tecnologia

- Publicada em 30 de Outubro de 2017 às 08:20

Competição acirrada ameaça apps de mobilidade


UBER/DIVULGAÇÃO/JC
Os consumidores que, na ausência de carro próprio, até poucos anos atrás, dependiam do transporte público e dos táxis para se deslocar pelas cidades, vivem uma espécie de paraíso na terra. A competição acirrada entre aplicativos de mobilidade, como Uber, Cabify, Easy e 99, tem como reflexo imediato preços mais baixos e uma preocupação maior com a qualidade do serviço ofertado - já que as empresas precisam se superar para não serem atropeladas pela concorrência.
Os consumidores que, na ausência de carro próprio, até poucos anos atrás, dependiam do transporte público e dos táxis para se deslocar pelas cidades, vivem uma espécie de paraíso na terra. A competição acirrada entre aplicativos de mobilidade, como Uber, Cabify, Easy e 99, tem como reflexo imediato preços mais baixos e uma preocupação maior com a qualidade do serviço ofertado - já que as empresas precisam se superar para não serem atropeladas pela concorrência.
Fazer a solicitação do transporte com alguns cliques no celular, entrar em um carro geralmente bem cuidado e com um motorista atencioso são alguns dos benefícios que vêm sendo celebrados pelos usuários nos últimos anos. Muitos, inclusive, estão vendendo seus automóveis, o que vai ao encontro do conceito da economia do compartilhamento, na qual as pessoas deixam a ter a posse de objetos e passam a usufruir deles apenas nos momentos em que precisam.
Todos querem captar os consumidores, e as estratégias agressivas para se manter em crescimento suscitam questionamentos de pessoas que acompanham o setor. "É uma briga de foice, o que é preocupante, pois esse modelo não se sustentará no longo prazo", alerta Tallis Gomes, fundador do primeiro aplicativo de mobilidade urbana do Brasil, o Easy Táxi.
A empresa, quando foi vendida por ele, estava presente em 420 cidades, tinha 20 milhões de clientes e já havia captado US$ 85 milhões em recursos. Um dos motivos que o fizeram sair do negócio foi justamente ver os rumos que o mercado tomava. "Esse segmento já estava descambando naquela época para uma dinâmica que não me agradava", diz o empreendedor, que foi eleito em agosto o jovem mais inovador do mundo pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Hoje, ele é o CEO do Singu, um marketplace de beleza e bem-estar que conecta profissionais do ramo a consumidores por meio de um aplicativo.
O country manager da Cabify Brasil, Daniel Velazco Bedoya, também demonstra preocupação com o comportamento de parte dos concorrentes em relação ao preço. Segundo ele, a Cabify trabalha com uma política de valores mais baixos e descontos apenas como atrativo inicial, no momento em que chega em um novo mercado.
"É uma estratégia de entrada, mas esse não é o nosso modelo de atuação no médio e longo prazo. Já players como Uber e 99 colocam os preços lá embaixo, e isso deprecia o mercado inteiro", critica. Segundo ele, empresas que atuam nesse setor precisam pensar nos motoristas e nas suas margens, até porque eles dependem de renda, inclusive, para poder investir em veículos melhores com o tempo. "O problema de mobilidade na sociedade é eterno, não é algo de um ou dois anos. Vemos claramente que ter essa visão será um diferencial nosso para a sustentabilidade dos negócios", projeta Bedoya.
A gerente regional de Relações Públicas da 99, Ana Carla Lopes, diz que, quando um passageiro seleciona app de mobilidade, ele olha preço, mas também diferenciais. No caso do 99, a executiva destaca a existência de uma área criada para desenvolver soluções para melhorar experiência dos usuários com foco na prevenção. São recursos como o que permite ao motorista desabilitar pagamento em dinheiro e reabilitar quando achar necessário. Se estiver em área que ele considera perigosa, pode desabilitar.
"A concorrência é muito benéfica para os passageiros, que conquistam a liberdade de escolher o serviço que atende melhor a sua necessidade; e para os motoristas, que podem ampliar a renda ao trabalhar em mercado em expansão. Acredito na livre concorrência. É a demanda e o desejo dos usuários e passageiros que vão fazer esse mercado prosperar, independentemente de preço", aponta.

Números dos quatro principais aplicativos disponíveis no país

Uber
  • Origem: Estados Unidos
  • Início das operações no Brasil: Junho de 2014
  • Cidades: Mais de 100, incluindo todas as capitais estaduais, o Distrito Federal e suas respectivas regiões metropolitanas
  • Categorias: uberX, uberX VIP, uberPool, UberSelect e UberBlack
  • Motoristas cadastrados: Mais de 500 mil (out/2017)
  • Usuários: 17 milhões (set/17)
  • Faturamento global: US$ 20 bilhões (2016)
  • Mais recente investimento: US$ 3,5 bilhões (2016), dado não oficial
Cabify
  • Origem: Espanha
  • Início das operações no Brasil: Junho de 2016
  • Cidades: São Paulo ABC Paulista, Santos, São Vicente, Campinas, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília.
  • Categorias: Lite, Empresas, Express e CabiFly
  • Motoristas cadastrados: Mais de 200 mil
  • Usuários: Mais de 2 milhões Faturamento global: não revela
  • Mais recente investimento: US$ 200 milhões (2017)
99
  • Origem: Brasil
  • Início das operações: 2012
  • Cidades: Mais de 400
  • Categorias: 99Táxi, 99POP, 99TOP e Modo Desconto (Táxi)
  • Motoristas cadastrados: Mais de 300 mil
  • Usuários: 14 milhões registrados no app
  • Faturamento: Não informa
  • Mais recente investimento: Maio de 2017, totalizando US$ 100 milhões da Softbank
Easy
  • Origem: Brasil
  • Início das operações: 2012
  • Cidades: 350 cidades no Brasil
  • Categorias: Táxi
  • Motoristas cadastrados: 140 mil no Brasil
  • Usuários: mais de 25 milhões de downloads (dado global)
  • Operação mundo: Presente em 11 países da América Latina
  • Faturamento: Não informa
  • Mais recente investimento: Não abre este dado

Mercado brasileiro está consolidado e em expansão

Operação brasileira, a 99 conta com 300 mil motoristas em 400 cidades

Operação brasileira, a 99 conta com 300 mil motoristas em 400 cidades


99TAXIS/99TAXIS/DIVULGAÇÃO/JC
Logo depois que foi criado o Easy Táxi, o primeiro app de mobilidade urbana do Brasil, em 2012, o País chegou a ter mais de 100 empresas atuando nesse setor. Hoje, o cenário é de consolidação, com Uber, Cabify, 99 e Easy dominando o mercado, e alguns aplicativos menores tentando um lugar ao sol. "O Brasil tem um dos mercados mais competitivos do mundo nessa área, na medida em que são quatro grandes players investindo e atuando em praticamente o mesmo segmento", analisa o diretor de operações da Easy no Brasil, Bruno Mantecón.
O sócio e responsável pela área de tecnologia na América Latina da KPMG, Claudio Soutto, comenta que, como atualmente é relativamente fácil montar um negócio, muitos empreendedores acham que basta ter uma boa ideia para ser bem-sucedido. Como se o simples fato de ter uma estrutura mais leve - leia-se uma startup - já bastaria.
"Não existe tíquete premiado para todos. Esse período entre a criação de uma operação, o investimento e o momento em que a empresa gera resultados é de muito sacrifício. É preciso ter uma boa política de reconhecimento de receita, marketing, estabelecimento de preços e manutenção da qualidade", aconselha.
No caso de uma operação de mobilidade urbana, por exemplo, desenvolver o aplicativo é a parte mais trivial. "A grande questão quando se pensa no transporte urbano é ter um sistema de roteamento e mapeamento de múltiplas cidades capaz de gerar respostas em tempo real e rapidamente; e que resulte em tempo mínimo possível de viagem e aumente ao máximo a operação", analisa o cofundador da Paradoxa, uma aceleradora de negócios inovadores, José Cesar Martins.
É um mercado exigente e em constante transformação. O jogo ainda está aberto. "O Uber sacudiu o mercado, mas não temos um vencedor definitivo, ainda mais agora, com a iminência do veículo autônomo com iniciativas que estão envolvendo empresas de tecnologia e montadoras", diz Martins.
Alguns players mundiais começam a testar modelos diferentes, como na Finlândia e Israel, em que as empresas atuam com bandeira própria em alguns mercados, mas como habilitadores de tecnologias, fornecendo a solução para outras marcas se expandirem pelo mundo. É um pouco como tem agido o Lift, grande concorrente do Uber nos Estados Unidos.
O mercado está em ampla expansão, mas Martins acredita que a confiança de despejar dinheiro nestes players, como o Uber levantou até o ano passado, não é mais a mesma. "Mesmo o Uber, que já foi visto como o novo Google, hoje enfrenta a desconfiança por uma série de atrapalhações que fez e por sua postura agressiva", acrescenta.
 

Empresas apostam em coexistência de modelos

Bedoya acredita que ainda há espaço para novas ferramentas serem criadas

Bedoya acredita que ainda há espaço para novas ferramentas serem criadas


/CABIFY/DIVULGAÇÃO/JC
Se a sustentabilidade dos negócios, em função da guerra de preços, preocupa algumas empresas, há um quesito em que todas são unânimes: as imensas oportunidades de mercado que vêm pela frente. Apenas 4% de todos os quilômetros dirigidos em todo o mundo são feitos por plataformas de mobilidade urbana compartilhada, apontam dados do banco Morgan Stanley.
"O tamanho deste mercado é o mesmo da quantidade de carros subutilizados que existem na cidade de São Paulo, por exemplo, que tem mais de 8 milhões de automóveis. Acreditamos que muitas pessoas deixar o carro em casa para usar veículos compartilhados", afirma a área de Comunicação da Uber, empresa que desbravou esse mercado no mundo e que ainda não viu saturação mesmo em cidades onde está há muito tempo, como Nova Iorque.
As fronteiras estão sendo quebradas, e há espaço para novas ferramentas serem criadas, acredita o country manager da Cabify Brasil, Daniel Velazco Bedoya. Ele chama esse momento de batalha tecnológica, quando aparecem diversas empresas com vários tipos de soluções, cada uma entendendo o mercado de um jeito. Nesse caso, há oportunidades para diferentes cestas de consumo serem exploradas, para alguém que deseja um carro mais barato, busca mais qualidade ou um serviço segmentado.
Em um mercado em franca expansão, a coexistência de transportes é uma tendência, acredita a gerente regional de Relações Públicas (RP) da 99, Ana Carla Lopes. A plataforma reúne táxis e carros particulares. "Estamos abertos a outras opções que atendam às necessidades do usuário. Ao prover diferentes soluções, vamos devolver qualidade de vida às pessoas para elas perderem menos tempo no transito".
Nem sempre, porém, o mercado está maduro o suficiente para receber algumas soluções. O empreendedor e cofundador da Paradoxa, José Cesar Martins, chegou a estar à frente do projeto Bora, que pretendia unir o melhor do transporte coletivo e individual. Os carros tradicionais dariam lugar a vans de até 12 lugares, permitindo o deslocamento de um maior número de pessoas. Para solicitar o serviço, o usuário entraria no aplicativo, colocaria o local de origem e um sistema inteligente identificaria o melhor veículo cadastrado para atender à rota desejada. Tudo com mais conforto e segurança do que o serviço oferecido atualmente no transporte coletivo brasileiro. O app foi inspirado em uma empresa finlandesa.
Mas as dificuldades fizeram com que o projeto fosse colocado de lado pelos sócios (peso pesados do mercado de tecnologia nacional, como Sérgio Pretto, um dos pioneiros da internet brasileira, e o jovem empreendedor Anthony Ling). "O Brasil vive um colapso no transporte público, e essa era a oportunidade para tirarmos os carros das ruas e viabilizar cidades, mas trombamos com operadores reativos e fechados à inovação", critica. Segundo Martins, a plataforma foi desenvolvida, mas a empresa percebeu que teria que investir muito para quebrar essas barreiras e por longos períodos sem geração de resultado. "Não deu agora. Talvez mais adiante", projeta.

Easy é o único entre os grandes a investir apenas em táxis

Easy sorteia prêmio de R$ 15 mil para novos usuários

Easy sorteia prêmio de R$ 15 mil para novos usuários


Easy taxi/Easy taxi/divulgação/jc
A Easy é o único entre os quatro maiores players de apps de mobilidade no País que não atua no segmento de carros particulares. O foco é o táxi. Para o diretor de operações da companhia no Brasil, Bruno Mantecón, essa decisão envolve a estratégia de não brigar por preço como, segundo ele, fazem Uber e 99Pop.
"Vários países já viveram o que estamos vendo agora. Houve um boom na oferta de serviços de automóveis populares, a competição se acirrou, os preços baixaram, e a percepção de qualidade pelos consumidores baixou. E eles voltaram a usar táxi", avalia.
A forte concorrência no segmento de carros particulares levou à queda da qualidade e, consequentemente, ao aumento da relevância do mercado de táxi. A avaliação é do diretor de marketing da Easy no Brasil, Leonardo Martins.
"Percebemos a oportunidade e reforçamos nossa relação com esses profissionais, investindo em capacitação e ações promocionais", cita. Segundo ele, o taxista é um profissional, e não alguém que está apenas atuando nesse mercado para aumentar a renda. "Eles são uma referência para a cidade, conhecem as áreas de perigo e entendem a dinâmica", relata.