O alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, denunciou ontem, durante a abertura da 36ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, que o tratamento de Mianmar à minoria muçulmana rohingya se assemelha a um "exemplo clássico de limpeza étnica". Da mesma forma, pediu uma investigação internacional sobre o uso excessivo de força pelas autoridades na Venezuela.
De acordo com a ONU, mais de 300 mil rohingyas fugiram para Bangladesh desde o fim de agosto, quando a crise humanitária em Mianmar se intensificou após confrontos entre grupos da minoria étnica e o Exército do país. "Como Mianmar impediu o acesso dos investigadores especializados em direitos humanos, não posso fazer uma avaliação atual, mas a situação parece um exemplo clássico de limpeza étnica", disse Hussein.
Os rohingyas não têm direito a cidadania e são considerados por muitos como imigrantes ilegais em Mianmar - país onde mais de 90% da população se declara budista -, apesar da presença de algumas famílias há várias gerações na região. Eles não têm acesso a hospitais, escolas, nem ao mercado de trabalho.
A crise se agravou no dia 25 de agosto, quando rebeldes do grupo Exército de Salvação Arakan Rohingya atacaram postos policiais em Mianmar. Após o embate, o Exército birmanês reagiu com uma grande operação no estado de Rakhine, uma região pobre e remota do país. Segundo dados oficiais, centenas de pessoas morreram.
Em relação à Venezuela, a ONU já havia denunciado violações de direitos humanos do presidente Nicolás Maduro em agosto, após a repressão a protestos da oposição. Em crise, os protestos contra o governo se intensificaram quando grupos se mobilizaram contra a Assembleia Nacional Constituinte, que deve reescrever a Constituição venezuelana e foi instalada no começo de agosto.
Durante seu discurso, Hussein atacou o governo de Caracas e pediu que se crie uma investigação internacional sobre a situação na Venezuela. Essa é a primeira vez que um representante da ONU aponta para tal dimensão dos crimes cometidos no país. Hussein lembrou que, em uma recente apuração realizada por seu escritório, o governo venezuelano foi acusado de "uso excessivo da força", e "várias outras violações de direitos humanos".
Segundo ele, ainda que a ideia de uma Comissão Nacional da Verdade seja um conceito que ele apoie, o modelo proposto na Venezuela é "inadequado". "Peço ao Conselho de Direitos Humanos que instaure uma investigação internacional sobre as violações no país", pediu.
A recomendação será examinada pela entidade em Genebra. No entanto, o governo venezuelano promete angariar seus aliados para frear a proposta.